Os tempos bicudos impostos pela economia brasileira indicam que a festa desta quinta-feira será bem mais modesta do que supunham os mais críticos à inflação alta de 2015. Em surpreendente queda de preços neste ano, eletroeletrônicos e a carne de porco ergueram uma barreira aos reajustes que costumam influenciar a cesta típica de consumo no Natal. Para a surpresa até mesmo de quem acompanha de perto o orçamento doméstico, por falta de demanda as remarcações de alguns produtos importantes no cálculo do custo de vida perderam fôlego, como é o caso dos eletrodomésticos e os próprios alimentos.
Autor do estudo feito há seis anos a pedido do Estado de Minas, o analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Antonio Braz de Oliveira e Silva observou que boa parte dos produtos de consumo não essenciais teve de se adaptar, muitas vezes com promoções ou redução efetiva de preços, à perda de renda das famílias. Esse empobrecimento se deveu, em parte, aos grandes reajustes de itens e serviços que não é possível evitar no dia a dia, a exemplo da energia elétrica, combustíveis e transportes. O crédito caro no comércio também afetou as vendas de eletroeletrônicos, o que ajudou a conter os preços.
O levantamento da cesta que resultou na inflação do Natal na Grande Belo Horizonte foi realizado com base no IPCA-15 acumulado de janeiro a novembro, em comparação a dezembro do ano passado, base também usada para estimar a taxa em 2014. No Natal da recessão de 2015, alguns produtos ajudaram a salvar o bolso dos quem têm condições de bancar a festa e presentear.
No grupo da comida típica, a carne de porco e o presunto sofreram queda de preços de 1,35% e 5,51%, respectivamente, enquanto o frango encareceu 0,57%, evolução bem modesta na comparação com a elevação de 9,03% no ano passado. As frutas tiveram reajuste de preços de 2,65%, na média, ante 4,74% nos primeiros nove meses de 2014, comparados a dezembro de 2013.
Preços administrados
Parte considerável da inflação deste ano é puxada pelos preços que o governo administra (de combustíveis, energia e transportes, entre outros), observa Antonio Braz e Silva. “Como o consumidor perdeu renda para os aumentos desses preços, os demais produtos e serviços tiveram de se adequar e desde o ano passado as empresas não conseguem repassar aumentos como antes”, afirma.
Essa realidade parece mais perceptível no varejo de bens duráveis de consumo. Os preços de televisores, aparelhos de som, equipamentos de informática e aparelhos telefônicos recuaram, em média, 4,63% neste ano até o mês passado. No grupo de eletrodomésticos, os reajustes foram de 5,41% de janeiro a novembro, quando no ano passado sofreram alta de 9,58%.
O consumidor, de fato, tem rejeitado as remarcações e abusado da pesquisa de preços, a exemplo do comerciante Cícero Domingos, de 52 anos, que, na semana passada já estava pesquisando os preços da ceia no Mercado Central de Belo Horizonte. “Neste Natal, vou pesquisar preços e só depois escolher o que comprar. De modo geral tudo encareceu e ainda não me decidi se vou comprar um pernil ou uma leitoa. A opção será pela carne que estiver mais barata e só compro na véspera da festa”, disse.
A decoradora Fátima Andrade, 60, percebeu que um dos ingredientes da ceia de Natal da família baiana, o queijo canastra, manteve o preço neste ano. De passagem por BH ela ficou encarregada de comprar a iguaria mineira. Os preços estão praticamente estáveis, segundo a consumidora, em relação a junho, quando ela comprou pela última vez o queijo canastra de São Roque de Minas. “Em média, os preços variam entre R$ 14 e R$ 19 o quilo, dependendo da região onde o queijo foi fabricado”, afirma.