Brasília – O avião modelo CA-9, de prefixo PR-ZRA, que caiu na capital paulista na tarde de sábado e causou a morte do dono, o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli, e de mais seis pessoas, não tinha caixa-preta ou outro dispositivo com a mesma função, capaz de fazer a coleta de dados e voz, segundo informações da Aeronáutica. Segundo explicou o órgão, no entanto, nem todos os aviões têm a obrigação de levar esse equipamento. E mesmo aqueles que o possuem, em caso de acidente, o mecanismo não é o único a ser analisado. A tragédia abriu um debate sobre uma possível falha na fiscalização pelos órgãos de controle, como a Agência Nacional de Aviação Civil e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa).
De acordo com a lei, segundo Ivan Sant’Anna, especialista no setor aéreo, não houve negligência, pois não cabe nem à Anac, nem ao Cenipa, a função de investigar acidentes com aviões de categoria experimental. O Cenipa faz apenas a apuração inicial dos fatos. Dependendo do resultado, prossegue com as investigações ou as deixa a cargo da Polícia Civil. Na prática, disse ele, a falta de caixa-preta dificulta a análise dos fatos.
“Mas esse equipamento é muito caro. O custo pode ser maior que o do avião”, disse Sant’Anna. Normalmente, a fabricação desses modelos é autorizada com o objetivo de estimular a criatividade. “É assim que nascem os inventores. Mas são feitos vários testes antes de decolar. Esse modelo, por exemplo, é americano e foi fiscalizado nos EUA. A lotação estava dentro dos parâmetros. Mas ficou evidente que houve falha humana, pois o avião caiu logo após decolar, porque estava cheio de combustível”, disse o especialista.
No acidente, além de Agnelli, morreram sete pessoas: a mulher dele, Andrea de Azevedo Marques Trench Agnelli; a filha, Anna Carolina Trench Agnelli Bittencourt e o marido, Parris Ventura Bittencourt; o filho do empresário, João Trench Agnelli e a namorada Carolina Ambroso Mascarenhas Marques; e o piloto Paulo Roberto Baú, que deixou cinco filhos. Ele tinha habilitação para voar monomotores e a autorização estava em dia. Os corpos de Agnelli e dos cinco familiares foram liberados pelo IML na tarde de ontem. O enterro foi no Cemitério Gethsêmani, em São Paulo, às 17h. A Secretaria da Segurança Pública informou, por nota, que parte do reconhecimento das vítimas foi feito a partir das digitais e parte com identificação antropológica (análise da arcada dentária).