Brasília – Diante da alta do dólar frente ao real, os brasileiros diminuíram suas despesas com turismo no exterior em 2015. Depois do recorde de gastos líquidos com viagens internacionais em 2014, de US$ 18,724 bilhões, a fatura dos turistas recuou 38,5% no ano passado, para US$ 11,513 bilhões – o menor resultado desde 2010 e a primeira vez que o déficit nessa conta apresentou recuo entre um ano e outro. O Banco Central, que divulgou os dados ontem, projetava um déficit de US$ 11,7 bilhões para essa conta em 2015, número ligeiramente maior que o apresentado. O recuo dessas despesas teve influência direta da alta do dólar frente o real, que apenas em 2015 subiu 48,5%. “O dólar impacta de uma forma direta na conta de viagens internacionais. A renda do brasileiro crescendo menos também impacta as viagens para o exterior”, explicou Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC.
O início da atual série histórica do BC é em 2010, quando os gastos líquidos com viagens somaram US$ 10,704 bilhões. Nos anos seguintes, o que se viu foi aumento. Apenas agora essas despesas começam a arrefecer. A expectativa da instituição é de que em 2016 ocorra mais uma desaceleração, com o saldo líquido dessa conta com um déficit ainda menor, ou seja, o brasileiro deve retrair ainda mais os gastos no exterior, para US$ 9 bilhões.
Apenas em dezembro, o desempenho da conta de viagens internacionais foi influenciado por despesas de brasileiros no exterior, que somaram US$ 1,245 bilhão; já o gasto dos estrangeiros em passeio pelo Brasil ficou em US$ 592 milhões no mês passado – a diferença entre os dois deixou um saldo negativo de US$ 653 milhões. “Em 2015, as viagens internacionais tiveram um ajuste forte. Em 2016, deve continuar a cair, mas não na mesma proporção do ano passado”, avaliou Maciel.
Ele ponderou ainda que as receitas com estrangeiros no Brasil caíram 15% entre 2014 e 2015, mas observou que isso era esperado em função da Copa do Mundo, que atraiu muitos estrangeiros para o Brasil há dois anos. Segundo ele, “pode ser que com desvalorização do câmbio (alta do dólar frente o real) seja mais atrativo visitar o Brasil”. Nos cálculos de Maciel, na comparação entre dezembro de 2014 e dezembro de 2015, a receita de estrangeiros no Brasil cresceu 10%.
Este ano, com os Jogos Olímpicos, a expectativa era de que a vinda de estrangeiros incrementasse o ingresso de divisas estrangeiras no País, assim como ocorreu na Copa de 2014. No entanto, com o avanço do número de contaminados pelo zika vírus, países participantes do torneio têm recomendado que mulheres grávidas e outros turistas evitem o Brasil.
Rombo menor
é dado positivo
Com os brasileiros gastando menos fora e o dólar caro barrando os importados o Brasil registrou no ano passado um forte ajuste internacional – o maior dos últimos 13 anos. O rombo do setor externo ficou em US$ 58,9 bilhões em 2015, 43% menor do que o déficit de US$ 104,2 bilhões visto no ano anterior. A série histórica mais atualizada do Banco Central tem início em 2010 e o resultado negativo do ano passado foi o mais baixo desde então. Para o chefe do Departamento Econômico do BC, diante de um quadro de incertezas externas e internas, a realização de um ajuste de contas externas deve ser avaliado como um fato positivo. “Foi um ajuste muito expressivo em termos anuais”, avaliou.
Além disso, Maciel lembrou que foram poucos os momentos da história em que houve um registro como o apresentado ontem. Em todos os casos em que foi verificada uma mudança “dessa relevância”, ressaltou, houve alteração do câmbio e da conjuntura econômica, como ocorreu o ano passado. Além da alta do dólar, a recessão econômica, que levou ao medo do desemprego e à perda da renda, proporcionou uma reviravolta das contas externas. “Temos dito que o câmbio é a primeira linha de defesa das contas externas, e isso ocorreu em 2015”, disse Maciel.
O economista da RC Consultores, Thiago Biscuola, salientou que a desvalorização do dólar foi determinante para a melhora no balanço de pagamentos e, mesmo que 2016 não registre uma mudança nessa taxa tão significativa, o setor externo deve mostrar nova melhora em 2016. “Provavelmente, teremos uma outra queda intensa neste ano, para cerca de US$ 38 bilhões”, previu. A projeção do BC é de um saldo negativo de US$ 41 bilhões este ano.
Na Rosenberg & Associados, há no front a possibilidade de o déficit em transações correntes este ano ser ainda menor em função de uma possível intensificação da deterioração da atividade. “A trajetória de ajuste das contas externas é saudável e não se esperam problemas no balanço de pagamentos no curto prazo”, escreveram os consultores em relatório a clientes. “As reservas internacionais e o fato de o Brasil ser credor líquido evitam uma crise ainda mais aguda do que a atravessada no momento”, acrescentaram.
Enquanto isso...
...Receita confirma
IR sobre turismo
A Receita Federal confirmou em instrução normativa que a incidência da alíquota de 25% do Imposto de Renda sobre remessas ao exterior para pagamento de prestação de serviços relacionados a viagens de turismo, negócios, serviço, treinamento ou missões oficiais está valendo desde o dia 1º de janeiro deste ano. A alíquota de 25% aplica-se a despesas com hotéis, transporte, hospedagem, cruzeiros marítimos e pacotes de viagens, por exemplo. Publicada no Diário Oficial da União (DOU), a IN da Receita isenta da cobrança do IR as remessas ao exterior destinadas a fins educacionais, científicos ou culturais e para pagamento de taxas escolares, taxas de inscrição em congressos, conclaves, seminários ou assemelhados e taxas de exames de proficiência. Também dispensa o recolhimento do imposto referente a despesas médico-hospitalares no exterior.