Aproveitando a crescente insatisfação dos usuários com a internet das grandes empresas, pequenos provedores estão ganhando o mercado e, em plena retração da economia, crescem cerca de 30% ao ano. Já são 684 provedores regionais em Minas Gerais – segundo maior estado com esse tipo de empresa, perdendo apenas para São Paulo, com mais de 1.065. E, de acordo com os empresários do setor, a meta é ocupar o nicho ignorado pelas gigantes empresas de banda larga, como o público de baixa renda, as cidades do interior e a zona rural, onde as gigantes muitas vezes não chegam. Com preços competitivos, essas pequenas operadoras estão crescendo três vezes mais do que as teles e, este ano, já avançaram 4%, chegando a 2,5 milhões de acessos.
Para muitos empresários do setor, o salto cada vez maior dos chamados Provedores de Acesso à Internet (ISPs) – como são chamados os pequenos provedores – frente ao crescimento menor das grandes é reflexo de dois cenários: insatisfação dos usuários com essas empresas e o fato delas ignorarem alguns espaços. “Os ISPs começaram na década de 1990, quando a internet discada exigia a autentificação das redes. Com essa exigência extinta, os provedores que faziam esse serviço começaram a montar as suas redes próprias”, comenta o vice-presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Breno Vale, que é dono da Plug Telecom.
Atualmente, essas empresas têm licenças da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e já ocupam 15% do mercado de acesso à internet e absorvem grande parte da produção dos fabricantes de equipamentos. Segundo a Abrint, só nos últimos cinco anos, o número de provedores regionais legalizados quadruplicou e somam cerca de 5 mil empresas no Brasil. “No interior do país, o serviço das empresas regionais nasceu pela ausência das grandes operadoras. Há muitas cidades brasileiras que não são atrativas para as grandes empresas e, com isso, vamos ganhando mercado. Em Minas, por exemplo, são 684 provedores regionais”, afirma Vale.
O grande diferencial, segundo ele, é que os ISPs estão mais próximos dos seus clientes. “Nas grandes, a pessoa com um problema na internet passa por um processo demorado para o atendimento e, depois de 48 horas, pode ser que o caso seja solucionado. Já com as pequenas, os usuários conhecem o dono, vão até a empresa. Em função dessa relação mais próxima estamos conseguindo mais clientes”, afirma, apontando que o preço é outro trunfo dos pequenos.
“Como temos uma infraestrutura menor e muitas dessas empresas são compostas por famílias e têm até 50 funcionários, os provedores pequenos atendem, no máximo, cinco cidades. A internet de 5 mega custa, em média, R$ 45, enquanto, com as grandes, seria em torno de R$ 72, com 3 mega”, compara Vale. A zona rural é também está no foco das pequenas operadoras. Isso porque, segundo o especialista, essas empresas usam a transmissão a rádio para o sinal e conseguem chegar aos locais mais afastados.
FIBRA ÓTICA Uma aposta desse mercado em expansão é o investimento em fibra ótica. “Já foi apresentada pesquisa que mostra que os pequenos provedores compram mais de 50% das fibras óticas de fornecedores, por ano. É justamente para que se tenha uma especialização na melhoria da infraestrutura.” O assunto será um dos temas abordados no 5º Congresso RTI de Provedores de Internet, que reunirá os principais players do segmento para discussões sobre tecnologias de acesso, regulamentação, geração de receita com novos serviços de valor agregado e oportunidades no mercado de banda larga.
O evento ocorre pela primeira vez em Minas Gerais e contará com uma exposição com novas tecnologias do segmento e uma palestra com um conselheiro da Anatel, que abordará políticas públicas, franquia e inclusão digital. Em 2014, o país registrou 24 milhões de assinantes de banda larga, dos quais apenas 3% são conectados por fibra ótica. Segundo estudo da Abrint, seria possível, em cinco anos, levar essa estrutura de conexão à internet a um quinto dos municípios brasileiros. Para atingir esse patamar – equivalente a 12,5 milhões de residências – é necessário investimento de R$ 9 bilhões.
A fibra ótica é a aposta do empresário Juliano Rastelli, dono da Iconecta. Ele conta que a sua empresa surgiu em 2013 e começou com dois clientes, no Sul de Minas. Com o serviço voltado para as classes C, D, e E ele diz que, atualmente, tem 4 mil clientes, no extremo Sul mineiro, e atende 100% da área rural. “Com a fibra ótica, poderei levar aos meus clientes mais velocidade da banda larga, como o serviço de 100 mega”, afirma. Ele diz ter 50 funcionários e atende cerca de 10 cidades, e até o Natal pretende oferecer o serviço de 100 mega a R$ 100.
Outra área que o mercado de pequenos provedores está atento é a de internet móvel. Segundo Breno Vale, no fim do ano passado, a Anatel leiloou a sobra de frequência 4G no país, o que possibilitou que os provedores regionais entrassem no leilão. “Antes, os leilões eram por blocos e só as grandes empresas conseguiam participar. Desta vez, foi por cidade e a nossa estimativa é de que mais de 1 mil pequenas provedoras comecem a usar a banda larga móvel”, afirma.