O crédito caro, o crescimento do desemprego e o encarecimento do custo de vida continuam atuando como uma pesada artilharia em direção ao varejo, mas foi acesa em junho uma luz no fim do túnel para o setor. Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PME) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram variação positiva de 0,1% das vendas frente a maio, a rigor uma estabilidade. Outra notícia que traz algum alento ao comércio é a queda pelo terceiro mês, em julho, do número de inadimplentes. De acordo com levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pela consultoria Boa Vista SCPC, o número de pessoas com contas em atraso no Brasil diminuiu de 59,1 milhões em junho para 58,9 milhões no mês passado.
Apesar da redução, ainda se trata de um contingente muito elevado, representando 39,57% da população maior de idade. O estudo apontou recuo de 3,3% da inadimplência em julho perante o mesmo mês do ano anterior.
Analistas da economia afirmam que ainda é cedo para falar em recuperação do comércio. Indicando o aperto das famílias para quitar dívidas, a inadimplência cresceu em julho na comparação com maio, alta de 4%, segundo dados da Boa Vista SCPC para dívidas vencidas.
Na comparação com junho do ano passado, as vendas do varejo caíram 5,3%, mas frente a maio houve estabilidade: 0,1%. No segundo trimestre, o varejo caiu 0,5% ante o trimestre anterior. “Esse é o melhor resultado do comércio desde o terceiro trimestre de 2014, quando os segmentos mergulharam na recessão”, comenta Fábio Bentes, economista da CNC. Segundo ele, o resultado do último trimestre revela que a crise no varejo dá sinais de estar perdendo a força. “O segundo semestre deve ser melhor que o previsto inicialmente, mas só esperamos recuperação a partir de meados do ano que vem, com a melhora também do crédito. Pelos nossos cálculos, com base nos números do IBGE, 2016 deve mostrar o pior resultado da série histórica do varejo”, completa Bentes.
Em junho, os resultados piores vieram dos setores de hipermercados e supermercados, que vêm sofrendo com a pressão inflacionária. Com queda de 0,4% das vendas em junho, o setor não conseguiu puxar para o vermelho o resultado geral do varejo, mas mostra que a recessão vem destruindo o bolso do consumidor. No semestre, o segmento tem queda de 3,6%, pior resultado desde o primeiro semestre de 2003. Entre todos os segmentos pesquisados pelo IBGE, somente farmácia e perfumaria fecharam o semestre no azul. O resultado de 0,2% foi apertado. No entanto, garante ao setor o melhor resultado para o varejo.
ORÇAMENTO APERTADO
O termômetro de vendas da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH) também esfriou e marca baixa temperatura. As vendas registraram queda de 1,52% no primeiro semestre de 2016, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Bruno Falci, presidente da CDL-BH, atribuiu a piora dos indicadores econômicos ao orçamento dos consumidores. Segundo o executivo, apesar do desempenho negativo em junho, a retração do setor ficou menor que o índice registrado no mesmo período de 2015, de 3%. “Este resultado pode ser positivo para o comércio, pois essa desaceleração na queda nas vendas pode indicar um fôlego para o segundo semestre de 2016”, observou.
Com cautela, Gustavo Josias, dono da loja de variedades Gujoreba, na Savassi, região Sul da capital, diz acreditar nos sinais positivos, mas prefere fazer projeções com os dois pés no chão. “Neste ano, nossa expectativa é que as vendas fechem no mesmo patamar do ano passado. Não devemos crescer, mas consideramos que manter o mesmo patamar já é um bom resultado no momento atual.” Gustavo Josias diz que o consumidor ainda está desconfiado e com medo de gastar, afetado também pelas notícias ruins. “Esperamos que no segundo semestre o consumidor ganhe mais confiança, que medidas macroeconômicas tenham repercussões positivas na economia do país.”