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Estado de Minas

Juro do cartão volta a subir e chega a 419,6%

Taxa tem a 17ª alta consecutiva e é a maior em 11 anos. Custo elevado leva empresa a criar produto virtual sem anuidade e com encargos mais baixos, o que agrada clientes


postado em 11/03/2016 06:00 / atualizado em 11/03/2016 08:42

Gabrielle Rodrigues aderiu ao novo modelo por sugestão e destaca fato de ele não ser associado a nenhum banco(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Gabrielle Rodrigues aderiu ao novo modelo por sugestão e destaca fato de ele não ser associado a nenhum banco (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

O medo da inadimplência frente a um cenário econômico duvidoso, o aumento do desemprego e o baixo crescimento econômico levaram as instituições financeiras a aumentarem suas taxas de juros na tentativa de compensar prováveis perdas. Os juros das operações de crédito voltaram a ser elevados em fevereiro de 2016, com a segunda elevação no ano e a 17ª alta consecutiva, segundo levantamento divulgado ontem pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). Para pessoas físicas, a taxa média geral alcançou 145,46% ao ano – a maior desde fevereiro de 2005, quando ficou em 146%. No cartão de crédito os juros foram de 419,6% ao ano em fevereiro. A taxa é a maior desde outubro de 1995, quando estava em 459,53% ao ano.

E, como era de se esperar diante das incertezas políticas e econômicas do país, todas as modalidades de crédito para a pessoa física pesquisadas pela Anefac mostraram alta em fevereiro. No comércio, os juros passaram de 92,29% para 94,49%. No financiamento de automóveis, a taxa subiu de 31,37% ao ano em janeiro para 31,68% em fevereiro. Já o empréstimo pessoal ficou mais caro tanto em bancos (de 69% para 70,17%) quanto em financeiras (de 155,76% para 157,47%).

Diante do aperto, muitos consumidores estão freando as compras parceladas, tanto é que apesar de uma alta de 9% no último trimestre de 2015 sobre o ano anterior, houve uma desaceleração nas transações do cartão de crédito. Em meio a isso, os bancos, agora, enfrentam um novo desafio: o Nu Bank, uma startup brasileira que oferece um cartão de crédito sem anuidade ou tarifa, promete taxas de juros menos cortantes do que os cartões tradicionais, e para qual há, atualmente, 400 mil pessoas na lista de espera para adquiri-lo.

ALTERNATIVA Em janeiro, o Banco Central (BC) divulgou que a taxa de juros do rotativo do cartão de crédito encerrou o ano de 2015 subindo 16,1 pontos percentuais de novembro para dezembro, quando atingiu 431,4% ao ano. O rotativo é o crédito tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão e, essa segundo o Banco Central, é a modalidade com taxas de juros mais alta na pesquisa. É nesse ponto que o Nubank vem sendo o cartão mais cobiçado. Isso porque as taxas de juros aplicadas pelo novo cartão ao cliente que prefere financiar sua fatura é de, no máximo, 7,75% ao mês. Além disso, não há anuidade (que em outros bancos pode chegar a R$ 300), outras tarifas e a promessa é de que a burocracia não exista.

A diferença dos valores cobrados chama a atenção dos órgãos de defesa do consumidor que, conforme constatou o Estado de Minas, ainda desconhecem a novidade. “Com essa taxa de juros e sem anuidades e tarifas, acredito que se trata de um cartão que traz um novo cenário para o país. Mas o consumidor tem que se informar para ver se, vale ou não, a pena”, palpita a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci. A pedido do EM, tanto a Proteste quando o Procon de BH verificaram as reclamações referentes a esse cartão e, de acordo com as duas entidades, não há nenhuma queixa até o momento.

A reportagem procurou os principais bancos do país para comentar sobre as estratégias que traçam, neste momento, para segurar seus clientes no cartão de crédito que oferecem. Porém, nenhuma das instituições financeiras se pronunciou. De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira de Cartões de Crédito (Abecs), Ricardo Vieira, até o terceiro trimestre do ano passado, as compras pagas com cartões de débito e de crédito no Brasil movimentaram R$ 1,05 trilhão em 2015 e cresceram 9% sobre o ano anterior. “Há uma desaceleração porque crescíamos de 17% a 18% ao ano. Mas isso se deve à situação do país”, comenta.

