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Estado de Minas

Busca por ajuda psicológica aumenta por causa da crise financeira

Incertezas geradas por desemprego em alta, perda de renda e inflação chegam aos divãs com aumento dos distúrbios mentais de quem está sem trabalho, sem renda e com dívidas


postado em 11/09/2016 06:00 / atualizado em 11/09/2016 07:07

Na tentativa de segurar o rojão da crise na economia, profissionais de diversos perfis estão levando para o divã a pressão que o caos econômico desencadeou nas suas vidas. A recessão está presente em 80% das queixas dos pacientes em muitos consultórios de psiquiatria de Belo Horizonte, e a procura por uma ajuda médica ou psicológica por causa do cenário já corresponde a 40% dos casos em alguns locais, nos últimos 12 meses. Ansiedade, insônia, distúrbios, desânimos, depressão e síndrome do pânico são alguns dos quadros desenvolvidos por quem sentiu o impacto do desemprego, inflação e redução do poder de consumo.


Pior do que os males mentais desencadeados são os casos de pessoas que, desesperadas com as perdas econômicas, chegaram ao extremo e pensam em tirar a própria vida. Com dados sob sigilo, o Centro de Valorização à Vida (CVV) de BH informa que as ligações de pessoas com esse tipo de pensamento têm crescido nos últimos meses.

Dois casos ocorridos no final de agosto chamaram a atenção do Brasil, em especial da classe médica. No Rio de Janeiro, um executivo da área de telecomunicações é o principal suspeito de matar a esposa e os filhos antes de cometer o suicídio. Em uma carta deixada por ele, a explicação é de que a família não teria mais renda e ele não teria como sustentar todos. Em São Paulo, um motoboy, de 41 anos, se jogou do alto de um prédio com o filho de 4 anos nos braços. Familiares disseram à polícia que ele estava desempregado e passava por problemas financeiros. Para especialistas, a crise financeira não é o principal motivo para alguém que tira a própria vida, porém, ela é capaz de intensificar problemas mentais já existentes nas pessoas.

Casos como esses já foram atendidos recentemente pelo CVV em BH, quando um pai de família, alegando problemas financeiros, disse a um voluntário do serviço pensar em se matar e também tirar a vida dos filhos. Graças ao trabalho do grupo, o homem não cometeu o ato. “O número de pessoas pedindo ajuda aumentou nos últimos meses, mas não há como identificarmos se foi a crise econômica o principal motivo, embora a questão financeira sempre apareça nas ligações”, conta a voluntária do CVV e treinadora de inteligência emocional Klênia Batista. Segundo ela, geralmente, os adultos que hoje estão na ativa não estão preparados para lidar com a frustração. “Geralmente, são homens que não viveram nenhum momento de crise e não estão vendo uma solução imediata.”

Nos consultórios, há trabalhadores que temem perder o emprego, ou os já dispensados que lamentam não conseguir voltar ao mercado de trabalho. Executivos que sentem o peso de lidar com as demissões e uma possível falência, e pais de família desesperados para segurar o casamento, que também ficou balançado, e ainda para pagar planos de saúde, escola e alimentação para os filhos. “Há uma desesperança e uma falta de luz no fim do túnel, ou de perspectiva a curto prazo. A crise sempre impacta no aparecimento de ansiedade e transtornos depressivos, ou até mesmo o suicido”, alerta o psiquiatra da Associação Mineira de Psiquiatria e professor de saúde mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Frederico Garcia.

À medida que os índices econômicos escancaram a realidade brasileira, aumenta a ansiedade de quem vive o cenário ou de quem teme em viver. Especialistas afirmam que, mês a mês, a procura por atendimento médico vem aumentando sistematicamente entre aqueles que, por enquanto, podem pagar por isso. Ao mesmo tempo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta o reflexo mais cruel da crise: o desemprego. De acordo com dados do IBGE, já são praticamente 12 milhões de pessoas sem emprego no país – um recorde histórico.

Para aumentar a ansiedade, o tempo médio de procura por uma vaga no mercado no primeiro semestre deste ano, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese), ficou em 36 semanas, ou nove meses, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza e Brasília, áreas onde o Dieese faz sua pesquisa de emprego.

Há seis anos, quando o Brasil vivia o pleno emprego, a busca durava, em média, 20 semanas, ou cinco meses, tempo coberto pelo seguro-desemprego. Além disso, segundo o IBGE, o rendimento médio real habitual do trabalhador brasileiro caiu 4,2% no segundo trimestre de 2016, na comparação com o mesmo período de 2015, chegando a R$ 1.972 no trimestre encerrado em junho deste ano. Como vilã de um poder de compra cada vez mais baixo, há a inflação, que alcança 8,97% nos últimos 12 meses.

Depoimentos

Há dias que dá uma tristeza tão grande que a vontade é de fazer um buraco e fugir para dentro dele. Você fica sem perspectiva, sem ânimo para nada. Estou desempregado desde o ano passado. Dá uma sensação de tristeza por não saber o que vai acontecer, medo de ter quer arranjar uma atividade que não sei fazer. Tenho um filho e a minha esposa é quem está segurando as despesas. É terrível para mim, pai de família, ver minha mulher sustentando a casa. Tivemos que tirar nossa filha da escola particular. Tem dias que fico muito deprimido, mas ainda não procurei ajuda.”

T.H.G
41 anos, metalúrgico

"O fato de não honrar um compromisso me tira o sono. Já fiquei noites em claro fazendo contas e mais contas. Fiquei desempregado no ano passado e, desde então, só consigo alguns bicos, que não rendem muita coisa. Estava na faculdade particular e, com o desemprego, tive que largar. Os professores tentaram me ajudar, colegas, inclusive, doaram-me cesta básica. Tinha dias que meus filhos não tinham o que comer. Já chorei muito. É uma humilhação ter que passar por essas coisas. Procurei um médico e estou sendo medicado com antidepressivos.”

G.V.L,
34 anos, universitário

“Continuo no meu emprego, mas a sensação é de que vou ficar desempregada a qualquer momento. Tenho amigos e familiares que não estão conseguindo se recolocar no mercado. No mês passado, tive uma crise de ansiedade que achei que morreria. Meu coração disparava muito. Estou tomando calmantes por conta própria, caso contrário não conseguiria dormir. O meu medo é de ficar sem emprego e não poder sustentar meus filhos.”

F.D.F
35 anos, enfermeira

FIQUE ATENTO

Se você tem alguns desses sintomas, procure ajuda:

Ansiedade muito acentuada, levando a sensações físicas como taquicardia, sudorese intensa, sensação de desmaio, insônia persistente, incapacidade de responder aos problemas do cotidiano.

Evite que a crise afete
sua saúde mental:

Separe o que é da ordem pessoal e o que é público, e também o que é realidade que realmente interfere na vida da pessoa e o que é distorção ou fantasia na percepção da crise nacional.

Procure ajuda para reorganizar seus hábitos de consumo e administração das finanças (educação financeira)


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