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Estado de Minas

Sem minério e aço, Minas cai para 14º lugar como opção de investimento

Estudo da Fiemg mostra que 63,5% do valor gerado pela indústria do estado está nas mãos de apenas quatro setores: mineradoras, metalúrgicas, fabricantes de veículos automotores e de alimentos


postado em 17/01/2016 06:00 / atualizado em 17/01/2016 08:06

Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana expôs a fragilidade da estrutura industrial mineira, bem mais dependente de poucos segmentos do que a média nacional(foto: CBMMG/Divulgação)
Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana expôs a fragilidade da estrutura industrial mineira, bem mais dependente de poucos segmentos do que a média nacional (foto: CBMMG/Divulgação)

O trabalho incessante nas reservas minerais de Minas Gerais, a despeito de preços que desabaram no mercado internacional e da grande repercussão do desastre provocado em Mariana pelo rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, joga por terra o consenso de que minério não dá duas safras. A frase célebre, ainda propagada, foi cunhada nos anos 20 pelo então presidente Artur Bernardes (1922-1926), mas o avanço da mineração no estado mostra que ele estava enganado. Em Minas, a exploração do minério de ferro não só está na terceira safra em áreas de Itabira, berço das operações da multinacional brasileira Vale, como lidera um grupo restrito de atividades responsáveis por quase dois terços do valor que toda a produção industrial agrega no estado.

Esse carro-chefe que faz girar a indústria e, com ela, a economia em Minas  é conduzido pela mineração, junto às usinas metalúrgicas e os fabricantes de veículos automotores e de alimentos. A concentração da produção de Minas nas mãos desses quatros setores não encontra paralelo nos principais estados, representando 63,5% do chamado Valor da Transformação Industrial (VTI) mineiro, revela estudo feito pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) - veja o quadro.

Na média do Brasil, os principais segmentos da indústria concentram 54,7% das operações da indústria, que tem influência direta na produção de bens e serviços, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB). Dos estados selecionados para o levantamento dos dados, o estado que mais se aproxima do caso de Minas é o Rio de Janeiro, onde os quatros principais setores concentram 62,4% do valor gerado pela indústria. No extremo oposto, estão Santa Catarina e São Paulo, com índices de concentração de 45,4% e 47,2%, respectivamente.

Os números resultaram do cruzamento das estatísticas mais recentes disponíveis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho e Previdência Social entre 2007 e 2013. Mostram que a concentração da produção aumentou em Minas nesse período, segundo o gerente do Departamento de Economia da Fiemg, Guilherme Veloso Leão. “Minas mantém uma concentração industrial superior à média dos estados analisados. Se esse fenômeno propicia risco maior para a economia, por outro lado pode significar mais especialidade e capacidade de ser competitiva”, afirma.

Os riscos preocupam o governo estadual, segundo o secretário de estado de Desenvolvimento Econômico, Altamir de Araújo Rôso Filho, e não é por pouco. Pelas projeções da equipe da pasta, sem a mineração e a metalurgia, Minas perderia o posto de terceira economia que mais recebe investimentos no Brasil, descendo ao 14º lugar do ranking dos estados que mais atraem investidores. A palavra de ordem colocada nos planos para estimular o desenvolvimento econômico é diversificação, algo que vários outras administrações apresentaram como prioridade, sem sucesso , tendo em vista a concentração identificada no estudo da Fiemg.

“Esse acidente (o rompimento da barragem da Samarco em Mariana) mostra toda a nossa fragilidade. A indústria da mineração, em geral, será impactada com revisão de processos”, afirma o secretário Altamir Rôso. O planejamento no qual ele trabalha, pela proposta do governador Fernando Pimentel, cria 17 regiões em Minas com potencial de desenvolvimento econômico, que está sendo avaliado para compor uma política estadual de incentivos. O programa deverá estar pronto em junho.

FOCO NA DIVERSIFICAÇÃO
Como era de se esperar, a localização do estado e as largas malhas rodoviária e ferroviária de Minas terão de ser aproveitadas, de acordo com Altamir Rôso, para viabilizar as ideias em estudo. “Teremos um grande trabalho para atacar que implica muito investimento em inovação e tecnologia”, diz o secretário de Desenvolvimento. Guilherme Leão, da Fiemg, defende que qualquer programa para induzir a diversificação da produção mineira seja orientado na direção dos quatros principais setores que atuam no estado.


Significa dizer que o estímulo governamental deveria mirar, por exemplo, serviços de engenharia, fornecimento e produção de máquinas para mineração, siderurgia e a indústria de alimentos, além de uma cadeia de negócios capitaneados pela indústria automotiva indo além da fabricação de autopeças, segmento já importante para a indústria no estado. “As grandes empresas de mineração, alimentos e metalurgia estão aqui. Não seria melhor trabalhar em áreas alinhadas a elas do que querer ser forte em outros setores?”, indaga Guilherme Leão. Há que se considerar, como observa o economista da Fiemg, o avanço de segmentos novos em termos de crescimento da produção, como o farmacêutico, eletroeletrônico, ferroviário e de tecnolgia da informação, apesar da participação modesta em relação às indústrias tradicionais.

 

Lições da tragédia

O Brasil tem muito a aprender com o vazamento dos rejeitos de minério de ferro da Samarco em Mariana, e uma das primeiras lições é a necessidade de desenvolver tecnologia para o aproveitamento de todo o material retirado das rochas pelas empresas, alerta José Mendo Mizael de Souza, consultor em mineração e presidente da Comissão de Mineração e Metalurgia da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (AC Minas). “Minas tem de se reconciliar com suas montanhas. Cada vez mais a evolução da sociedade exige isso”, afirma. Para Mendo Mizael, a tragédia reforça que se precisa de uma ação conjunta das empresas, universidades e centros de pesquisa, além do estado como indutor de investimentos, pela criação de mercado de consumo de material à base dos rejeitos da mineração.

 

 


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