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Estado de Minas

Receita gerada por turismo internacional é desperdiçada num Brasil em crise

Setor é pouco explorado, rendendo apenas 0,3% do PIB, apesar de eventos que divulgaram o país, a exemplo da Copa do Mundo e Olimpíadas


postado em 09/10/2016 06:00 / atualizado em 09/10/2016 07:59

(foto: Carlos Moraes/Ag. O Dia )
(foto: Carlos Moraes/Ag. O Dia )

Brasília –
Com atrações turísticas para todos os gostos, o Brasil não consegue explorar o seu potencial a ponto de multiplicar o número de estrangeiros que escolhem o país como roteiro de passeio, mesmo depois da divulgação das belezas nacionais durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A receita brasileira com turismo internacional é de apenas 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços), menor do que aquela apurada em outras nações emergentes, aponta o banco de investimentos Renaissance Capital, com foco nos mercados em desenvolvimento.


Índia e Rússia também têm problemas de desempenho, diz o estudo da instituição, e ainda assim geram mais receita que o Brasil: 1% e 0,6% do PIB, respectivamente. A distância dos principais centros emissores de turistas é uma justificativa para a pífia performance brasileira na área, porém não a única. Para os especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, o Brasil é caro demais, mesmo para estrangeiros de países ricos, sobretudo pelo nível de serviços que oferece, basicamente focado em belezas naturais e sem grandes investimentos turísticos.


Além de a contribuição para o PIB ser mínima, dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) mostram que haverá retração no setor em 2016. “De acordo com a revisão semestral dos nossos números, a queda do setor de viagens e turismo no Brasil foi ampliada de -0,9% para -1,6%, apesar do efeito positivo dos Jogos Olímpicos, por conta da turbulência política e do fraco desempenho macroeconômico”, diz a instituição.


A Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) admite o percentual de 0,3% do PIB com receita internacional de turismo, que deve alcançar US$ 7 bilhões em 2016. O presidente da entidade, Vinícius Lummertz, ressalta, no entanto, que, ao englobar a movimentação interna, a participação do setor na economia brasileira sobe a 3,7%, com geração de mais de 3 milhões empregos. “Se considerarmos o setor expandido, que agrega segmentos indiretos, a contribuição é de 9%, com geração de 8 milhões de postos de trabalho”, diz.


A Embratur estima que o ano feche com a visita de 6,6 milhões de turistas estrangeiros, 4,7% acima dos 6,3 milhões que visitaram o país em 2015. Para se ter uma ideia, Cancún recebe 8 milhões de visitantes. “A participação do turismo é relevante se considerarmos a movimentação interna. No internacional, de fato é baixo. Nossa contribuição é de apenas 0,5% no PIB do turismo mundial. Mas o volume internacional cresceu 60% de 2003 a 2014. Antes o Brasil era um país muito fechado”, afirma.


Para o presidente da Embratur, os números são resultado do baixo investimento no setor. No ano passado, o Brasil gastou US$ 17 milhões em promoção no exterior, enquanto o México investiu US$ 400 milhões e a Colômbia, US$ 100 milhões. A Embratur participava de 65 feiras por ano, e foram 15 em 2016. “O Ministério do Turismo tem o segundo orçamento mais baixo da Esplanada”, acrescenta.


O entrave na concessão de vistos é outro problema. O Brasil retirou a obrigatoriedade para canadenses, australianos e americanos durante as Olimpíadas, porque são países que não oferecem riscos migratórios. “Mas a exigência voltou em 19 de setembro, apesar de termos pedido a extensão por mais um ano”, lamenta. O WTTC defende que os governos tomem decisões políticas que conciliem a segurança de seus cidadãos com a facilitação de entrada de turistas para fins comerciais e de lazer.

POLÍTICA PÚBLICA Para Edmar Bull, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens Nacional (Abav), falta capacitação e visibilidade para o turismo brasileiro. “Precisamos de uma política de investimentos porque para cada 11 empregos um é ligado ao turismo, primeiro setor a se recuperar das crises”, assinala. Bull afirma que o Brasil é um país caro. “A taxa de ocupação é mal aproveitada. Em resorts, por exemplo, é de 54%. Aí eles sobem preço para manter a infraestrutura. Além disso, os impostos são altos”, destaca.


A movimentação interna não é tão baixa, apesar dos altos preços, porque o brasileiro não deixa de sair de férias, emenda o presidente da Abav. “Ele reduz tempo, muda o perfil da viagem, vai de carro, para passear mais perto, não leva a família inteira, mas sai de férias”, avalia. Diferentemente dos dados do WTTC, a Abav estima crescimento entre 5% e 5,5% do setor neste ano. “A metodologia deles é diferente, leva muito em consideração os dados de companhias aéreas, que reduziram os voos no Brasil. Faltam estatísticas confiáveis no setor. A Abav está criando um banco de dados com informações consistentes e vai levá-lo para o governo”, completa.


Por mais que o país tenha conquistado eventos mundiais, o crescimento do turismo internacional, em uma década, foi muito pequeno, ressalta Jaime Recena, vice-presidente do Fórum Nacional dos Secretários Estaduais de Turismo (Fornatur). “Apenas 1,5 milhão de turistas a mais em 10 anos. Esse é um número pequeno para o potencial do país. Falta política pública de turismo. Enquanto não houver a dimensão da importância de investir no turismo, vamos continuar colecionando números negativos”, diz.

Passagem e diárias caras são entrave

O alto preço das passagens aéreas no Brasil contribui para o baixo desempenho do turismo, no entender de Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio, Serviços e Turismo (CNC). “O transporte aéreo é, seguramente, um dos mais caros do mundo e o país é distante. Além disso, a carga tributária do setor é altíssima. Se compararmos com grandes centros dos EUA e Europa, o hotel aqui é caro pelo que ele oferece. E o custo de hospedagem é um fator decisivo”, justifica. A falta de indicadores do setor também é um problema. “Não temos um índice, mas procuramos achar uma variável. Considerando-se atividades típicas, locação de veículos, hotel, restaurante e agências de viagens, o turismo representa 8% da força de trabalho, porém o salário médio é baixo e a informalidade muito alta”, analisa. Para a CNC, o estrangeiro representa de 15% a 20% da receita proveniente do turismo, porém tem gasto médio maior. “É difícil analisar quem é turista em restaurantes e lojas, por isso a dificuldade e as diferenças de metodologia. Mas, para nós, entre 1% e 1,5% do PIB brasileiro é gerado pelo turismo internacional”, afirma.


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