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Estado de Minas

Páscoa da crise deixa lojas abarrotadas de chocolate

Com queda das vendas de ovos de chocolate de até 60%, lojistas tentam queimar produto que lota prateleiras, passada a comemoração. Quase um terço do estoque nem sequer foi mexido


postado em 29/03/2016 06:00 / atualizado em 29/03/2016 07:24

Há 39 anos no ramo, o comerciante Maronildo Carvalho acredita ter registrado o pior resultado de sua rede de lojas, que passaram a vender o chocolate a preço de custo(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Há 39 anos no ramo, o comerciante Maronildo Carvalho acredita ter registrado o pior resultado de sua rede de lojas, que passaram a vender o chocolate a preço de custo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O receio dos consumidores de encontrar, depois da Páscoa, ovos de chocolate quebrados e somente marcas desconhecidas nas prateleiras, não se confirmou num ano de agravamento da crise econômica. Quem foi ao comércio ontem encontrou prateleiras lotadas em lojas do segmento para todo tipo de cliente em Belo Horizonte. Foi como se a data comemorativa não houvesse passado. Ainda era possível comprar os melhores chocolates 40% mais baratos. Preocupados com o cenário, comerciantes apostam nas promoções para desovar o que sobrou e reduzir os prejuízos. As estratégias passam por redução de preços e a venda sem margens.

“Foi a pior Páscoa na minha história”, lamenta o dono do Rei do Chocolate, Maronildo Carvalho. Há 39 anos no mercado em BH, sendo uma das primeiras lojas no segmento na capital, a Rei do Chocolate registrou, em comparação com o ano passado, queda de 60% no volume de vendas das quatro unidades espalhadas na cidade. Como consequência, as lojas ficaram lotadas de ovos de todas as marcas.

O comerciante estima sobra de 30% dos ovos oferecidos e não viu outra opção a não ser a venda a preço de custo da vedete da Páscoa. “Não tenho escolha. Antigamente, o que sobrava de chocolate depois da data comemorativa, era insignificante. Tanto era assim que o consumidor vinha aqui e não achava a marca que queria. Mas, agora, sobrou tudo. E não sei como vai ser”, lamenta.

Maronildo ressalta que os fornecedores não aceitam a devolução dos produtos e que não há saída para o produto estocado. Um ovo de 300g Kit Kat, que custava R$ 64,90, passou a ser vendido na loja por R$ 39,90. A marca Serenata de Amor, que custava R$ 42,90, agora está sendo a oferecida a R$ 24,90. “A culpa disso é a crise da economia; ninguém está comprando nada. E, mesmo ciente da situação econômica do país, a indústria do chocolate não colabora e manteve os preços altos para os ovos”, reclama.

Marguerita Iannazzo conta que tíquete médio de gastos caiu R$ 30 neste ano, quando sobrou volume considerável das compras feitas da indústria(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Marguerita Iannazzo conta que tíquete médio de gastos caiu R$ 30 neste ano, quando sobrou volume considerável das compras feitas da indústria (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
No início do mês, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) alertou que a Páscoa deste ano seria a mais cara dos últimos 13 anos. Isso porque, segundo a entidade, houve uma variação média de preços de 13,6% em relação ao ano passado e, com isso, o temor era de que os consumidores sumissem das lojas. A expectativa era de que as vendas no período caíssem 3,4% em relação à mesma época de 2015, sendo a maior queda dos últimos 12 anos. Como justificativa para o aumento dos produtos, a entidade apontou que a importação aumentou em quase 20% em relação ao ano passado, com a alta do dólar.

“Tivemos queda de 8%”, comenta a dona da loja da rede Cacau Show instalada na Savassi, Zona Sul da capital, Marguerita Iannazzo, há sete anos à frente do negócio. Pela primeira vez na história da franquia, segundo Iannazzo, houve sobra de 3% dos ovos ofertados. “Isso não ocorria. E, agora, temos um volume considerável nas prateleiras”, conta. Ela revela que sabia que a data não seria a das melhores para o comércio. “A crise veio mesmo para ficar. Estamos em uma região privilegiada, no coração da Savassi, com clientes com poder aquisitivo maior. Mas, mesmo assim, tivemos um tíquete médio de R$ 50, sendo que, no ano passado, foi de R$ 80”, comenta.

