São Paulo, 23 - O ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, fez um alerta hoje para a proporção da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e destacou o risco de o atual cenário político-econômico resultar em uma crise bancária no Brasil. "Hoje, é preciso colocar muita clareza no manejo da dívida pública no País. É necessário compreender o galope da dívida como proporção do PIB, do contrário a iminência da crise será uma crise bancária no País", afirmou no Brazil Conference, evento realizado em Boston, nos Estados Unidos, pela Universidade Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ciro Gomes se referia à importância de o Brasil fazer reformas tributária e fiscal.
Segundo ele, o Estado é ineficiente e gasta mais onde não devia. O político diz que em setores necessários como educação e saúde, o desembolso público per capita está abaixo do ideal, enquanto os maiores gastos são com previdência e juros da dívida pública. "Temos um estrangulamento de financiamento crônico no Brasil e a taxa de juros mais cara do planeta", destacou Gomes, reforçando a necessidade de um debate em torno do tema.
Embora não concorde com o governo atual, o ex-ministro da Fazenda avaliou que o Brasil está perdendo sua condição democrática à medida que ocorre o que chamou de golpe no País, em referência ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. "O Brasil está perdendo a condição democrática, a prevalência da soberania popular." Ressalvando ser um crítico do governo - "ele é mau e falha em todas as questões" - Ciro Gomes disse que o ex-presidente Michel Temer está "golpeando o País".
O ex-governador comparou ainda a situação brasileira à enfrentada pelo Paraguai, com a destituição do presidente Fernando Lugo, e também à da Venezuela. "Estão se utilizando de protocolos no País e da propaganda para implementar um golpe." Ele voltou a atacar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. "É um gângster mesmo e está pilotando um golpe de Estado. É réu do Supremo Tribunal Federal (STF) por desvios, lavagem de dinheiro, contas ilícitas no exterior. A Justiça só achou a ponta de iceberg", declarou.
Para Ciro Gomes, a realização de dois processos de impeachment no Brasil em 24 anos "não é pouca coisa", disse, lembrando o impedimento de Fernando Collor de Mello, em 1992. Ele apontou ainda a tentativa de, no passado, o PT tentar destituir Fernando Henrique Cardoso do comando do País.