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Estado de Minas

Setor de mineração espera expansão de 5% em 2017, apesar da crise

Empresas enxergam reação e preveem encerrar o ano com resultado semelhante a 2015, enquanto governo alerta para necessidade de recuperar investimentos, em queda de 15%


postado em 09/08/2016 00:12 / atualizado em 09/08/2016 08:43

Queda no preço do minério de ferro no mercado internacional, retração no consumo brasileiro de bens minerais em geral, indústrias paralisadas e o maior acidente ambiental da história. Os últimos anos não foram fáceis para a mineração brasileira – setor do qual a economia de Minas Gerais depende e é referência – e, agora, a área é alvo de divergências entre governo e empresas quanto aos efeitos da crise.

As mineradoras, representadas pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), já trabalham com a perspectiva de encerrar 2016 no mesmo patamar que a atividade tinha em 2015, segundo o presidente da instituição, José Fernando Coura.

Se houver investimentos em infraestrutura, ele está convencido de que o setor voltará a crescer até 5% em 2017.

Do ponto de vista do governo, a preocupação é com a redução sistemática de capital novo no setor, que garante bons resultados à balança comercial brasileira.

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho, disse nessa segunda-feira, em Belo Horizonte, que, por ano, o segmento vem colecionando quedas de mais de 15% em investimentos e que, dos quase 12 milhões de desempregados no país, grande parte reflete as dispensas na mineração.

No mesmo evento do qual participou o ministro, o presidente do Ibram, José Fernando Coura, informou que o setor não vive um mau momento e considerou a tragédia do rompimento da barragem de Fundão, da Samarco Mineração, em Mariana, na Região Central do estado, um acidente pontual.

Desastre em barragem de Mariana teve grande impacto na economia em Minas(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Desastre em barragem de Mariana teve grande impacto na economia em Minas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Ele afirmou que em 2017 o setor deverá crescer até 5%. Além disso, o esperado Marco Regulatório para a mineração, segundo ele, não é relevante no momento.

Os dois pontos de vista sobre um setor que representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços no estado) ficaram evidentes durante o lançamento do estudo Panorama da mineração em Minas Gerais, com dados compilados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE).

Embora o levantamento mostre números significativos para o segmento, como os 60 mil empregos formais gerados pela mineração entre os anos de 2010 e 2013, os dados são referentes somente aos últimos três anos, excluindo aí o período do agravamento da crise econômica e a tragédia da barragem do Fundão, em Mariana, ambos em 2015. “O estudo se baseia em séries históricas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país é muito ruim em estatística e o que tinha de substancial era até 2013. Mas vamos fazer uma segunda fase dele”, comentou Fernando Coura.

Segundo o presidente do Ibram, todos os últimos entraves pelos quais a mineração vem passando não foram suficientes para prejudicá-la. “A participação de 8% no PIB continua”, garantiu, justificando que o preço do minério de ferro, carro-chefe da produção brasileira, é flutuante e que o país aumentou a sua produção.

Segundo Coura, a crise de 2008 teve mais impacto do que a de 2015 sobre a atividade e, atualmente, as empresas já ajustaram suas operações.“Dentro do setor industrial, foi o que menos sofreu. Além disso, houve a alta do dólar, o que ajudou o setor. E não houve uma avalanche no desemprego.”

Exploração de ferro em Ouro Preto: Ibram prevê estagnação neste ano e recuperação em 2017(foto: Ivson Miranda/Divulgação)
Exploração de ferro em Ouro Preto: Ibram prevê estagnação neste ano e recuperação em 2017 (foto: Ivson Miranda/Divulgação)

Sobre o ocorrido em Mariana – houve vazamento de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos da exploração de minério de ferro da mineradora Samarco, tirando a vida de 19 pessoas –, Coura analisou como um caso referente a uma determinada empresa. “É um avião da companhia que caiu”, disse.

Retração nos resultados

A tragédia, no entanto, além das vítimas, afetou o resultado da indústria em Minas.

