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Estado de Minas

Juros vão a 411% ao ano para cartão de crédito

Taxa anual cobrada pelas operadoras de cartões de crédito é a maior em mais de 21 anos, liderando as modalidades do crédito, que desconhece a crise e voltou a encarecer em janeiro


postado em 12/02/2016 06:00 / atualizado em 12/02/2016 07:35

Sem condições de pagar o carro financiado, o taxista Santos Rocha se desfez do veículo e do cartão(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Sem condições de pagar o carro financiado, o taxista Santos Rocha se desfez do veículo e do cartão (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Neste ano, o taxista Santos Rocha, de 65 anos, abandonou de vez o crediário. Com os juros em alta, o carro financiado ao preço de R$ 28 mil vai custar R$ 33 mil em dois anos. “Não consegui continuar com o financiamento e, agora em janeiro, vendi o veículo para dar conta da dívida”, conta. O taxista também quebrou e jogou fora o cartão de crédito, depois de ver gastos que devem praticamente dobrar. Medidas como essas serão cada vez mais constantes em 2016, como prevê a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A entidade divulgou pesquisa, ontem, mostrando que as operações de crédito encareceram em janeiro pelo 16º mês e atingiram os maiores níveis desde fevereiro de 2005.

 

Vanessa Teixeira desenvolveu o hábito de anotar e controlar os gastos e não pensa em se endividar(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Vanessa Teixeira desenvolveu o hábito de anotar e controlar os gastos e não pensa em se endividar (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Houve aumento em todas as seis linhas pesquisadas (juros do comércio, cartão de crédito rotativo, cheque especial, CDC-bancos-financiamento de veículos, empréstimo pessoal-bancos e empréstimo pessoal-financeiras). O cartão de crédito, o dinheiro de plástico que o taxista Santos Rocha abandonou, no entanto, é o maior vilão entre todas as modalidades da compra a prazo. A taxa cobrada pelas operadoras subiu 0,21 ponto percentual de dezembro para janeiro, alcançando 14,56% ao mês (410,97% ao ano), nível mais alto desde outubro de 1995. Assim, uma pessoa que deve ao banco R$ 1 mil no cartão de crédito, em 12 meses, terá uma dívida de R$ 5.109,71.

O descolamento dos encargos da inflação é flagrante. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 1,27% em janeiro e acumulou 10,71% nos últimos 12 meses até o começo de 2016, segundo o Insttituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É um importante instrumento de pagamento (o cartão de crédito), mas, neste momento do país, não se deve se endividar por ele”, aconselha o diretor de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira. O taxista Santos Rocha conta que o cartão virou uma bola de neve para ele e sua família. “Ultrapassamos o limite e pagamos somente o valor mínimo. Porém, assustamos com o que devíamos” conta.

No crediário, segundo a pesquisa, houve alta em todos os 12 tipos de lojas pesquisadas, com a média geral subindo 0,10 ponto percentual, para 5,6% ao mês (92,29% ao ano). A taxa mais alta, neste caso, foi registrada em Minas Gerais, de 5,71% ao mês (94,71% ao ano) (veja quadro). Nos financiamentos de veículos, o prazo médio se manteve em 36 meses. O diretor da Anefac aponta que essas alterações no crédito podem ser atribuídas a vários fatores. “Estamos vivenciando um cenário econômico que aumenta o risco de inadimplência”, observa.

Diante da inflação elevada, desemprego em alta e da diminuição da renda, os bancos elevam as taxas, justamente. “Para o consumidor, ficou mais caro qualquer tipo de financiamento. A subida de juros dificulta o acesso ao consumo, as empresas passam a investir menos e contratar menos também. Aí, aumentam o desemprego, a inadimplência e os juros. É um ciclo vicioso”, comenta, aconselhando a população a evitar dívidas em 2016.

“Do jeito que as coisas estão, não há como financiar nada”, comenta a consultora de atendimento Vanessa Teixeira. Ela diz que sempre manteve os gastos sob controle e anota, todo mês, as despesas feitas no cartão de crédito. “Financiamento? Só se eu precisasse muito”, afirma. De acordo com Miguel Oliveira, é preciso fazer como Vanessa e só usar o crédito quando ele for realmente necessário. “Se o consumidor decidir financiar algo, faço com o menor prazo possível, pois, quanto mais parcelas, mais caro fica.”

Oliveira dá um exemplo da compra de uma geladeira, ao custo de R$ 2 mil. “Se a pessoa fizer um empréstimo, com os juros de 5,6% ao mês, em 12 meses, o eletronomêstico custará R$ 2, 8 mil. Se a pessoa dividir em 24 vezes, vai pagar uma parcela de menor valor, mas, ao todo serão desembolsados R$ 3, 6 mil”, exemplifica, observando que o raciocínio vale para todos os bens, inclusive, a casa própria.

SELIC Ao considerar todas as elevações da taxa básica de juros (Selic), que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referências para as operações nos bancos e no comércio, promovidas pelo Banco Central desde março de 2013, o diretor da Anefac avalia que houve neste período (março de 2013 a janeiro de 2016) uma elevação de 7 pontos percentuais. A taxa básica subiu 96,55%, de 7,25% ao ano em março de 2013 para 14,25% anuais em janeiro de 2016.

Das três linhas de crédito pesquisadas para pessoas jurídicas, todas foram elevadas no mês passado. A taxa de juros média apresentou elevação de 0,06 ponto percentual no mês (1,15 ponto percentual em 12 meses), ao passar de 4,27% ao mês (65,16% ao ano) em dezembro de 2015 para 4,33% ao mês (66,31% ao ano) em janeiro de 2016.

Trata-se da maior taxa de juros desde fevereiro de 2009. Para 2016, a Anefac, com base no atual cenário econômico, prevê o aumento da inadimplência. “A tendência é de que as taxas de juros das operações de crédito voltem a ser elevadas nos próximos meses”, avisa o diretor da entidade, que pede cautela aos consumidores.

 

CAMPANHA A campanha da Proteste Associação de Consumidores Aqui se economiza, lançada ontem, ajuda o consumidor a readequar os gastos com serviços, entre eles, o cartão de crédito. Segundo a entidade, pesquisar bem ajuda o cliente de cartões e conta corrente a economizar com as tarifas cobradas. No cartão de crédito, por exemplo, se o consumidor optar por aquele tipo sem anuidade vai economizar R$ 1,2 mil, de acordo com os cálculos da Proteste. Para saber mais, basta consultar o site da campanha www.aquiseeconomiza.com.br, que oferece ferramentas on-line para cálculo dos planos de pagamento.


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