A extensão a que chegaram as demissões na indústria metalúrgica preocupa em polos produtores não só do aço, como da cadeia movida pelo setor. Em Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, o sindicato local dos metalúrgicos registrou as dispensas de 3,2 mil trabalhadores no último ano que estavam há mais de 12 meses em serviço. Segundo o presidente da entidade e da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força Sindical em Minas, Ernane Geraldo Dias, dos 23 produtores independentes de ferro-gusa que atuam na cidade, nove estão operando e do total de 37 fornos existentes apenas 13 permanecem ligados.
O desemprego é grande também nas empresas do setor de autopeças, que atendem às montadoras Iveco, do grupo Fiat, instalada em Sete Lagoas, e à fábrica de automóveis da empresa italiana de Betim, na Grande Belo Horizonte. “Vivemos um cenário muito ruim. O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio-econômicos) aponta que o Brasil poderá ver demitidos mais de 30 mil metalúrgicos neste primeiro semestre”, afirma Ernane Dias. Em Minas Gerais, dados da Fiemg indicam que no ano passado o nível do emprego no ramo da metalurgia caiu 8,7%, ante a média de 7,3% da indústria no estado. Em dezembro, a atividade operava com 58,4% da sua capacidade total instalada de produção.
Entre as siderúrgicas que anunciaram desligamento de altos-fornos, como ajuste à crise do setor, estão Usiminas, em Ipatinga e Cubatão, e CSN. A siderúrgica mineira confirma que até meados deste mês 1,8 mil trabalhadores diretos terão sido demitidos na usina paulista. Recentemente, foi a vez de o grupo Vallourec, um dos maiores fornecedores mundiais de tubos de aço sem costura, anunciar um plano de reestruturação, que determina em abril o desligamento do alto forno 2 da Usina Barreiro em Belo Horizonte, antiga Mannesmann, e a desativação do alto-forno 1 e da aciaria na mesma fábrica no segundo semestre de 2018.
A companhia decidiu concentrar toda a produção de ferro-gusa e aço na nova usina de Jeceaba, na Região Central de Minas Gerais. Na usina de BH permanecerão operando os laminadores e as plantas de acabamento de tubos. “A empresa terá dois anos para minimizar os impactos sociais dessas medidas por meio de transferências internas na própria Usina Barreiro, transferências voluntárias de empregados de Belo Horizonte para Jeceaba e, também, por meio da rotatividade natural da força de trabalho”, diz o comunicado da Vallourec. A companhia mantém em torno de 3,4 mil empregados na usina de BH e 2,1 mil na siderúrgica de Jeceaba.
Em Jeceaba, os trabalhadores esperam que a siderúgica inaugurada em 2011, e com tecnologia de ponta, seja beneficiada no plano de reestruturação. “Como a planta é nova, tem tecnologia avançada e é mais econômica, acreditamos que será favorecida no médio prazo”, disse o diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco, Carlos José Ribeiro Cavalcanti.
O sindicalista Ernane Dias afirma o plano de renovação da frota nacional de veículos, que está em discussão no governo, é a alternativa com efeitos possíveis para combater a crise na indústria. “Acreditamos muito no plano de reciclagem de veículos. A gente acha que poderia salvar um pouco a lavoura”, afirma. (MV)