São Paulo, 04 - A International Finance Corporation (IFC), corporação de investimento no setor privado do Banco Mundial, está retomando o direcionamento de recursos para participação em empresas no Brasil, após 12 meses de concentração em dívida (linhas de empréstimo). Ao mesmo tempo, os novos investimentos contratados de longo prazo devem voltar a crescer, após um ano de contração. No ano fiscal de 2017, a IFC pretende elevar os investimentos contratados no País para entre US$ 1,5 bilhão e US$ 1,7 bilhão. O investimento direcionado para empresas de capital aberto ou fechado deve atingir a proporção de 25% a 30% do total em 2017, de zero em 2016.
No ano fiscal de 2016, encerrado em 30 de junho, os investimentos comprometidos da IFC somaram US$ 1,3 bilhão, dos quais US$ 900 milhões de longo prazo e US$ 400 milhões em operações de até um ano. O foco no segmento de dívida foi reflexo da crise econômica, que reduziu a liquidez do sistema financeiro e do mercado de capitais, com a contração do segmento de infraestrutura.
Os investimentos de longo prazo, que melhor refletem os objetivos de atuação da instituição, caíram 47% em relação aos investimentos de longo prazo totais da IFC no ano fiscal encerrado em junho de 2015. Desse montante, quando alcançou US$ 1,7 bilhão, US$ 395 milhões foram em ações, o equivalente a 23% do total. Os investimentos de longo prazo da IFC foram de US$ 1,2 bilhão no ano fiscal de 2014, dos quais US$ 366 bilhões (30%) em equity.
Héctor Gomez Ang, gerente geral para o Brasil da IFC, atribui o direcionamento dos investimentos do fundo em dívida à crise de liquidez do mercado de capitais e bancário. "Foi reflexo da contração da economia", diz em conversa com o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. O executivo à frente da IFC no Brasil prevê, no entanto, que no ano fiscal de 2017 a proporção de investimento em ações se mova para 25% a 30% dos investimentos de longo prazo comprometidos, que devem voltar a crescer.
"Estamos em momento de entrada em equity", afirma, mesmo que a bolsa brasileira sinalize alta, o que poderia abrir caminho para desinvestimentos. "Temos uma questão filosófica em nossos investimentos, que é nosso papel de promover e desenvolver mercados e a infraestrutura", explica.
A IFC não estabelece prazos para desinvestimentos, os quais estão relacionados à maturação do papel da instituição na empresa. Além disso, do ponto de vista financeiro, Ang considera que o "valuation" das companhias está mais adequado. "No longo prazo, os fundamentos brasileiros são os mesmos", frisa.
Desde o início do atual ano fiscal, de 2017, a IFC não concluiu nenhum investimento em equity. Ang afirma, entretanto, que nos próximos meses a instituição já deve anunciar investimentos em participação, as quais sempre são minoritárias, em empresas. O executivo não forneceu detalhes. Entretanto, tradicionalmente, a corporação tem em seu portfólio os setores de infraestrutura, educação, saúde, financeiro e do agronegócio. A carteira de investimento da IFC somava, no final do exercício de 2016, US$ 4,1 bilhões, mesmo montante do ano fiscal de 2015.
Olhando para o curto prazo, Ang considera que o desempenho econômico brasileiro ainda sugere cautela. Para ele, o processo de reversão de dois anos seguidos de recessão será gradual, considerando a gravidade desse ciclo de baixa da economia. "Por enquanto, o que temos são apenas mudanças nos indicadores de confiança e ainda não temos total certeza de que a recessão atingiu seu pico ou que chegamos ao fundo do poço", ressalta.
Ang acrescenta que, ao mesmo tempo, ainda que tenhamos atingido o fundo do poço, "esse fundo é muito profundo". Paralelamente, afirma que o processo de recuperação econômica é frágil, dada as variantes políticas. O executivo da IFC entende que, por isso, o mais provável é que a economia comece a dar sinais de retomada em 2017. "Há, porém, uma fragilidade à recuperação que é a capacidade de entrega de um eventual governo Temer", sinaliza. "Se uma boa parte das ideias forem aprovadas, já haverá impacto positivo", acrescenta.