A recessão na economia brasileira está atropelando o sonho do diploma no curso superior de muitos brasileiros. Além das escolas particulares com ensino infantil, fundamental e médio sentirem a queda no número de matrículas, as universidades privadas amargam do mesmo mal, neste início de ano letivo. Em algumas instituições, chegou a 15% o número de alunos que abandonou o curso. Como consequência, aumentou a demissão de professores universitários. De acordo com informações do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), somente em uma faculdade da cidade, 205 docentes perderam o emprego.
“A situação no ensino superior é preocupante”, avisa o presidente do Sinep MG, Emiro Barbini. Segundo ele, como muitos estudantes, principalmente aqueles que estudam à noite, estão perdendo o emprego, “eles abandonam os estudos” como forma de cortar gastos. Além do desemprego, que já afeta 1,7 milhão de pessoas no país (um crescimento de 42% em um ano), um outro agravante para os universitários foi o corte do orçamento para a educação e redução de vagas no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), no ano passado. “Além da crise econômica, essa medida do governo federal agravou a situação para as universidades. Elas estão traçando estratégias para segurar e atrair alunos, tanto que haverá ainda novos vestibulares daqui pra frente”, comenta Barbini.
Ele não revela o nome das instituições, mas diz que duas faculdades na capital mineira demitiram um número grande de professores universitários. “Uma dispensou 165 e outra 205. A situação é grave”, enfatiza. Na Faculdade Novos Horizontes, de acordo com o diretor-geral, Tueli Rodrigues Tavares, houve uma evasão de cerca de 15% dos alunos no segundo semestre do ano passado, ou seja, cerca de 350 universitários abandonaram os cursos. “Isso são os que vieram na secretária e formalizaram o trancamento do curso”, diz. Diante disso e com uma perspectiva pessimista para o de 2016, faculdade demitiu 22 professores, passando de um quadro de 149 docentes para 127.
No entanto, neste início de ano, a procura pela escola, segundo Tavares, está se mantendo como o ano de 2015. “Sentimos que as pessoas estão inseguras tanto pela crise econômica, quanto pelo Fies. Este ano, recebemos só 10% do total das bolsas que recebíamos pelo programa. Infelizmente, a educação não é prioridade na vida do aluno. As incertezas do país e a crise incentivam a desistência”, palpita, dizendo que a grande maioria dos universitários que abandonou o curso da Novos Horizontes estudava à noite e cursava engenharia. “Infelizmente, dentro das nossas perspectivas, tivemos que adensar as turmas e remanejar um curso da unidade Barreiro para o Santo Agostinho. Mas, se continuarmos em um ritmo melhor do que esperado nas matrículas, vamos contratar 10 professores”, anima Tavares.
No Centro Universitário Newton Paiva, de acordo com a vice-reitora, Juliana Salvador, a evasão tem sido olhada de perto. “Os nossos percentuais de rematrícula estão idênticos ao do ano passado”, ressalta. Porém, a instituição demitiu mais de 10 professores, o que, segundo Juliana, é normal. “É uma rotatividade. Sabemos que têm escolas que estão há cinco meses sem pagar professores, nós, soubemos controlar e não devemos ninguém”, garante. O que chama a atenção da vice-reitora é a migração de estudantes para o curso à distância. “Tivemos um boom nessa modalidade. Quem pode pagar cerca de R$ 1 mil para o presencial paga, mas, quem não pode, opta pelo curso à distância”, diz.
ESTRATÉGIAS Com a inadimplência de alunos em alta nas universidades, algumas traçaram estratégias para segurar os veteranos e atrair os novos estudantes. Segundo conta o reitor da Universidade Estácio de Sá, Juciê Abreu, o cenário macroeconômico está ruim para todos. Sem revelar números da instituição, como o percentual de inadimplentes nem a quantidade de alunos que abandonou o curso, Abreu conta que foram criadas alternativas para o novo cenário. “A nossa captação neste início de ano está similar à de 2015, ou seja, não perdemos mas também não ganhamos como gostaríamos.”
Segundo Abreu, o estudante endividado pode parcelar as dívidas com a universidade. É oferecido também seguro educacional e financiamentos sem juros. “A nossa intenção é que o estudante não pare de estudar ou não deixe de ingressar no ensino superior. A nossa inadimplência aumentou muito e isso é um ponto de atenção”, diz, acrescentando que se trata de momento ambíguo. “O Brasil está em crise e, em época de restrição de vagas, ficam no mercado aqueles com mais estudos”, avisa o reitor da Estácio de Sá.
Na edição de ontem do Estado de Minas, foi mostrado que as escolas privadas com ensino infantil, fundamental e médio estão sofrendo com a crise econômica e muitos pais de alunos estão transferindo os filhos para a rede pública. O Sined estima que haja uma diminuição de 7% de alunos dentro das salas de aula do ensino privado, tanto escolas como universidades. A entidade também espera que 8 mil professores sejam demitidos ainda este ano.
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l Imposto de Renda
A Declaração de Ajuste Anual do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física de 2016 deverá ser apresentada à Receita Federal de 1º de março a 29 de abril. O supervisor nacional do Imposto de Renda, Joaquim Adir, explicou que a partir deste ano os médicos e advogados terão de declarar o CPF dos seus pacientes e clientes. Caso um médico não informe o CPF do paciente, ambos cairão na malha fina. Para esta próxima declaração, o contribuinte também terá de informar o CPF do dependente a partir de 14 anos. A expectativa da Receita Federal é receber 28,5 milhões de declarações neste ano – em 2015 foram 27,8 milhões. Segundo Adir, toda pessoa física residente no Brasil que, no ano-calendário de 2015, recebeu rendimentos de valor superior a R$ 28.123,91 está obrigada a declarar Imposto de Renda.
Falências
O prolongamento da crise econômica está elevando o total de empresas em dificuldade financeira. Em janeiro, o número de pedidos de falência no país avançou 4,8% ante o mesmo mês de 2015, mas cedeu 10,3% em relação a dezembro, de acordo com dados da Boa Vista SCPC. No acumulado de 12 meses até janeiro, os pedidos de falência registraram alta de 16%, na comparação com igual período anterior. Em 12 meses, as falências decretadas subiram 17,8%. Na comparação com janeiro de 2015 o avanço foi de 15%, enquanto que em relação a dezembro a alta foi de 21,1%. Por sua vez, os pedidos de recuperação judicial e as recuperações judiciais deferidas apresentaram forte avanço na comparação com janeiro de 2015. O aumento foi, respectivamente, de 112,1% e de 58,6%.
Greve no ar
Os aeroviários e aeronautas prometem uma greve em 12 aeroportos do Brasil hoje. Durante a paralisação, a recomendação é que os passageiros que tiverem viagens marcadas para essa data entrem em contato com as companhias aéreas para buscar informações sobre a situação dos voos com a paralisação. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) recomenda, como regra-geral, que os passageiros, especialmente com decolagens marcadas para o horário de paralisação anunciado pelos trabalhadores (entre 6h e 8h, no horário de Brasília), entrem em contato diretamente com a companhia contratada. Caso o cliente tenha disponibilidade de alteração dos planos de viagem para um outro horário ou uma nova data, essa alternativa pode ser considerada.