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Estado de Minas DESAFIO DE HÉRCULES À ESPERA DE MEIRELLES

Meirelles é visto como nome forte para reativar economia, mas terá de adotar medidas amargas

Cotado para o Ministério da Fazenda em eventual governo Temer, ex-presidente do BC terá desafio gigante num futuro governo Temer


postado em 08/05/2016 06:00 / atualizado em 08/05/2016 08:12

Depois de conhecer por dentro o sistema financeiro norte-americano, vencer eleições para deputado federal por Goiás, equilibrar metas no Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles assume ares de salva-vidas e se prepara para voltar ao governo, desta vez com o desafio de reanimar a sufocada economia brasileira em uma possível gestão de Michel Temer. Com experiência no mercado internacional, o ex-tucano foi presidente mais longevo do BC, onde ditou as regras durante o governo Lula. Apesar da menção de seu nome no Ministério da Fazenda ter efeito tranquilizante para o mercado financeiro, a missão de reavivar as expectativas na economia brasileira e fazê-las durar desafiam o currículo auspicioso.

Depois que se formou em engenharia civil na Universidade de São Paulo (USP) na década de 1970, Meirelles deu início a uma trajetória bem-sucedida no BankBoston, onde ganhou experiência internacional e chegou a ser presidente mundial da instituição. Mais tarde, de volta ao Brasil, foi eleito deputado federal pelo estado de Goiás, onde recebeu 183 mil votos e o título de mais bem votado. Sucesso nas eleições, mandato declinado e partido trocado para iniciar um ciclo de longevidade no Banco Central do Brasil, nos dois mandatos do então presidente Lula. Henrique Meirelles, que perdeu o posto para Joaquim Levy, agora atrai todas as apostas como ministro da Fazenda de uma possível gestão de Michel Temer (PMDB).

Seu nome acalma o agitado coração do mercado, que anda para explodir, e recebe elogios dos economistas de diferentes correntes, Seu perfil é considerado forte, o que lhe daria autonomia na pasta, e já há quem aposte que Meirelles pode ser um nome para disputar a Presidência da República. Preservar essa popularidade será um teste de fogo.

Provavelmente, para domar a descida acelerada da economia brasileira ele terá que enfrentar medidas impopulares, como conter os gastos públicos, aumentar impostos e trazer para um eixo de equilíbrio a Previdência Social, principal conta pública. Medidas que podem provocar para o mercado a confortante sensação de leite morno e biscoitos podem arrepiar os movimentos sociais. O brasileiro está mais longevo, mas encontrar trabalho na chamada terceira idade é um desafio duro no país, que ainda vive como se não estivesse envelhecendo.

Tido como persuasivo em torno de suas ideias, Meirelles se movimenta bem entre a política e a economia. Não é a primeira vez que ele é cotado para ministro da Fazenda, seu nome foi indicado por Lula para o governo Dilma, mas no final acabou sendo escolhido Joaquim Levy pela presidente. Ele deixou o cargo um ano depois. Agora, o nome do ex-presidente do BC aparece como certo em uma transição do PMDB.

Cacife

Nascido em Anápolis, no estado de Goiás, no último dia de agosto e sob o signo de virgem (que nas consultas rápidas ao oráculo apontam para o perfeccionismo e a organização), Meirelles terá que elevar ao topo seu potencial político para destravar a economia.

O atual ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, depois de quatro meses atuando na pasta, não conseguiu aprovar no Congresso nem uma das nove propostas feitas em diversas áreas da economia. A chegada de Meirelles à Fazenda é tida como um retorno da autonomia à pasta, que ganharia mais poder de decisão, com força para indicar executivos em instituições como o BNDES e o Banco do Brasil

“A presidente Dilma optou por ministros frágeis. O papel político que o Henrique Meirelles teria em caso de assumir o cargo é de relacionamento com o governo e com o Parlamento, papel que pode ser maior que o do próprio presidente”, observa Márcio Pochmann, professor de economia da Universidade de Campinas (Unicamp) e ex-presidente do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) nos dois primeiros anos do governo Lula. Segundo Pochmann, Meirelles não é ideólogo como Joaquim Levy, e pesa a seu favor a experiência na participação política, “diferente de Nelson Barbosa”, critica.

