Direto das faculdades de zootecnia e agronomia, em Viçosa, para o carnaval de Beagá, o casal de estudantes Paula Prado e Pedro Queiroz, 23 anos, ao mesmo tempo em que curte os bloquinhos, pretende faturar perto de R$ 200 por dia com a venda de chupe-chupes de frutas, que refrescam o calor, por R$ 2 cada. A ideia dos estudantes é conseguir, com o pequeno isopor, apurar recursos para financiar a diversão e pagar os custos da viagem. Em tempos de crise, o carnaval na capital se transformou no paraíso da alegria e dos ambulantes. Oficialmente, são mais de 3,4 mil, quase três vezes o número registrado em 2015.
Credenciados ou não, a turma que segue os blocos está por toda parte. Ao lado do cliente, eles driblam a recessão, criam novos produtos, transformam o quintal em ponto de venda e faturam alto com adereços, cervejas, catuaba, alimentos rápidos e criações do momento capazes de fazer o brasileiro esquecer por quatro dias a crise econômica.
Oficialmente, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima que os estabelecimentos próximos aos blocos tenham vendas 15% maiores durante o carnaval. No ano passado, o crescimento do setor foi de 30% no período. Os ambulantes têm estimativas bem mais arrojadas, esperam crescer as vendas em 80%, ou até dobrar o faturamento na melhor época do ano para o segmento. Com criatividade de sobra, produtos que agradam e preços moderados pela concorrência acirrada, eles fazem girar o caixa.
Matheus Vespúcio é biólogo, mas desde dezembro do ano passado tem feito sucesso com sua food bike. Seguindo o bloco “Então, Brilha!”, suas vendas estão fazendo sucesso. O carro-chefe são os chupe-chupes alcoólicos feitos com sucos de fruta natural e turbinados com vodca, saquê, cachaça, catuaba, ao gosto do cliente. Cada um custa R$ 4, mas, reconhecendo que esse é um ano de aperto no bolso dos clientes, Matheus lançou, especialmente para o carnaval, o “humildão”, versão que leva suco em pó ao invés do natural, vendido pela metade do preço.
Seguindo os bloquinhos com seu food truck e isopor de bebidas, Alessandra Alves, 43, diz que o carnaval é a melhor época do ano para o negócio e ela acredita que vá crescer em 80% suas vendas. Só do espaguete, um dos seus destaques, são pelo menos 100 por dia, vendidos a R$ 10 cada. Para facilitar a vida do folião, cerca de 80% de suas vendas são no cartão de crédito. Atrás dos blocos, a autônoma Regiane Ferreira, 24 anos, vestiu sua peruca colorida para comemorar as vendas. “Vou vender pelo menos 3 mil cervejas, a R$ 5 cada”, calcula.
A Belotur, responsável pela organização do carnaval na capital, não tem estimativas de quanto a folia traz de recursos, mas o público esperado é de 1,6 milhão de pessoas este ano. Alcenir de Oliveira vende tiaras coloridas por R$ 10. O enfeite de flores se transformou em uma espécie de febre no carnaval e é encontrado aos montes tanto no comércio informal quanto no segmento formal. Tamires Gomes, gerente da loja Chocobel, na Região Central, calcula que na semana do carnaval as vendas tenham crescido 60%.
Satisfação dos clientes
Com infalção em alta e menos dinheiro no bolso, o carnaval é momento também para se empreender por oportunidade, e quem percebeu isso muito bem foi o servidor público Carlos Alberto Lage, 54 anos. Ele transformou o quintal da casa de uma colega de trabalho em um ponto de vendas de cerveja e churrasquinho, na Rua Quimberlita esquina com Divinópolis, no Bairro Santa Tereza, onde o carnaval também esquenta as vendas. “O lucro chega a 70%”, comenta.
O advogado Lucas Bicalho, 28, e seus amigos esperam gastar entre R$ 300 e R$ 400 neste carnaval. “A festa está ótima e em conta, bem mais barato que viajar para o interior. Se pechinchar, ainda dá para ganhar um desconto na cerveja.” Ele considerou o preço da cerveja (R$ 5 pela lata) compatível para eventos públicos. “Em eventos fechados, chegam a cobrar o dobro.” De Ipatinga, o médico Marco Antônio Castro também veio curtir o carnaval na capital. Ele diz que a festa em Belo Horizonte é boa para as crianças. Com adereços para toda a família, ele calcula que não gastaria mais de R$ 150. “O custo é baixo.”