Rio, 01 - A retração de 2,5% registrada pela indústria brasileira na passagem de janeiro para fevereiro foi decorrente de resultados negativos em 13 das 24 atividades pesquisadas. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, divulgados nesta sexta-feira, 1º de abril, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A principal influência negativa foi registrada pelo ramo de veículos automotores, reboques e carrocerias. O recuo de 9,7% na produção em fevereiro ante janeiro eliminou o avanço de 7,2% acumulado de novembro de 2015 a janeiro de 2016.
"O principal impacto negativo é de veículos automotores, que vinha de três meses de resultados positivos em sequência. Só com a entrada do mês de fevereiro, esse saldo positivo na margem acabou sendo eliminado", ressaltou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Outras reduções importantes foram registradas por máquinas e equipamentos (-6,7%), produtos alimentícios (-1,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-8,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,5%), metalurgia (-1,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2,6%), produtos de borracha e de material plástico (-1,6%) e outros equipamentos de transporte (-3,3%).
Na direção oposta, tiveram desempenho positivo relevante os setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,4%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (1,3%) e indústrias extrativas (0,6%).
"Mesmo esses setores que mostraram impacto positivo, o crescimento é suplantado por quedas anteriores. O que quero chamar a atenção é que ou o crescimento é sobre uma base baixa de comparação ou não suplanta as quedas anteriores", explicou Macedo.
Comparação interanual
Em relação ao mesmo período de 2015, a indústria registrou perdas em 21 dos 26 ramos investigados em fevereiro, informou o IBGE. O setor industrial teve queda de 9,8% em fevereiro de 2016, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física. O principal impacto negativo foi de veículos automotores, reboques e carrocerias, cuja produção despencou 29,1%.
"Veículos automotores teve 95% dos produtos com queda em fevereiro ante fevereiro de 2015. Ou seja, quase a totalidade dos produtos investigados no segmento aparece com queda na produção", ressaltou André Macedo.
Outras contribuições negativas para o total nacional vieram das indústrias extrativas(-12,1%), máquinas e equipamentos (-27,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-33,1%), metalurgia (-12,1%), produtos de borracha e de material plástico (-15,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-21,1%), produtos de metal (-12,7%), outros equipamentos de transporte (-24,0%), produtos de minerais não-metálicos (-9,6%), produtos têxteis (-11,8%) e bebidas (-5,1%).
No caso da extrativa, que deu a segunda maior contribuição negativa sobre o total da indústria, houve impacto da extração de petróleo, mas o acidente da Samarco, em Mariana, Minas Gerais, ainda foi o principal fator de redução na produção da atividade. "O minério tem uma contribuição maior para o recuo. Tem reflexo ainda do acidente da Samarco em Mariana", confirmou Macedo.
Na direção oposta, houve expansão relevante na produção das atividades de celulose, papel e produtos de papel (6,0%), produtos do fumo (82,8%) e produtos alimentícios (1,1%). "O setor de papel e celulose está se beneficiando do câmbio e do incremento das exportações de seus produtos", explicou.
Bens de capital
O avanço na produção de caminhões na passagem de janeiro para fevereiro impulsionou o resultado de bens de capital no período, única categoria de uso a registrar desempenho positivo no mês na pesquisa do IBGE.
A categoria de bens de capital teve em fevereiro o segundo mês de taxas positivas. Em janeiro ante dezembro, o avanço foi de 2,1%. Em fevereiro, a alta ficou em 0,3%.
"Bens de capital, em dois meses de crescimento, totaliza uma expansão de 2,5%. Mas os últimos três meses de 2015 têm uma sequência de taxas negativas. O acumulado desses três meses é -13,1%. Então, mesmo crescendo na margem da série, bens de capital cresce sobre uma base de comparação muito depreciada e em nada suplanta a perda observada nos três últimos meses de 2015", avaliou André Macedo.
Em janeiro, o setor de máquinas e equipamentos foi o maior responsável pela alta na produção de bens de capital. Em fevereiro, os caminhões deram a principal contribuição, junto com bens de capital para uso agrícola.
"Caminhões têm uma produção maior sobre base (de comparação) baixa. É um segmento que também vem controlando sua produção, com redução de jornadas de trabalho. Pode ter sido somente uma volta à produção. Pode ter tido unidades que vinham de paralisação de atividade", ponderou Macedo sobre a retomada de fevereiro.
O segmento de veículos automotores, entretanto, teve queda de 9,7% na produção em fevereiro ante janeiro. Apesar do avanço nos caminhões, a fabricação de automóveis e autopeças diminuiu. "A redução na produção de automóveis combinada com a redução de eletrodomésticos explica muito da magnitude acentuada de queda de bens duráveis nesse mês", disse Macedo.
A fabricação de bens de consumo duráveis recuou 5,3% em fevereiro ante janeiro. O IBGE aponta como principais causas os mesmos motivos que vêm afetando a produção em meses anteriores: maior restrição de crédito, juros mais altos, redução na renda do trabalhador e maior comprometimento da renda das famílias, entre outros.
Macedo, entretanto, ressalta que o clima de incerteza que paira no País atualmente é o principal ingrediente que afeta a indústria.
"Incertezas no setor econômico e político afetam decisões de investimentos, afetam decisões de consumo. Não por acaso bens duráveis e não duráveis mostram queda importante", afirmou.