Rodolfo Costa
Brasília – O recuo do preço do petróleo está animando o Banco Central. Com dificuldades para controlar a inflação, a autoridade monetária conta com a crise da commoditie no mercado externo para levar a carestia para abaixo do teto da meta, de 6,5%. Como o impacto do “ouro negro” na economia não se restringe apenas aos combustíveis, a expectativa é de que essa queda seja repassada ao longo da cadeia produtiva para os mais diversos produtos que têm derivados do petróleo na composição.
“O impacto não virá de forma imediata, mas deve ser visível ainda no primeiro semestre”, avalia um graduado técnico do BC. Na opinião do economista Fábio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, o valor mais baixo de commodities favorecerá a desaceleração dos preços no segundo trimestre. “Com o petróleo, não é diferente. Uma série de insumos derivados tendem a ter uma pressão menor”, diz. No ano passado, o petróleo acumulou uma queda de 35%. Em janeiro, o cenário não foi diferente. O barril atingiu US$ 27 – cotação que não era registrada desde 2003. Esse movimento acontece porque há uma grande oferta do produto no mercado, mas, em contrapartida, a demanda está caindo.
Quando o petróleo estava valorizado, houve um grande investimento de países produtores em novas áreas de exploração. Agora, com a contração da economia mundial, em especial da China – segundo maior consumidor e maior importador mundial da commodity –, a quantidade de barris no mercado está muito superior à demanda.
Para especialistas do setor químico e petroquímico, a maior incógnita sobre o efeito da redução da cotação do petróleo na cadeia produtiva não é quando ocorrerá, mas em que nível afetará o mercado consumidor final. Ainda que os valores do barril estejam em queda, o dólar continua em patamares elevados, ressalta a diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna Coviello Ferreira.
No acerto de contas, o benefício para os brasileiros pode ser inexpressivo, pondera Fátima. “Haverá, sim, uma pressão de redução de custos em um curto prazo, mas a desvalorização do real exerce um efeito contrário que pode, em um primeiro momento, mascarar ou minimizar o efeito de desaceleração do custo do petróleo”, afirma. A executiva da Abiquim, entretanto, ressalta que não se sabe por quanto tempo essa queda se manterá. “O óleo a preço muito baixo significa menos interesse de exploração. Há países que, hoje, não têm reservas para manter uma cotação tão baixa”, justifica.
Carros e obras Dois dos setores que mais devem ser beneficiados são os da indústria automobilística e da construção civil. “Na produção de veículos, tirando o aço, praticamente todo o resto leva itens derivados do petróleo: tintas, pneus, plástico, fibras sintéticas. Até fios e cabos da parte elétrica, além dos vidros têm o produto na composição”, diz. Na construção, há os aditivos para cimento, concreto, tintas em geral e tubos de PVC.
Até alimentos podem ser beneficiados com a queda do petróleo. Seja por levarem corante ou conservante na fórmula ou por serem embalados em plástico. Ou mesmo hortifrutis, que recebem fertilizantes e defensivos agrícolas. O efeito, porém, deve ser minimizado pela alta do dólar, estima o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz.
“A taxa de câmbio neutraliza essa queda do petróleo. Acabamos pagando o preço em dólar mais baixo, mas em real continua elevado”, afirma. O efeito da divisa norte-americana também reduz os ganhos de prestadores de serviços. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou que a redução do preço do petróleo deve chegar com uma defasagem de até três meses, mas minimizado pelo dólar. A expectativa é de que, com uma estabilidade em queda do valor do óleo, o repasse seja observado a partir de março.
Enquanto isso...
...Bolsas voltam a cair
O preço do petróleo voltou a cair ontem derrubando as bolsas europeias que inciaram o dia em alta. O barril do óleo tipo Brent recuou 3,47%, em Londres, para US$ 32,88. Os resultados ruins e a expectativa de perda da rentabilidade com a tendência de juros negativos ajudaram a derrubar as ações dos bancos levando alguns a terem baixas históricas. O FTSE-100, da bolsa londrina, recuou 2,71%, a Bolsa de Frankfurt, na Alemanha, escorregou 3,30%; a de Paris, 3,20%; e a de Madri, 4,44%. Atenas desabou 7,87%.