Na loja da rede Kopenhagen, voltada a um público de classe mais alta, a situação não foi diferente. Na unidade da Savassi, as prateleiras continuam lotadas e os ovos no mesmo lugar. “Registramos queda de 20% em relação ao ano passado e a sobra é inédita para a marca”, informou a gerente Cláudia Matias da Silveira. Ela conta que o tíquete médio foi de R$ 20. “Muitos chegaram aqui comprando inhá benta de R$ 10,90 para dar de presente. È a nossa pior Páscoa”, reclama. Uma promoção que permanece é o desconto de 30% na compra de um segundo ovo do mesmo valor.

Animada com as promoções, Daniela Ribeiro decidiu desembolsar R$ 36,90 por ovo intacto, para retribuir quem a presenteou(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Animada com as promoções, Daniela Ribeiro decidiu desembolsar R$ 36,90 por ovo intacto, para retribuir quem a presenteou (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
CLIENTE COMEMORA Enquanto os lojistas lamentam, os consumidores comemoram. Com as lojas tranquilas e larga disponibilidade de ovos nas prateleiras, a representante comercial Daniela Ribeiro comprou, ontem, o ovo Classic, da Cacau Show, por R$ 36,90. O produto é um dos mais procurados na loja. “Este ano não comprei chocolate para ninguém, mas como recebi quis retribuir. E estou achando os preços bons”, comentou Daniela, reconhecendo que, antigamente, procurar ovo depois da Páscoa depois da data era arriscado. “Este que estou levando está intacto e tem bom preço”, comentou.

Pelos supermercados da cidade, o drama é o mesmo. De acordo com a Associação Mineira de Supermercados (Amis) ainda não há dados concretos sobre a Páscoa nesses estabelecimentos, porém, grandes redes já sinalizaram que o desempenho das vendas neste ano foi menor do que o registrado no ano passado.

PIOR RESULTADO

De acordo com o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio – Páscoa 2016, durante a semana passada, entre 21 e 27 de março, as vendas no país recuaram 9,6% na comparação com a mesma semana do ano passado (30 de março a 5 de abril de 2015). Foi o pior desempenho desde o início da série histórica, em 2007.

Esperança de reajustes menores

Rio de Janeiro - A inflação esperada pelos consumidores nos próximos 12 meses ficou em 11,1%, na média das expectativas, em março, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV), que divulgou o Indicador de Expectativas Inflacionárias dos Consumidores. O resultado é inferior ao dado de fevereiro em 0,3 ponto porcentual (11,4%). O recuo do indicador na passagem de fevereiro para março interrompeu uma sequência de 13 meses de altas consecutivas. A despeito da melhora, o nível da inflação projetada pelos consumidores ainda é o terceiro maior desde 2005, ressaltou a instituição.

“Apesar da ligeira desaceleração das expectativas de inflação dos consumidores, o patamar mantém-se alto em termos históricos. As projeções realizadas pelos consumidores podem ter sido influenciadas pela observação da evolução atual da inflação, com desaceleração de altas em itens do grupo de produtos relacionados à habitação, no preço da gasolina e em serviços de telefonia fixa e internet, associadas a uma possível desaceleração de preços administrados em 2016”, avaliou, em nota, a economista Viviane Seda Bittencourt, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

O Indicador de Expectativas Inflacionárias dos Consumidores é obtido com base em informações coletadas no âmbito da Sondagem do Consumidor. Produzidos desde setembro de 2005, os dados vinham sendo divulgados de forma acessória às análises sobre a evolução da confiança do consumidor. Desde maio de 2014, contudo, as informações passaram a ser anunciadas separadamente. A Sondagem do Consumidor da FGV coleta mensalmente informações junto a mais de 2,1 mil brasileiros em sete das principais capitais do País. Cerca de 75% desses entrevistados respondem aos quesitos relacionados às expectativas de inflação.


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