Brasília – Os gastos dos brasileiros no exterior estão cerca de 40% a 50% menores neste ano, segundo levantamento divulgado pelo Banco Central (BC). De janeiro a março, as viagens internacionais mostram recuo de 69% frente a igual período do ano passado. A queda, segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, se explica principalmente em razão do dólar mais forte ante o real, contribuindo de forma significativa para a redução do déficit em transações correntes do país.
No mês passado, a diferença entre o que os brasileiros gastaram lá fora e o que os estrangeiros desembolsaram no Brasil deixou um saldo negativo de US$ 694 milhões. O resultado é menor do que o saldo negativo de US$ 955 milhões observado em igual mês de 2015. No entanto, é maior do que o déficit de US$ 242 milhões registrado em fevereiro. Esse aumento de gastos na margem, explicou Maciel, teve influência das regras de tributação para agências de viagem, o que deixou os gastos represados.
No início do ano, a alíquota para remessas por essas empresas havia subido para 20%; depois de pressão do setor de turismo, o governo cedeu e reduziu a taxa para o mesmo valor cobrado no cartão de crédito quando usado em compras no exterior, de 6,38%. “Com essa mudança de alíquotas valores ficaram represados”, explicou, ao observar que esse item do balanço de transações do Brasil sensível à taxa de câmbio.
“Mas movimentos de valorização do câmbio tendem a favorecer essas despesas”, destacou o executivo do BC. A conta parcial de viagens mostra despesas líquidas de US$ 375 milhões, valor formado por receitas de US$ 260 milhões e despesas de US$ 635 milhões. Maciel relatou ainda que a conta de serviço com transportes mostra déficit de US$ 764 milhões, ante US$ 1,802 bilhão em igual período do ano passado, representando queda em torno de US$ 1 bilhão. “Isso reflete a retração da corrente de comércio, mas também queda na compra de passagens aéreas por brasileiros. Quando esse fluxo diminui, afeta o item de transportes”, justificou.
Lucros e dividendos
Tulio Maciel afirmou que o nível histórico de lucros e dividendos, apesar de ter havido um aumento de remessas entre março e igual mês do ano passado, está em patamar reduzido em decorrência da retração da atividade econômica. Até abril, o resultado parcial de lucros e dividendos mostra saída líquida de US$ 380 milhões.
O levantamento do BC indicou, ainda, até o dia 18 deste mês, interrupção da tendência de saída de recursos vista nos últimos meses para a renda fixa, com um ingresso de US$ 130 milhões no período. No caso de investimentos em ações, permanece a tendência de entradas já vista nos meses anteriores, com um total de US$ 1,151 bilhão até a última segunda-feira.
No mês passado, o ingresso em investimento em carteira para ações foi de US$ 1,824 bilhão e, no trimestre, de US$ 2,460 bilhões. “Isso reflete, em parte, a rentabilidade da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) no ano”, comentou Maciel. Já em renda fixa houve saída de US$ 1,965 bilhão no mês passado, dando continuidade às saídas líquidas de títulos de renda fixa nos primeiros meses de 2016 – US$ 7,070 bilhões no trimestre. “Tivemos ingressos vultosos, de US$ 16,3 bilhões em 2015 e de US$ 17,1 bilhões em 2014. Ou seja, mais de US$ 40 bilhões nestes dois últimos anos”, comparou o economista do BC.