“Em períodos de maior desemprego, muitos começam a ver o hobby como oportunidade de negócio”, diz a especialista. Segundo ela, o desafio é fazer com que o hobby se transforme, de fato, em um negócio, com planejamento, cálculos de riscos e atenção aos processos de venda e produtos oferecidos.“O empreendedor deve estar atento aos rumos do mercado e aos hábitos do consumidor, que busca alimentos saudáveis, leves e nutritivos. É preciso ficar também atento aos custos do negócio”, acrescenta Challub.
De acordo com a analista do Sebrae, no disputado mercado da alimentação, centenas de portas são abertas diariamente, mas permanecem aqueles que trazem diferencial aliado à boa gestão do negócio. Nem mesmo quem já ganhou experiência no mercado da alimentação fora do lar, de empresas de pequeno a grande portes, no entanto, escapa dos efeitos da crise econômica e do peso da concorrência crescente, que exige criatividade e inovação.
A queda da renda das famílias freou o setor, que crescia a um ritmo de dois dígitos ao ano. Em 2015, segundo o instituto FoodService Brasil (IFB), que reúne grandes redes do setor, o faturamento nominal avançou 6,2% enquanto as vendas nas lojas caíram 0,5%. As expectativas, neste ano, são mais animadoras, com perspectiva de crescimento nas vendas da ordem de 3,8%.
Aqueles que veem chances de crescimento, porém, pensam duas vezes antes de partir para o novo projeto. É o caso de Rogério Ribeiro, dono da Brasiliano Massas, fornecedora de massas artesanais. A equipe da empresa é formada, por enquanto, pelo próprio empreendedor e sua mulher, Ana Paula. Eles fabricam cerca de 35 quilos de massas por semana, mas as encomendas estão crescendo. Rogério já foi sondado para ser fornecedor em festas juninas, o que significaria fabricar 600 quilos de capelete. “Ainda estou avaliando os pedidos de grande porte, porque não posso assumir compromisso maior do que minha capacidade permite”, explica.
Cliente retraído
Há 10 anos, Leonardo Pimentel abriu o Strog, serviço especializado em delivery de alimentos prontos na Região Sul da capital. No início, eram entregues dois pratos, estrogonofe e filé à parmegiana. A empresa, agora, trabalha com cardápio oferecendo mais de 40 opções e tenta vencer a crise se aproveitando da preferência de muitos consumidores por economizar, pedindo a comida em casa.
Leonardo acrescentou promoções, a exemplo de pratos para servir toda a família. “No início, quando comecei no setor, o mercado era bem menor, atualmente há delivery para quase tudo”, observa. Para vencer a concorrência, ele aposta também nas inovações de um cardápio com dezenas de pratos. Sobre a atração que o setor exerce na criação de negócios, Leonardo diz que há no mercado da alimentação muitos aventureiros. “De um modo geral, as pessoas acham que é fácil montar um negócio, há muitos que se arriscam sem capacitação, abrem e fecham rapidamente”, comenta.
Segundo ele, o negócio não escapou do freio nas vendas neste início de ano, mas manteve o projeto de expansão. O Strog tem duas unidades próprias e uma franquia. “Estamos negociando a abertura de duas franquias no Espírito Santo e Goiás, ainda neste ano”, comenta o empresário.
Alexandre Guerra, presidente do Instituto Food Service Brasil (IFB), diz que o momento atual é desafiador para o varejo. “Temos menos consumidores na rua com disposição para comprar devido à diminuição da renda da família ou impactados por uma incerteza em relação à sua renda no futuro.” Apesar disso, o executivo acredita que a alimentação fora do lar continuará crescendo, como dinâmica do cotidiano e como lazer.
Alta concorrência no food truck
A alimentação fora de casa atrai do pequeno fabricante de alimentos a grandes redes, turbinando uma legião de novos negócios, entre eles a febre dos food trucks (negócio que consiste na produção e oferta de alimentos prontos em carros estilizados e adaptados). No ano passado, quando Anderson Silva e a namorada Patrícia Cordeiro decidiram montar o Gertrudes, eles faziam parte de um primeiro grupo que apostou na comida de rua gourmet. Tinham à frente um oceano azul, com poucos concorrentes.
O ambiente favorável durou pouco. Em um ano já eram dezenas no segmento e em dois anos de mercado a concorrência na cidade explodiu. São cerca de 70 carros na capital, focados nos mais variados produtos, do brigadeiro ao espetinho. Antes de abrir o Gertrudes, Anderson manteve uma empresa de transportes e atuava no segmento de tecnologia da informação. O mercado esfriou e Patrícia, que também trabalhava no setor de TI, ficou desempregada. Foi aí que surgiu a ideia da dupla de investir na culinária.
A demanda e a concorrência cresceram desde que o negócio ganhou as ruas, tendo como carro-chefe um sanduíche especial feito no pão de queijo mineiro, mas o casal também sente o impacto da crise. “Clientes que antes vinham comer nosso sanduíche duas vezes por semana agora vêm duas vezes por mês e comentam que estão controlando o orçamento.”
A moda dos food trucks se expandiu rapidamente. Segundo Danyelle Van Straten, diretora regional em Minas da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o setor também aderiu à nova tendência. “A alimentação está entre os segmentos mais representativos do franchising e continua como líder. A grande revelação são os food trucks. Ao todo, 10% das marcas já levaram seus produtos para o formato.”
No ano passado, as franquias ligadas à alimentação faturaram R$ 27,9 bilhões, crescimento de 8,9% frente ao ano anterior. Marco Antônio Machado, especialista em varejo e professor da PUC-Minas, diz que o foco no atendimento, na qualidade do produto e o esforço para inovar são itens importantes. A flexibilidade é outro diferencial que pode ajudar em momentos de mercado retraído.