Rio, 12 - O corte de 24% nos investimentos da Petrobras até 2019 pode representar o ponto limite para a indústria brasileira de equipamentos e máquinas ligadas à cadeia de fornecedores da estatal. A avaliação é do diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado Neto. Segundo ele, o corte nos investimentos após quase dois anos de paralisia nas encomendas do setor põe em risco empregos e a sustentabilidade da indústria no longo prazo. "Pior que investir pouco, é não investir nada. E houve uma parada nos últimos anos", avalia.
Segundo Machado, a indústria depende de mão de obra de formação complexa e segura os empregos enquanto vê perspectivas de retomada. "Se vejo que em dois anos terei encomendas, você segura, adota medidas para suspensão temporária do emprego. Não há esse horizonte de retomada que possa dar um alento. Até 2014, existia segmentos que poderiam se segurar com outras encomendas, como celulose, álcool e alimentos. Com a retração generalizada da economia, não tem mais esse colchão. Está todo mundo no limite do que resta de esperança. Daqui a pouco a indústria não aguenta mais", pondera.
Segundo ele, a nova versão do plano de negócios da Petrobras não traz informações "sólidas" sobre quais os projetos estão mantidos e qual o perfil de compras e encomendas para os investimentos, o que dá insegurança para os empresários em relação ao parque industrial nacional. "Entendo que a Petrobras precise recuperar a capacidade financeira para investimentos, mas tem que gastar bem e isso não tem sido feito. Por isso é importante saber quais os projetos e a demanda por equipamentos que constam no plano para integrar o planejamento. Se cada um só quer resolver seu problema, sem diálogo, a crise só piora".
Machado ainda avalia que o ideal para a indústria é "melhorar a eficiência dos processos de contratação da empresa". Ele lembra que a indústria de equipamentos ainda sofre com uma inadimplência de contratos antigos sem solução e está sufocada com as altas de juros "em dose que tem transformado remédio em veneno".
"Não pode olhar a compra no ato do investimento, o importante é pensar em 20 anos, para não depender de importação e política de hedge. É importante que sejam dadas as condições, tanto do ponto de vista do governo, com uma taxa de juros adequada, tributação e financiamento, como da própria Petrobras, com a simplificação das contratações e prioridade ao conteúdo nacional. A cadeia de valor da indústria não tem recebido esses investimentos", completa.