O aumento do preço do trigo observado em maio no mercado interno, está pressionando os custos da indústria. Já em junho, os moinhos devem repassar reajuste de 10% para a farinha de trigo. A correção nos preços da matéria-prima encarece os custos da panificação, já que a farinha tem peso de 30% na composição do custo final do paõzinho francês, por exemplo. Apesar da inflação do trigo, padarias de Belo Horizonte não devem repassar a alta, já que em plena crise, o consumidor anda arredio e reduzindo gastos.
José Batista de Oliveira, presidente da Amipão (Sindicato da Indústria da Panificação de Minas Gerais), calcula que o encarecimento do preço da farinha de trigo em 10% vai representar uma alta entre 3% e 3,5% no custo final do pão. "A decisão é individual de cada estabelecimento, mas no momento não vemos clima para aumento de preços. É possível que esse custo seja absorvido pelo dono do negócio", diz Batista. Em média, em Belo Horizonte, o preço do paõzinho varia entre R$ 10 e R$ 10,50 o quilo.
O presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh disse nessa tarde, em São Paulo que o reajuste será repassado pelos moinhos. "Em pouco mais de três semanas os preços aumentaram 20%, de R$ 750 a tonelada para R$ 900 (a tonelada). Com essa alta não será possível manter os preços atuais por mais de 30 dias", afirmou. Saigh participou nesta quinta-feira, de seminário sobre o mercado de trigo e perspectivas econômicas para 2016 e 2017, promovido pela entidade.
As cotações do cereal dispararam no último mês porque, além de não haver grandes estoques do cereal colhido em 2015, indústrias de carnes e fabricantes de ração demandaram trigo para substituir o milho, cujos preços subiram ainda mais. Grandes empresas têm disputado com moinhos o pouco trigo com qualidade para panificação que resta neste período de entressafra no Brasil. "Há mais de 20 anos não víamos essa disputa entre granjeiros e moinhos", afirmou Saigh.
A alta em tão curto espaço de tempo surpreendeu os moinhos, que não tinham estoques longos do produto nacional. Desde o ano passado, devido à queda do consumo interno dos derivados de farinha, a indústria tem evitado alongar os estoques. A falta de capital de giro e a menor disponibilidade do mercado financeiro em liberar recursos também explicam essa cautela, disse Saigh. Ele estima que o volume de trigo nos armazéns dos moinhos brasileiros seja 30% menor que em igual época do ano passado.