Apesar de o período chuvoso não ter correspondido ao esperado, este ano terá boa oferta do insumo, já que em meio a recessão, o consumo, tanto industrial quanto residencial, segue em baixa. Os reservatórios ainda estão longe de chegar próximo aos níveis observados em 2011, quando, a essa altura do ano, o subsistema Sudeste-Centro-Oeste, que garante 70% do armazenamento do país, apresentava nível de 87,8%, percentual bem mais confortável do que os atuais 56,7% (veja o quadro).
A intenção do ONS é chegar ao fim do período seco com um percentual de armazenamento global próximo de 30%, diferentemente do que ocorreu no ano passado. O estresse hídrico vivido pelo país em 2015 derrubou os níveis dos reservatórios a 10%, impondo forte despacho das usinas térmicas, o que elevou o custo da energia a patamares recordes. “Acredito que seja possível chegar ao fim do ano com percentual de 30% nos reservatórios. Tudo vai depender da política energética adotada e do percentual de energia termelétrica utilizado ao longo do ano”, diz Juliana Marreco, especialista em planejamento energético e professora da escola de administração e negócios Ibmec.
O índice de 56,7%, registrado no sistema Sudeste-Centro-Oeste é bem superior aos 36,03% verificados em 2015 e aos 37% de 2014. Nos últimos dois anos, com o baixo volume de chuvas na bacia do Rio São Francisco, a usina de Três Marias, operada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), enfrentou períodos críticos. No fim do período seco de 2014, o volume armazenado na represa atingiu apenas 2,57%. No ano passado, o reservatório continuou com níveis bem abaixo do ideal. No fim do período chuvoso, 37,5% da sua capacidade de armazenamento de água.
CUSTOS Apesar de o governo ter mudado de vermelha para verde o sistema de bandeiras tarifárias, aliviando a conta dos consumidores residenciais, já que foi retirada a cobrança adicional pelo quilowatt/hora, a promessa de redução não se confirmará. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou reajuste à Cemig de 4,21% da tarifa no consumo de residências, com vigência a partir de amanhã. Ainda que tenha vindo inferior ao previsto por analistas do setor elétrico, que chegaram a estimar remarcação de 10%, a correção vai fazer o consumidor pagar mais caro. “O efeito da bandeira verde será praticamente anulado com o reajuste de 4,2% autorizado à Cemig”, diz a especialista Juliana Marreco.
Já no chamado mercado de curto prazo (regulado pelo Preço de Liquidação das Diferenças – PLD), o panorama é inverso. O preço da energia está em baixa e as distribuidoras com sobrecontratação. Para que haja recuperação do preço é preciso haver crescimento da carga. Para Juliana, a expectativa de queda de 4% no Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) em 2016 é sinal de mais um ano de baixo consumo.
Em 2015, a queda total do consumo no Sistema Interligado Nacional foi de 2,1% em relação a 2014, mas o setor industrial apresentou redução ainda maior, de 5,3%. Com o aumento de preços da energia, que chegou a 51% na média do país, até mesmo o setor residencial diminuiu o uso da energia, o que não ocorria desde 2001.
Waltér Fróes, diretor da CMU comercializadora de energia, acredita que os preços no mercado de curto prazo vão crescer no segundo semestre. Segundo ele, o baixo nível de chuvas no Nordeste já começou a pressionar a demanda. No entanto, mais forte que as questões climáticas, Walter acredita que o sistema elétrico será reestruturado com efeitos já no segundo semestre deste ano. “A escolha de Paulo Pedrosa, como secretário-executivo de Minas e Energia, e de Luiz Barroso, na presidência da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) conferem um perfil altamente técnico e qualificado ao setor. Os indicados têm ampla experiência e olhar holístico, por já terem atuado nas diversas áreas do segmento”, elogiou. Para Fróes, o preço da energia deve refletir a realidade da operação. “Não justifica ter uma energia térmica gerada a R$ 400 por MW/h (megawatt/hora)e o PLD a R$ 30 ou R$ 40 MW/h”, criticou.