São Paulo, 11 - Na avaliação de Salomão Quadros, superintendente adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a queda da inflação deverá ser "arrastada". Neste ano, ele prevê que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique próximo de 7,3%, portanto acima do teto da meta estipulada pelo governo (6,5%). Em 2017, Quadros acredita que a inflação fique entre 5,5% e 6%. A seguir os principais trechos da entrevista.
Que análise o sr. faz sobre o resultado do IPCA de julho?
A alimentação veio mais forte do que poderíamos imaginar. A alimentação no domicílio está acumulada em 16% em 12 meses. Só temos cinco meses até o fim do ano. Por hipótese, se ela desacelerar 1 ponto a cada mês, chegaria no final do ano a 11%. É um número alto para quem está precisando de uma inflação em queda. Precisaria que outros itens estivessem rodando bem abaixo.
O sr. prevê algum alívio para a inflação de alimentos?
Em relação aos alimentos, pelo menos imediatamente, haverá um alívio. Eu digo isso até com base no IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo). Vários números mostram que vamos ter um alívio no curto prazo. Não vai desfazer os números altos acumulados, mas vai interromper essas novas altas.
O sr. poderia exemplificar?
Posso dar dois exemplos. O feijão e o leite, que foram os dois vilões. Nos últimos 10 dias de julho, o feijão está com queda de 5,88%. Ele abriu a primeira prévia do mês passado com alta de 24,30%. Outro destaque no IPA é o leite industrializado. Na primeira prévia de agosto, estamos com queda de 0,76%. No mês passado, nessa mesma época, estava com alta 16,67%. O IPA já antecipa uma queda forte, embora não necessariamente vai ficar negativo para o consumidor.
A inflação de serviços ainda dá sinais de força. Que avaliação o sr. faz sobre isso?
Eu analiso o setor de serviço tirando a passagem a aérea, por causa da volatilidade. No fim do ano passado até março, a taxa do setor de serviços, em 12 meses, teve um recuo de 1 ponto porcentual, o que é uma marca incomum. Serviços em geral é mais arrastado. Deu a impressão de que, com a piora do mercado de trabalho e com a recessão, a inércia do setor começaria a ser vencida, mas nos quatro meses seguintes houve uma espécie de retrocesso. De março para julho, esse mesmo indicador teve um recuo de 0,34 ponto porcentual.
Mudou a velocidade...
A velocidade de recuo agora é mais a que estamos acostumado a ver, e que mostra a inércia de serviços a despeito da taxa de desemprego já ter passado de 11%. Os serviços estão baixando, mas estão baixando num ritmo um pouco mais lento.
Qual é a previsão para o IPCA deste ano?
Ficar abaixo de 7% já se tornou impossível. Para o IPCA de 2016, estou trabalhando com alguma coisa entre 7,3%, no meio do caminho entre 7% e 7,5%.
Como o sr. prevê a inflação em 2017? O Banco Central vai conseguir levar a inflação para 4,5% como tem prometido?
Eu acho que o BC vai manter a taxa de juros. A coisa está andando devagar. Ele já anunciou isso. O mercado já incorporou essa nova interpretação do BC em relação à inflação. Existem duas coisas: o choque agrícola e a dinâmica dos serviços que, apesar do juro alto e do desemprego, tem uma inércia que desafia. Vamos ter uma queda da inflação, só que meio arrastada. Para o ano que vem, alguma coisa muito abaixo de 6% é difícil.
Estou trabalhando com uma projeção entre 5,5% e 6%.
Por que o sr. faz essa previsão para a inflação do ano que vem?
Em 2017, nós não vamos ter a contribuição dos preços administrados. Este ano, quase 90% da redução da inflação se deve aos administrados. No ano passado, os preços administrados fecharam com mais 18% de alta e este ano devem fechar próximo de 6%. No ano que vem não vai ter queda da energia elétrica e tem a questão da gasolina, porque em 2016 parece que está descartado aumento de Cide. Ou seja, dois importantes preços administrados devem ter uma trajetória menos favorável.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.