São Paulo, 18 - Depois de a CSN anunciar um aumento de preços de 5% para toda a linha de produtos a partir do início de novembro, o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, acredita que aumentos da mesma ordem por parte de todas as usinas siderúrgicas poderão ocorrer.
"A única que declarou oficialmente é a CSN, mas outras usinas também estão mandando sinais de que farão, possivelmente até antes, entre os dias 28 e 31", declarou.
A explicação para a alta, que será a quarta do ano, é a disparada dos preços do carvão, o que afeta o custo de produção nos alto-fornos. Em outubro deste ano, o preço do carvão no mercado spot na Austrália alcançou mais de US$ 230 por megatonelada, preço FOB, um aumento de cerca de US$ 150 por megatonelada desde os últimos repasses aos preços no mercado de aço brasileiro no meio do ano. De acordo com Loureiro, cada tonelada de aço produzida em alto-forno exige em média 600 quilos de carvão, o que resulta numa elevação de custo de US$ 90 por tonelada no aço.
"O preço do carvão consumiu o spread que vinha sendo conseguido depois das últimas altas de preço", diz. "É por isso que não tem como não haver novos aumentos", ponderou.
O executivo afirma, porém, que a CSN é a mais exposta a esse efeito porque faz suas compras majoritariamente no mercado spot. Outras usinas, afirma, tendem a sentir um impacto mais gradual dessa alta no preço do carvão porque tem contratos trimestrais. Ainda assim, também nesses contratos, os preços do carvão já refletem parte da alta do mercado spot.
A justificativa para a pressão de preços do carvão é a redução da oferta e o executivo avalia que uma retomada capaz de reduzir novamente os preços não deve ser imediata. Com isso, a pressão de custos para as usinas deve permanecer até o próximo ano.
"Só esperamos que o repasse seja feito de forma igualitária a toda a cadeia, incluindo os clientes industriais e não apenas os distribuidores", critica.
Importação
Apesar da expectativa de aumento de preços no mercado doméstico, Loureiro não acredita que haja espaço para crescimento das importações neste ano. Depois de uma elevação nas importações em setembro ante agosto, impulsionada por embarques de laminados a quente, o executivo acredita que as compras externas não devem voltar a ocorrer em grande volume.
Parte da explicação é o temor dos distribuidores com relação a investigação feita no Brasil de suposta prática de dumping da Rússia e da China. "Ninguém está querendo trazer agora porque há o risco de que seja declarado o dumping nos próximos 30 dias", afirma ele, lembrando que isso resultaria em dificuldades para tirar as mercadorias dos portos.
Consumo
Em uma primeira previsão para o setor siderúrgico brasileiro no próximo ano, Loureiro avaliou que espera crescimento no consumo aparente de aço da ordem de 5% ante 2016. Embora as projeções da entidade ainda não tenham sido finalizadas, ele avaliou que um crescimento pode ocorrer em 2017, caso haja maior demanda do setor de infraestrutura.
Em 2016 até setembro, o setor registra uma queda de 20% no consumo aparente na comparação com 2015, mas a maior parte desse recuo ocorreu nos primeiros meses do ano, durante janeiro e fevereiro. A rede de distribuição, por sua vez, viu suas vendas caírem 5,4%, também entre janeiro e setembro na comparação anual, o que Loureiro enxerga como resultado de um ganho de participação do canal distribuidor.
Mantido o cenário atual da distribuição, a expectativa é de que 2017 poderia trazer uma retomada de crescimento, da ordem de 7%, nas vendas.
O cenário de 2016, porém, segue nebuloso. Depois de um começo de ano fraco, o presidente do Inda avaliou que as vendas haviam "parado de piorar" durante os últimos cinco meses, mas agora projeta um desempenho mais fraco para outubro.
O Inda acredita que as vendas e as compras da rede de distribuição em outubro devam cair cerca de 2% ante setembro, depois de terem ficado relativamente estáveis em setembro ante agosto.
Em termos anuais, a expectativa do Inda para o mês atual representa um recuo de mais de 10% nas vendas, que atingiriam assim 246 mil toneladas. A demanda fraca de setores como autopeças e o de construção explicam a projeção ruim. Apesar disso, a possibilidade de alta de preços por parte das usinas em novembro pode acabar estimulando as vendas em outubro, diz Loureiro. "Sempre há uma venda na tentativa de o comprador se antecipar e evitar a alta", comenta.