A conduta pragmática do ex-presidente do Banco Central também é lembrada por economistas. Márcio Pochmann recorda que, decidido, quando considerou pertinente, Meirelles assumiu a postura de conter o ciclo de alta da taxa de juros, assumindo o movimento inverso e contrariando orientação para manter a taxa elevada.

Equipe

Para o ex-diretor do Banco Central Sérgio Werlang, responsável pela política de metas da inflação durante a gestão de Armínio Fraga no Banco Central, Meirelles é um nome cotado pela sua trajetória no mercado e no governo. “Ele se mostrou um bom gestor, reunindo assessores de alto valor”, comenta o economista, assessor da presidência da Fundação Getulio Vargas (FGV). E na semana passada, Meirelles já começou a reunir a equipe. Ele convidou o economista Mário Mesquita, sócio do Banco Brasil Plural, para ser o presidente do BC em uma eventual gestão Temer. Mesquita ainda não respondeu se aceitará a missão.

Com a certeza matemática de que suas ações vão ser duras, Sérgio Werlang aposta que Meirelles vai atacar a questão fiscal. “Tenho segurança de que esse será o principal ponto dele. Nenhum aumento de impostos consegue resolver a economia se não houver corte dos gastos públicos.”

Há quem diga que a herança política que herdou do avô, que foi prefeito em Anápolis, tenha despertado em Meirelles, hoje no PSD, o gosto pela política. Certo ou não, as aspirações políticas terão antes que travar a batalha real de recolocar a economia nos trilhos e gerar emprego, termômetro mais preciso do bem-estar social.

Com o aval do mercado


Visto como “queridinho” do mercado financeiro, Henrique Meirelles recebeu as honras quando os analistas de bancos e corretoras, investidores e empresários comemoraram o convite feito a ele, na semana passada, para ser ministro da Fazenda em um eventual governo Michel Temer. No entanto, o bordão da festa não passou de “que bom! Vamos romper com a política econômica errada que está aí”, diz Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de riscos Austin Rating.

O ex-presidente do Banco Central de Lula transfere confiança aos agentes econômicos, contudo, precisa de respaldo e da articulação de toda a eventual nova equipe para ser eficiente e eficaz, principalmente no equilíbrio fiscal que o mercado financeiro tanto aguarda.

De fato, Meirelles vai precisar de toda a proteção que os perfeccionistas virginianos recebem, regidos por Mercúrio, o que lhes concede talento, raciocínio rápido e inteligência incomum. A trajetória dele no mercado financeiro não deixa dúvidas do quanto ele conhece o chão que pisa. “O mercado não tem coração, nem sentimento. É pragmático e quer ganhar dinheiro”, recorda o analista Miguel Daoud, da consultoria Global Financial Advisor.

No governo e nos bancos

Henrique Meirelles


. Nasceu em Anápolis, Goiás
. 70 anos
. Estudou engenharia civil na Escola Politécnica da USP, em São Paulo, onde se formou em 1972
. Em 1984, assumiu a presidência do BankBoston no Brasil, cargo que exerceu por 12 anos
. Ainda em 1984, cursou na Harvard Business School curso que prepara executivos para a presidência de grandes corporações
. Entre 1996 e 1999, foi presidente do BankBoston mundial, nos Estados Unidos
. Entre 2003 e 2011, foi presidente do Banco Central do Brasil
. Atualmente, faz parte do conselho consultivo da J&F, holding que controla empresas como a JBS, Eldorado Brasil, uma das maiores produtoras de celulose de fibra curta do mundo, Canal Rural e Havaianas.
. 2016 – Poderá assumir o Ministério da Fazenda

QUERIDO PELO MERCADO


Por que ele é aplaudido por analistas de bancos e corretoras, investidores e empresários

. Tem trânsito no meio empresarial e no político
. Trabalhou no exterior e seu nome tem prestígio lá fora
. É reconhecido como bom gestor econômico e financeiro
. Entende como Brasília funciona, no jargão de analistas do mercado financeiro
. Enquanto presidiu o Banco Central entre 2003 e 2010, no governo Lula, a inflação ficou dentro da meta e o país cresceu, como seus pares das economias emergentes


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