Os economistas viram com ceticismo o discurso de posse do presidente em exercício Michel Temer. Para os especialistas, é preciso avançar muito e mostrar medidas concretas sob o risco de ver a confiança depositada no governo de transição se esvair com o tempo. Eles admitem, contudo, que a nova equipe econômica tem mais habilidade de negociação e apoio no Congresso, o que deve atenuar conflitos.
Temer prometeu resgatar a credibilidade do Brasil e defendeu a independência do Banco Central como forma de tranquilizar o mercado. No entanto, nem ele, nem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, detalharam as medidas que pretendem adotar primeiro para atacar o principal problema na economia: o rombo crescente das contas públicas.“Temos propostas para reduzir o deficit fiscal e vamos analisar na próxima semana. Vamos fazer um esforço para, ao longo de um tempo razoável, sinalizar um equilíbrio fiscal até 2018”, adiantou o ministro do Planejamento, Romero Jucá. Ele admitiu, contudo, que não mudará a proposta da meta fiscal da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada pelo ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ao Congresso Nacional. “A nova meta fiscal precisa ser aprovada rapidamente, senão, no fim do mês, vai haver uma paralisação das atividades do governo”, justificou.
Na opinião do economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, é preocupante o novo governo permitir um deficit como meta fiscal. “É importante perseguir um saldo positivo”, criticou. Para ele, é essencial reduzir as despesas. O congelamento dos benefícios e salários de servidores poderia gerar uma redução economia de R$ 40 bilhões por ano, sugeriu. Porém, Jucá avisou que o novo governo respeitará os acordos feitos pela gestão anterior. “Vamos esperar e ver o que eles devem fazer para incrementar a receita”, disse Freitas.
Nomes investigados
Os especialistas também têm ressalvas sobre os nomes escolhidos para os ministérios, apesar de considerarem a equipe econômica boa. “Temer enfrentará vários obstáculos nos próximos meses que podem tornar a vida mais difícil no Congresso e com a opinião pública”, avisou o diretor para a América Latina do Eurasia Group, João Augusto de Castro Neves. Segundo ele, além da escolha de ministros que estão sendo investigados na Lava-Jato, como Jucá e Henrique Eduardo Alves (Turismo), a falta de minorias, como mulheres, também “são passivos que devem crescer com o tempo”.
Neves ainda lembrou que as lutas internas dentro do gabinete não estão descartadas, principalmente entre os ministros José Serra (Relações Exteriores) e Meirelles. “Apesar de estar à vontade no comando da política externa, Serra tem mostrado fortes opiniões sobre a gestão macroeconômica e a escolha do novo presidente do Banco Central. Isso poderá gerar conflito”, alertou.
Fernando Montero, economista-chefe da Tullet Prebon Brasil, demonstrou otimismo com o governo de Temer. Para ele, os técnicos são unanimidades e a fatia de políticos poderá ajudar na governabilidade perdida por Dilma. “O Congresso colocou o Temer no governo e Temer colocará o Congresso no governo. Quem sabe dá certo.
Boa expectativa na Febraban
Para o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, Michel Temer assume o governo de transição em momento difícil, mas acompanhado de expectativas positivas. “A Febraban manifesta seu apoio aos novos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Romero Jucá”, afirmou. Para ele, Meirelles demonstra comprometimento em “recuperar a disciplina fiscal e a sustentabilidade da dívida pública e de manter a inflação baixa e estável como condições para o crescimento do país”. E Jucá “garantirá articulação do apoio político essencial à aprovação das medidas”.