São Paulo - A crise que paralisa a economia brasileira deixa um rastro de empresas desativadas. No estado de São Paulo, 4.451 indústrias de transformação fecharam as portas no ano passado, universo 24% superior ao de 2014, quando 3.584 fabricantes deixaram de operar, segundo a Junta Comercial. O quadro se estende por todo o país, formando um cemitério de fábricas de variados setores, muitas delas fechadas definitivamente, algumas em busca de alternativa para voltar a operar e outras à espera de compradores. Em Minas Gerais, reportagem de ontem do Estado de Minas, mostrou que a crise tem levado ao fechamento de fornos e de produtoras independentes de ferro-gusa (matéria-prima da fabricação de aço) em Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, por falta de demanda.
Embora em janeiro tenha ocorrido leve crescimento de 0,4% em relação a dezembro de 2015 – interrompendo um ciclo de sete meses seguidos de quedas –, não há esperanças de uma recuperação consistente para o ano. Com isso, a expectativa de analistas é de que prossiga o fechamento de empresas em diversos segmentos da economia, assim como as dispensas de trabalhadores.
“As fábricas fechadas e os empregos perdidos viraram pó; não há como reverter esse quadro nos próximos anos”, diz o diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, Fábio Silveira. Algumas das fabricantes foram líderes em seus segmentos de atividade, mas não resistiram à queda da demanda e aos altos custos de impostos, energia, juros elevados e à falta de investimentos que secaram, devido à queda da confiança no País, somada a erros administrativos e estratégicos.
A desativação de indústrias segue em níveis alarmantes neste ano. Um exemplo é o da cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, onde, só na semana passada, ocorreram anúncios de encerramento de atividades produtivas das metalúrgicas Eaton, Maxion e Randon. Na opinião de Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), entidade que reúne vários dos maiores industriais do País, “o cenário da indústria para os próximos dois anos depende muito do que vai ocorrer com a economia” ao longo do ano.
“O mercado de implementos rodoviários teve retração de 50% e não há perspectivas de mudança de cenário no curto prazo”, informa Daniel Ely, diretor de Recursos Humanos da Randon, que atualmente emprega 130 pessoas, mas já teve mais de 1 mil, segundo o sindicato local.A queda das vendas de componentes elétricos (chicotes) para seus principais clientes – as fabricantes de caminhões, ônibus e tratores –, levou a PK Cables do Brasil a fechar, em dezembro, a fábrica de Curitiba (PR).
Em maio, o grupo de origem finlandesa que atua no Brasil há 17 anos já havia encerrado as atividades da filial de Itajubá, no Sul de Minas Gerais. As duas unidades empregavam 1,1 mil trabalhadores (500 em Itajubá e 600 em Curitiba). Agora a companhia mantém apenas a fábrica de Campo Alegre (SC).
BUSCA DE DIREITOS Não houve anúncio oficial de encerramento de atividades. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, a direção da Eaton, fabricante de peças hidráulicas, só confirmou o fechamento da unidade depois de ter sido procurada pela entidade, no início do mês. “Os trabalhadores perceberam um movimento fora da rotina na fábrica, pois estavam ampliando a produção num momento em que a própria empresa reclama da crise”, informou José Barros da Silva Neto, diretor do sindicato.
“Eles nos procuraram e fomos falar com o representante da empresa, que confirmou a transferência da produção para a unidade de Guaratinguetá, no interior de São Paulo”, diz o sindicalista. A fábrica está na cidade há 27 anos, mas pertence ao grupo americano Eaton desde 2001. Chegou a empregar entre 500 e 600 funcionários, mas atualmente mantém 140 pessoas, segundo Silva Neto. A empresa não comentou o assunto.
Em Curitiba, o Sindicato dos Metalúrgicos do Paraná informa que negociou a dispensa dos trabalhadores locais da PK Cables do Brasil, que receberam participação nos resultados de R$ 12 mil cada um, além de três meses de vale mercado e plano médico. Nenhum representante da empresa foi localizado na semana passada para falar sobre o assunto.
No ano passado, a produção de caminhões caiu 47,1% em relação a de 2014, enquanto a de ônibus tiveram redução de 34,7%. O segmento de máquinas agrícolas apresentou recuo de 32,8%, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Nos dois primeiros meses deste ano, o cenário segue crítico, com redução acumulada de 40,7% na produção de caminhões, de 45,2% na de ônibus e de 52% na de máquinas agrícolas.
Enquanto isso...
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A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) apladiu a lei 3.834/2015, que estabelece um cronograma para o aumento da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel fóssil, sancionada pela presidente Dilma Rousseff. A Abiove projeta que a nova legislação levará a uma maior procura interna por óleo de soja (foto). "Foi uma lei bastante produtiva no sentido de dar uma nova perspectiva para a produção de biodiesel, culminando com o B10 e depois o B15, cada um com validação dos respectivos testes de motores”, disse o gerente de Economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral. “Representa com certeza um aumento da demanda por óleo de soja e uma perspectiva mais favorável para o esmagamento no Brasil.” Pela nova legislação, a mistura obrigatória de biodiesel no diesel passa de 7% para 8% até 2017. No ano seguinte, o porcentual sobe para 9% e, em 2019, chegará a até 10% (o B10). A mistura poderá chegar a até 15% (B15), desde que haja testes em motores e aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).