Frustração de cliente gera oportunidade para novos negócios


O Nubank, apesar do nome não é um banco, e sim uma instituição de pagamentos. A startup é comanda pelo engenheiro David Vélez, fundador e CEO da Nubank, e a ideia, segundo a empresa, surgiu da oportunidade observada no setor de serviços financeiros de que “os consumidores brasileiros sentem frustração frequente com seus bancos sem entender as tarifas cobradas e sem querer usar as agências.” A plataforma surgiu graças ao primeiro grande investimento de risco do fundo Sequoia Capital no Brasil. Outros que apostaram na Nubank foram o Kaszek Ventures e o empreendedor Nicolas Berggruen. No total foi colocado um montante de US$ 14,3 milhões (R$ 34,2 milhões) na startup.

De acordo com assessoria de imprensa da Nubank, também foi percebido que no Brasil há os juros mais altos do mundo em cartão de crédito. Assim, em 2014, foi lançado o produto que tem a bandeira MasterCard Platinum internacional, aceito em 30 milhões de estabelecimentos no mundo. O novo dinheiro de plástico está em 27 estados do Brasil e foi usado mais de 8 milhões de vezes em 140 países ao redor do mundo.

O cartão que, inclusive, é roxo, é 100% digital. Isto é: o cliente precisa ter um smartphone e baixar o aplicativo do Nubank (disponível para celulares IOS e Android). O interessado preenche um cadastro, ativa suas contas, bloqueia e debloqueia o cartão, visualiza todas as suas compras em tempo real, gera boleto de pagamento da fatura e ajusta o limite do seu cartão, tudo pelo celular. A startup não divulga quantos usuários já tem, mas diz que mais de 2 milhões de pessoas solicitaram o cartão (o número inclui as pessoas que tiveram seus pedidos negados, pessoas que estão na lista de espera e pessoas que têm o cartão). Aproximadamente 80% dos usuários têm menos de 35 anos (geração Y), são das classes A/B.


EXPERIÊNCIA
A publicitária Gabrielle Rodrigues, de 30 anos, entra nessa lista. Há um ano, ela soube do cartão e resolveu testar. “Meu irmão comentou comigo sobre as vantagens dessa novidade e me enviou um convite da Nubank, fiz a solicitação e, em duas semanas, estava com o cartão”, comenta. Pelo processo da startup, é possível solicitar o dinheiro de plástico via site ou através de indicações de outros usuários. Mas todos os pedidos precisam passar por uma análise interna de crédito, o que pode demorar. Atualmente, segundo a empresa, 400 mil pessoas esperam por um cartão e a demora tem a ver com a análise feita do nome e CPF do interessado, além histórico de consumo, crédito e pagamentos do solicitante.

Gabrielle conta que, primeiro, fez a solicitação por curiosidade. “Já que não era vinculado a nenhum banco e só tinha que dar meu CPF, arrisquei. No cartão, você pode solicitar o aumento do seu limite de crédito a qualquer hora, comecei com R$ 1, 7 mil e não tenho interesse de aumentar. A publicitária conta que as facilidades e transparência nas faturas foram o que mais lhe atraiu.

Apesar de as entidades de defesa do consumidor não conhecerem tanto o novo cartão, especialistas em finanças o consideram de baixo risco. Segundo afirma o professor de finanças do Ibmec, Ricardo Couto, a experiência com o Nubank ainda é pouca no país, mas a sua vantagem é o modelo de negócio tão diferente dos cartões tradicionais. “Primeiro que não há uma agência física, há uma abordagem mais digital e não há tarifas. Tudo isso causa uma concorrência que os bancos até então não tinham”, diz.


Enquanto isso...

…Justiça decide por gratuidade

O Superior Tribunal de Justiça decidiu nessa quinta-feira (10)ontem que todas as operadoras de cartão de crédito no Brasil são obrigadas a disponibilizar atendimento telefônico gratuito aos consumidores pelo sistema 0800. A ação proposta em 2002 pelo escritório Malheiro Chaves e Borges, de Belo Horizonte, tem validade em todo o território nacional. “Os ministros perceberam que foram induzidos a erro após uma enxurrada de recursos feitos por todas as operadoras, como se já estivem oferecendo o serviço gratuitamente”, conta a advogada Magna Borges Santos, que representa o escritório mineiro no recurso impetrado no STJ.

 


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