As demissões no estaleiro Brasfels foram mais um golpe na economia de uma cidade já combalida pela paralisação das obras da usina nuclear de Angra 3, no fim de setembro deste ano. A suspensão das atividades deixou aproximadamente 2 mil trabalhadores da construção civil de braços cruzados desde o início de outubro, segundo informações do sindicato local fornecidas à prefeitura de Angra dos Reis.
Segundo as autoridades, um esquema de corrupção envolvendo ex-funcionários da Eletronuclear e executivos das construtoras que integram o consórcio Angramon (Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Techint, UTC Engenharia e EBE) teria resultado em pagamentos de propina e favorecimento dessas empresas.
O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, visitou o canteiro de obras de Angra 3 em meados de dezembro. Guindastes e máquinas de grande porte estão parados. Apenas funcionários que fazem a manutenção dos equipamentos seguem trabalhando.
Algumas edificações, como salas de controle, estão prontas. Mas o compartimento principal, onde ficará o reator - coração de uma usina nuclear -, ficou pela metade. Outros prédios previstos no projeto estão apenas na fundação. A previsão anterior de inauguração, 2018, torna-se cada vez mais inatingível. Segundo dados da Eletronuclear disponibilizados na internet, 58,4% do empreendimento foram concluídos até setembro.
As obras já vinham caminhando a passos lentos desde o início do ano. Em agosto, antes da suspensão oficial, cinco das sete empresas que formam o consórcio Angramon já haviam abandonado o local. Continuaram apenas UTC e EBE. Agora, a estagnação é total. A Eletronuclear não se pronunciou até a publicação desta reportagem.
Mais uma vez parada no tempo, a obra de Angra 3 também passou a abastecer menos os cofres da prefeitura. Desde o início do ano, a média mensal de ISS pago pela Eletronuclear caiu de R$ 2,8 milhões para R$ 2,3 milhões. No total, a Secretaria Municipal de Fazenda estima que deixou de arrecadar R$ 3,5 milhões até novembro deste ano.
"A maioria da nossa população não vive do turismo. A gente vive aqui de Angra 3, da pesca, do comércio, da construção naval e do porto. Se uma dessas falha, com certeza há uma lacuna, e essa lacuna prejudica e muito nossa população", afirma o secretário municipal de Atividades Econômicas, Marcelo Oliveira.
Com dois de seus subsistemas dando sinais de curto-circuito, Angra dos Reis teme trilhar pelo mesmo caminho que Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde a interrupção das principais obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) resultou em milhares de desempregados e um imenso problema social, já que trabalhadores vindos de outros estados não tinham sequer dinheiro para voltar para casa.
A prefeitura de Angra dos Reis, porém, mantém o tom de otimismo. "Já vivemos momentos de crise no estaleiro e a cidade não parou. A gente ficou 20 anos sem Angra 3 e a cidade não parou, continuou crescendo, desenvolvendo", diz Oliveira.