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Estado de Minas

Comida do dia a dia sobe de preço apesar da queda da inflação

Mesmo com recuo na inflação, preços de produtos como frutas e legumes tiveram reajustes acima de 40% em BH e amargam o orçamento das famílias. Substituir itens alivia a mordida


postado em 25/04/2016 06:00 / atualizado em 25/04/2016 08:28

A cirurgiã dentista Célia Maria leva frutas mais baratas para escapar dos aumentos salgados(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
A cirurgiã dentista Célia Maria leva frutas mais baratas para escapar dos aumentos salgados (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Frutas, verduras e legumes, fundamentais para uma boa alimentação, passaram a assombrar consumidores nas feiras e supermercados do país. O mamão virou polêmica do café da manhã e amargou o “bom dia!” com alta de 43,7% no seu preço em Belo Horizonte neste mês. O tipo havaí, por exemplo, é achado em BH até por R$ 16,99 o quilo – preço superior, por exemplo, ao cobrado pela mesma quantidade de carne acém, que chega a R$ 14. Além do fruto, a abóbora ficou 30,69% mais cara e, a uva, 21%. Esses alimentos começam a sair da mesa dos belo-horizontinos, sem previsão de voltar tão cedo. Enquanto isso, o tomate teve queda de 10% e vem perdendo o título de vilão da inflação, pelo menos por enquanto.

Na última semana, pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostrou que, nos primeiros 15 dias de abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) apresentou variação de 0,66% na grande BH em comparação a março e, no acumulado dos 12 meses, o indicador chegou 8,27%. No país, houve uma alta de 0,51% em abril e, em 12 meses chegou a 9,34%. O levantamento é uma prévia da inflação oficial do país. E o indicador de abril é, nacionalmente, o menor resultado para o mês desde 2012, quando o índice foi de 0,43%. Apesar disso, o grupo alimentação e bebidas, com alta de 2,12% em BH, ainda assusta os consumidores, que buscam explicações para o aumento.

É o caso do mamão, que virou o “novo tomate”. Somente em BH, a fruta sofreu uma alta superior a 40% e, no Brasil, o valor aumentou em 27%. Em estabelecimentos pesquisados pelo Estado de Minas, o havaí chega a custar R$ 16,99 em mercados na Zona Sul. O menor preço encontrado para o havaí pela reportagem foi de R$ 9, 98 o quilo. O tipo é o mais caro. Mas o mamão formoso, antes mais em conta para o bolso do consumidor, já não é visto com bons olhos, uma vez que também sofreu aumentos, chegando a custar em torno de R$ 8 em BH. “Lembro de quando vendia o havaí a R$ 2. A caixa com o formoso custava, com os fornecedores, R$ 15 e, hoje, está R$ 55. Temos que repassar e, com isso, as vendas caíram 40%”, lamenta o gerente do Pomar Niquelina, Enilson Silva. Por lá, o mamão havaí está R$ 9,90 o quilo e o formoso R$ 7,90.

Quilo do mamão tipo havaí é encontrado por preço superior ao de carne de segunda (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Quilo do mamão tipo havaí é encontrado por preço superior ao de carne de segunda (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
No Bairro Mangabeiras, onde o havaí chegou a R$ 16,99 o quilo, o gerente do Pomar da Serra, Paulo César da Silva, defende que a alta não é culpa dos empresários. “Esse preço é terrível, já que a fruta é uma espécie de isca para o consumidor. Quando ela está com valores acessíveis, as pessoas entram e compram outros itens”, diz. Ele assegura não ser impossível tentar, neste momento, alguma promoção para a iguaria, uma vez que os fornecedores estão cobrando cada vez mais caro. “O jeito é não comprar. Eu mesma não compro mamão há muitos meses e estou substituindo por outras frutas que tenham o mesmo valor nutricional”, comenta a cirurgiã dentista Célia Maria Freitas, que culpa a crise econômica do país pela alta.

REDUÇÃO DA OFERTA Por se tratar de um alimento em que a colheita se dá o ano inteiro, muitas pessoas estão sem saber exatamente o porquê desses valores absurdos. A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex) informou que a falta de chuva nas principais regiões produtoras de mamão do Brasil nos últimos meses ocasionou a diminuição da oferta da fruta no mercado e consequentemente uma forte elevação nos preços.

O Espírito Santo, de acordo com a entidade, é maior exportador e segundo maior produtor de mamão do país. Porém, a entidade estima que houve uma queda de 50% da produção ocasionada pelo não desenvolvimento dos mamoeiros que não receberam irrigação suficiente, seja pela falta de água em rios e represas, seja pela restrição da irrigação por parte do governo.

A coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, reforça a explicação da Brapex e diz que, em Minas, grande parte do mamão é proveniente do estado capixaba. “Houve o desastre ambiental na cidade de Mariana, que se alastrou pelo Rio Doce, chegando ao Espírito Santo. Por lá, as bombas de irrigação precisaram ser lacradas. Isso gera um volume de água menor. Assim, somado ao clima quente, há menos oferta do mamão no mercado”, esclarece.

Em março, o mamão havaí, de acordo com levantamento do Ceasa, puxou a alta de 13% no grupo das frutas no centro de abastecimento, quando comparado a fevereiro. O quilo no atacado saiu de R$ 2,06 para R$ 3,54, aumento de 71,8%. Segundo o IBGE (veja quadro), em abril de 2015, a iguaria já tinha subido 20% e, em março deste ano, teve alta de 44,97% em BH. A previsão é de que, para a fruta, a alta continue nos próximos meses.

Saída pode ser troca de itens

Enquanto o susto é grande pelos sacolões da cidade, a estratégia de muitos consumidores é a velha mudança de hábitos. Uma vez que não há previsão de quando o mamão voltará a ter um preço mais acessível, o Movimento das Donas de Casa de Belo Horizonte recomenda que ninguém compre a fruta, como forma de pressionar a queda nos preços. “Vamos bater na mesma tecla: substituição. O melão, por exemplo, rende muito mais e o preço está bem melhor”, indica a presidente do movimento, Lúcia Pacífico.

Ela diz que, além de cara, a fruta vem sendo vendida nas feiras com má qualidade. “Nunca vimos o mamão chegar a um valor desses, então, é hora de o consumidor não colocá-lo no carrinho”. Mas, mesmo assim, Lúcia Pacífico reconhece que os produtos mais em conta ainda são caros. Ela comenta que as suas compras já chegaram a custar R$ 130 por semana e, atualmente, não custam menos de R$ 200. “Estou diminuindo a quantidade e optando pelos produtos de época para que a conta não fique ainda mais alta.”

Uma outra estratégia usada por muitos é a troca de estabelecimento. Além de cortar o mamão do carrinho, a arquiteta Juliana Santiago Spezialli diz que mudou de lugar. Antes, ela era cliente de um sacolão no Bairro Serra e, agora, passou a frequentar outro, no Santa Efigênia. “A diferença é de quase um terço da conta. Além disso, estou trocando as frutas. Levo a banana-caturra, que é mais em conta e a maça gala, também mais barata. Com crianças em casa não posso não incentivá-las a comer frutas, por isso, a substituição foi o melhor caminho.” O mesmo fez a psicóloga Priscila Lopes. “Lembro que na época em que o tomate era o vilão fiquei um bom tempo sem consumi-lo. Hoje tenho um bebê de 1 ano e tento substituir o que está com o preço elevado por algo tão saudável quanto”, diz.

Além da substituição, o coordenador do curso de Administração do Ibmec/MG, Eduardo Coutinho, indica a quem tem necessidade de comprar o mamão, por exemplo, a buscar ofertas. “Ir às compras no fim do dia pode ser uma opção, apesar de correr o risco de comprar algo de baixa qualidade”, diz e acrescenta que para a elevação dos preços alimentos não há nada conspiratório. “A crise pode ter impactado o custeio, mas, provavelmente, o motivo principal para esse cenário é a falta dos itens no mercado”, conclui.

Culpa do clima


Alguns produtos devem começar a baixar de preço com o fim dos efeitos sazonais. Para a cenoura, com alta de 22,53%, a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, prevê queda nos próximos dias. Ela comenta que o vegetal começou a ser plantado em janeiro no estado e, agora, começa a colheita, gerando no mercado uma quantidade maior do produto. “É uma questão de sazonalidade e também organizacional dos produtores, já que muitos, do Alto do Paranaíba – nosso maior produtor – fizeram o plantio na mesma época”, diz.

O engenheiro agrônomo do IBGE, Humberto Silva, afirma que no caso do vegetal, a chuva no Sul do país atrapalhou a produção na região, maior produtora do país. O mesmo, segundo ele, ocorre com as bananas vindas de São Paulo. “Os aumentos são uma questão climática e sazonal. E não dá para culpar os supermercados ou produtores. É a lei da oferta, se há pouco no mercado, a tendência é aumentar o preço”, esclarece.

Ele não descarta a situação econômica do país ao dizer que o custo da produção aumentou. “O preço do adubo e agrotóxico, por exemplo, estão mais altos. Mas o impacto é climático”, reforça e diz que a tendência é a regularização dos preços. “O tomate, por exemplo, varia de R$ 0,70 a R$ 7 em um ano”, exemplifica.




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