Brasília e São Paulo, 22 - O levantamento feito após a decisão de estabilidade dos juros básicos realizado pelo AE Projeções sobre a previsão para a Selic no fim deste ano revela como o Banco Central perdeu a mão da condução das expectativas dos analistas. Com a consulta feita a 20 instituições financeiras, obteve-se estimativas de 11,00% ao ano a 15,75% em dezembro de 2016.
A diferença entre a projeção mínima e a máxima mostra um mercado financeiro perdido. Mais do que isso, aponta que a trajetória de recuperação da comunicação do BC, que vinha sendo até elogiada nos últimos meses, foi fortemente afetada após o comentário do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sobre a revisão das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os juros, esta semana.
Previsibilidade é ponto de partida para qualquer tipo de gerenciamento de expectativas. Não só evita soluços desnecessários no mercado como também faz os efeitos de política monetária serem mais eficazes. Assim, a diferença de quase cinco pontos porcentuais das projeções é uma sinalização de como o mercado financeiro está confuso em relação aos próximos passos do Copom.
Segundo o levantamento, a Modal Asset prevê Selic em 11% ao ano no fim de 2016; Austin Rating calcula em 11,50% e o Banco Santander, Barclays e Kinea, em 13%. No caso da Votorantim Corretora, a estimativa é de 13,25% e do Haitong, 13,75%. Para Bradesco, GAP Asset, GO Assossiados, Itaú Unibanco, Mapfre Investimentos, MB Associados, Nomura Securities, Rio Gestão, Rosenberg Associados, Sulamérica e Ventor Investimentos, nada mudará até o fim do ano e a taxa seguirá nos atuais 14,25%. Já para a Leme Investimentos, a Selic encerrará o ano em 15% e, para o BNP Paribas, em 15,75%.
Na leitura de uns profissionais, a dinâmica a partir de agora é a de baixar os juros básicos da economia. E, considerando-se que há mais sete reuniões do colegiado este ano, uma queda de 3,25 pontos porcentuais esperada pelo piso da amostragem indica que há expectativa de cortes de 0,50 ponto porcentual praticamente em todos os encontros de 2016.
Já na interpretação de outros especialistas, o BC optará pelo aperto monetário e levará a taxa básica ao final do ano para o mesmo nível de abril de 2006, quando a Selic estava em 15,75% ao ano. Essa projeção embute uma escalada mais suave do que as previsões de queda. Há, porém, um terceiro grupo, majoritário, que revisou suas planilhas depois do comentário feito por Tombini sobre o FMI e da manutenção da Selic pelo Copom na quarta-feira, 20, e que não pretende mais mudá-las até o final do ano. Ou seja, Selic ficaria estável até, pelo menos, a virada de 2016 para 2017.
Além de serem fundamentais para o regime de metas, as expectativas foram responsáveis por parte da inflação do ano passado. Segundo a carta aberta do presidente Alexandre Tombini ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, divulgada este mês, a contribuição das previsões para o IPCA de 10,67% no ano passado foi de 0,73 ponto porcentual.
Na próxima segunda-feira, o próprio BC divulgará como está o humor do mercado por meio do Relatório de Mercado Focus, elaborado com cerca de 120 instituições financeiras. Lá, o resultado das estimativas não deve ser diferente daquele que já foi adiantado pelo AE Projeções. No último boletim, o consenso era de Selic em 15,25% ao ano no fim de 2016 e de 12,88% no encerramento de 2017. A elite desses profissionais, considerada assim por mais perto chegarem ao resultado, tem números ainda mais elevados: de 15,38% para este ano e de 13% para o próximo.