Em junho, a Fundação João Pinheiro divulgou dados mostrando que o PIB de Minas Gerais caiu 5,6% no primeiro trimestre de 2016, frente ao mesmo período de 2015, sob pressão do mau resultado da indústria.

A retração do setor foi de 4,2% de janeiro a março, influenciada pela queda da indústria extrativa, com reflexo direto do rompimento da barragem de Fundão da Samarco , e a consequente suspensão das atividades da empresa, que é essencialmente exportadora de minério de ferro.

Ainda com visão otimista, Coura afirmou que, na pior das hipóteses, a mineração fechará 2016 com números parecidos aos de 2015. “Se houver uma retomada na infraestrutura, poderemos crescer até 5% em 2017”, apostou.

Porém, de acordo com o ministro Fernando Coelho, o setor precisa de investidores para se recuperar. “Estamos vendo países como a Argentina, Peru, Chile e Colômbia ganhando espaço e passando na nossa frente. É preciso voltar a atrair investimentos para o país”, afirmou.

Ele analisou que a crise econômica, em 2015, e “a brutal queda no preço do minério” contribuíram para a queda nos investimentos do setor. “O desaquecimento da economia em todos os setores impactou a mineração. Por ano, estamos tendo queda superior a 15% nos investimentos, que têm um saldo positivo na balança comercial”, disse.

O ministro ressaltou que a retomada da mineração vai depender da criação de ambiente atrativo para os investidores privados, o que vai ser definido depois do processo eleitoral. “Não temos o dado certo de quanto foram os demitidos na área, mas com esses 12 milhões de desempregados no país, um setor que emprega como a mineração certamente foi um dos mais afetados em Minas”, concluiu.

Governo quer acelerar regulação
Encaminhado ao Congresso em 2013, o projeto do novo Marco Regulatório da Mineração ainda está em discussão.

O documento visa atualizar o marco vigente, que é de 1967, aumentar as receitas do governo federal e modernizar a relação entre as empresas e o setor público.

Para o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho, a definição das mudanças pode ser a salvação para o setor. O fato de o projeto estar há alguns anos no Congresso, de acordo com ele, vem causando insegurança jurídica em investidores. “Desde que o marco chegou à Câmara dos Deputados, o número de investimentos na mineração tem caído no país”, disse.

A intenção, de acordo com o ministro, é acelerar a tramitação do projeto, uma vez que “diversos estados brasileiros estão sendo prejudicados por falta de definição”. “Estamos ouvindo as grandes e pequenas empresas da mineração sobre o que pode ser feito do ponto de vista regulatório. Precisamos criar investimentos e atrair investidores para o país”, afirma.

José Fernando Coura, presidente do Ibram, ressaltou que mudanças são bem-vindas, mas que alguns eventos políticos precisam ocorrer, como as reformas tributária, previdenciária e trabalhista. “Tem tanta demanda que esse (o marco regulatório) é um tema importante, mas não relevante para a sociedade. Ele não é um impeditivo de crescimento da atividade, ele cria uma insegurança jurídica”, afirmou, enumerando as principais políticas públicas para o setor. “Respeito aos contratos; um marco com bastante atratividade, como informação geológica e geofísica, e, principalmente, garantia e respeito para que se tenham condições jurídicas nos investimentos”, destacou. (LE)

 

 

Fôlego baixo
O Brasil registrou, de janeiro a julho, 1.098 pedidos de recuperação judicial de empresas, 75,1% a mais do que as 627 solicitações apresentadas no mesmo período de 2015, apontou o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações. Em julho, as recuperações judiciais subiram 4,2% ante junho e avançaram 29,6% na comparação com  idêntico mês do ano passado. As falências apresentaram 1.058 pedidos no país nos primeiros sete meses do ano, aumento de 9% em relação aos mesmos sete meses de 2015. De acordo com a consultoria Serasa Experian, há sinais de leve melhora da economia, mas ainda pesam sobre as empresas o fraco nível de atividade no país e os juros altos no sistema de crédito financeiro.


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