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Estado de Minas

Recessão trava engrenagem das indústrias de máquinas

Com ociosidade de 34% - a maior da história - e queda de 14,4% no faturamento, setor demite 45 mil pessoas. Em Minas, cortes somam 6 mil e receita de vendas deve cair 50%


postado em 28/01/2016 06:00 / atualizado em 28/01/2016 07:41

Considerado termômetro da economia, o setor de máquinas e equipamentos encerrou 2015 com a capacidade instalada no mais baixo patamar da série histórica iniciada em 1999. O recorde negativo é reflexo da retração da economia com forte assombro na confiança do empresariado. O impacto direto disso é o fechamento de 45 mil postos de trabalho nos últimos 12 meses. Em Minas, foram aproximadamente 6 mil demissões, o que representa corte de 24% no total de empregos.

O estado deve fechar o ano com retração de 50% no faturamento, percentual mais que três vezes superior ao da média nacional, segundo a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). No país, o faturamento caiu 14,4%, para R$ 84,873 bilhões. Com a depreciação do câmbio, o setor vislumbra como única saída imediata o aumento das exportações e, para isso, roga ao governo federal melhoria no formatos de financiamento. Em dezembro, as vendas para o exterior registraram alta de 14,1%, sinal positivo para uma possível retomada.


Pelo balanço apresentado pela Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos, o nível de utilização da capacidade instalada do setor encerrou o ano passado em 65,8%, ou seja a indústria usa menos de dois terços de suas possibilidades de produção. O indicador médio para 2015 foi 6,9 pontos percentuais abaixo do ano anterior. “Pouco investimento de hoje reflete pouco crescimento de amanhã”, afirma o presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza, ressaltando que superar a crise política ainda no primeiro trimestre é fundamental para possibilitar crescimento nos outros três.

Resultante direta do baixo nível de produtividade, a quantidade de empregos diretos recuou mês a mês de janeiro até dezembro. Portanto, 11 meses de queda no indicador de pessoal ocupado ao se comparar com o mês imediatamente anterior. Ao fim de 2014 eram 353,94 mil vagas, enquanto em dezembro de 2015 o número caiu para 308,72 mil, o que significa fechamento de 12,78% dos postos de trabalho. A trajetória de demissões teve início em meados de 2013. Em maio daquele ano, eram 380,29 mil contratados.

O diretor de Competitividade da Abimaq e assessor econômica entidade, Mário Bernadini, considera que a tendência é de continuidade no fechamento de vagas no início do ano até atingir patamar próximo ao da queda de faturamento (14,4%) no ano passado – em 2014 e 2013, o corte já tinha sido de 11,6% e 5%, respectivamente. A projeção é que em 2016 mais 20 mil pessoas sejam demitidas, com possível continuidade do fluxo em caso de o faturamento mantiver a retração.

Em Minas Gerais, segundo o vice-presidente da entidade, Marcelo Veneroso, considerando o perfil do parque industrial, focado em siderurgia, óleo e gás, mineração e agricultura, a situação é ainda mais grave que a média nacional. No estado, até novembro, o faturamento recuou 47%. Além das quedas referentes à economia, o baque causado pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, contribuiu para a queda de investimentos. “Algumas empresas já cortaram encomendas por causa da Samarco. Era uma das únicas que estava com projeto para sair do papel”, afirma Veneroso.

Esperança é o
mercado externo

A expectativa do setor é recuperar o nível de atividade com o aumento no volume das exportações. O setor fechou 2015 com quedas nas vendas para outros países em 16,2%, mas, em dezembro, é possível perceber alta de 14,1% no comparativo com novembro. Mesmo com a forte alta do dólar ante o real a partir do segundo trimestre do ano passado, segundo a entidade o fechamento de novos negócios no exterior é mais demorado. A Abimaq argumenta que frente a outras moedas o real ganhou competitividade somente a partir de agosto do ano passado, no auge da crise política. A alta nas exportações foi acompanhada da elevação na carteira de pedidos, outro sinal favorável. Depois de bater o menor patamar da série histórica nos dois meses anteriores, o nível de pedidos teve alta.

“É a nossa esperança”, diz Bernadini ao ser questionado sobre a projeção para as exportações em 2016. “O câmbio a (R$) 4 nos permite competir no mercado externo e no mercado interno frente aos produtos importados”, acrescenta o diretor da Abimaq. Ele projeta alta entre 15% e 20% das exportações neste ano. Mas faz duas ressalvas: a primeira sobre a queda na demanda por bens de capital em todo o mundo, com efeitos da desaceleração chinesa e da queda do preço do barril do petróleo no mercado internacional e a outra relacionada à necessidade de criar-se linhas de financiamento para facilitar o fluxo de mercadorias.

Por setor, apenas um dos sete apresentaram alta nas exportações no ano passado: infraestrutura e indústria de base (8,3%). No geral, as exportações recuaram 16,2%. Mas, ao se fazer o recorte para dezembro, é possível perceber elevação em seis dos sete grupos: componentes para a indústria de bens de capital (97,6%), máquinas para logística e construção civil (22,8%), máquinas para petróleo e energia renovável (2,6%), máquinas para agricultura (38,7%), máquinas para indústria de transformação (20,8%) e máquinas para bens de consumo (23,4%).

 

Enquanto isso...

… Abimaq pede ajuda ao governo 

Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão do governo federal, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) pretende sugerir ao governo hoje, na primeira reunião do grupo desde 2014, a adoção de incentivos fiscais para que as fábricas instaladas no Brasil renovem seus parques industriais com a compra de máquinas e equipamentos, afirmou ontem o presidente da entidade, Carlos Pastoriza. “Nós sabemos da dificuldade fiscal que o governo tem neste momento, mas seria importante o governo fazer um esforço para que o parque industrial se renove”, disse. “O parque industrial do Brasil tem uma média de idade de 17 anos, enquanto na Alemanha é media é de oito anos”, comparou. “Nosso parque tem hoje máquinas mais antigas e menos automáticas”, acrescentou.


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