A empresa contratada cobrou pelo serviço o valor de R$ 7 mil, contemplando doces, bebidas e salgados para servir 150 pessoas, mas não o serviço não apareceu. Segundo os noivos, os fornecedores garantiram até o último minuto que as comidas estavam chegando e algum tempo depois pararam de atender os telefones celulares. Diante do prejuízo financeiro e moral, o casal vai registrar boletim de ocorrência e acionar a Justiça contra a empresa.
A noiva, Raquel, conta que o buffet D'Paula está registrado como Dpaula Rocha Recepções e Eventos em nome de Gustavo de Paula Barcellos. Ela diz que tudo havia sido confirmado por ela e pelo cerimonial na véspera do casamento. Em uma das ligações feitas ao proprietário antes do desligamento dos aparelhos celulares, Barcellos chegou a dizer que os salgados haviam estragado e que mandaria, em substituição, itens de comida de boteco para o evento.
A espera continuou e nada apareceu. A festa só não foi totalmente estragada por causa da solidariedade de parentes e amigos, que improvisaram o resto da comemoração e, inclusive, a champanhe foi servido em copos descartáveis e o bolo foi comprado em padaria. Os estudantes Renata Santos, 24, e Matheus Ferreira, 25, que se casaram no mesmo dia e horário em Contagem, ficaram sem festa por causa do mesmo buffet.
A noiva conta que pagou cerca de R$ 20 mil por mobília e fornecimento de salgados, comida de boteco e jantar, além de um barman para fazer drinks na hora. No lugar do serviço contratado, recebeu alimentos insuficientes, carne congelada, jiló e limão estragados. “Ele não mandou vasilhame, não tinha água nem gás para fazer a carne, não dava mesmo. Os garçons queriam ir embora porque ele não tinha pago ninguém. Meu pai teve que pagar também a mobília, que queriam levar de volta por causa do cano”, conta Renata, que decidiu cancelar a festa e, ontem, registrou boletim de ocorrência.
PROVAS VITAIS Em Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, de acordo com o advogado Adriano Cotta Barros, buffets também têm acumulado queixas feitas por consumidores insatisfeitos. Ele afirma que, recentemente, cerimoniais que oferecem pacote de decoração e bufê foram motivo de desespero de noivos. “Um deles, o bufê Cardoso Eventos foi julgado pela Justiça depois de, em setembro, não oferecer nem 40% do que foi acordado. A empresa foi condenada a devolver 35% dos R$ 30 mil pagos pelos noivos e R$ 10 mil pelos danos morais”, destaca, recomendando aos que passam por situações como essas a obterem o maior número possível de provas, como fotos, filmagens e outros fornecedores como testemunha.
“A crise econômica pode até ajudar nesses casos, mas o que prevalece é a falta de caráter desses empresários”, critica. Nem mesmo tradicionais empresas do setor estão imunes ao golpe. No ano passado, o Buffet Cléo Perrela fechou as portas, deixando de honrar pelo menos 10 contratos. Na época, a responsável admitiu passar por um período de dificuldades e, de acordo com coordenador do Procon do Ministério Público, Fernando Abreu, ela tem procurado pagar o que deve aos consumidores lesados.
“Mas no caso do bufê de Tereza Cavalcanti, que fechou em 2014 às vésperas de casamentos e festas, deixando pelo menos 400 pessoas desatendidas, a história foi diferente. Como eles sabiam que dariam o golpe, passaram bens em nomes de terceiros”, comenta Abreu. As vítimas, em sua maioria noivos, debutantes e formandos, à época da falência, ainda não receberam o valor investido de volta ou foram indenizadas. No site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) há mais de 250 processos envolvendo o nome do grupo.
PARA SE PROTEGER
Confira os conselhos dos órgãos de defesa do consumidor
» Procure contratar bufês por indicação de amigos ou busque aqueles cujos serviços você já presenciou em uma festa e gostou.
» Estranhe sempre os preços muito abaixo dos praticados pelo setor no mercado. Pesquise qual é a média cobrada e tente contratar aqueles que estão dentro dela.
» Antes de contratar o serviço escolhido, pesquise o nome da empresa na Justiça do Trabalho. Geralmente, um bufê que está em más condições já é alvo de processos trabalhistas.
» Confira nos órgãos de defesa do consumidor as reclamações referentes à empresa escolhida.
» Ainda que o serviço possa ficar mais caro, peça ao contratado uma garantia bancária, como se fosse um seguro.
» Ao ser vítima de um calote, procure os órgãos de defesa do consumidor que podem, na Justiça, apresentar ação e pedir o bloqueio de bens dos acusados.
Cobrança indevida é prática comum
“Este tipo de calote, infelizmente, tem sido comum”, comenta a coordenadora do Procon-BH, Maria Lúcia Scarpelli. De acordo com dados do órgão, em 2015, na capital mineira, foram 71 reclamações contra empresas contratadas para eventos, inclusive bufês. Neste ano, já são 41 queixas e, para Scarpelli, trata-se de um número alto e a tendência é de esse tipo de insatisfação crescer. “Temos visto calotes e serviços de má qualidade em festas de casamento, aniversários e formaturas”, conta.
Segundo ela, a maioria das reclamações é sobre a cobrança indevida, que é apresentada aos contratantes como um adicional às vésperas do evento. “As empresas estão alterando o preço quando a festa se aproxima. Mas caso essa possibilidade não estiver explícita no contrato, a cobrança é indevida”, avisa Scarpelli. Outra questão destacada pela coordenadora do Procon-BH é a entrega diferente do serviço contratado. “Os consumidores pagam por um tipo de fornecimento e, no momento da festa, há número de salgados e bebidas inferior ao combinado”, afirma.
A mais grave das queixas é a falência do bufê bem no “grande dia”. “Lembro-me de um caso de várias turmas de formandos que contrataram um bufê que oferecia preços mais em conta para a festa de formatura. Na véspera, a empresa faliu e deixou várias turmas na mão. Muitos outros buffês se reuniram e conseguiram oferecer o serviço e soubemos que a dona da empresa sumiu e a família dizia que estava internada em uma clínica de psiquiatria”, conta. A coordenadora do Procon-BH faz um alerta sobre preços cobrados abaixo do valor de mercado.
“As pessoas buscam o milagre acreditando que ele exista, mas não existe”, avisa, alertando que uma diferença de R$ 300 a R$ 400 é compreensível. “Mas de R$ 2 mil, R$ 10 mil é para se duvidar”, diz. O mesmo alerta faz o coordenador do Procon do Ministério Público, Fernando Abreu. Ele vê os fechamentos de bufês como reflexo da crise econômica nas prestações de serviço de uma forma geral.
“São serviços contratados a longo prazo, por isso, o consumidor deve ter total cautela antes de fechar qualquer contratado e pesquisar bem”, avisa, acrescentando que, mesmo com toda a precaução, nada garante que o contratante não vá se frustrar. “Mas é bom ressaltar que em um processo de reparação no processo de falência, ações tributárias e trabalhistas têm preferência e, muitas vezes, o consumidor pode ficar sem nada. Ou, muitas vezes, os sócios já passaram os bens das empresas para terceiros.” Abreu diz que o sonho de um casamento não pode cegar os consumidores e que toda relação de consumo é baseada na confiança e boa-fé.