O avanço dos custos fixos, o maior uso da tecnologia nas escolas, a alta da inadimplência que saltou de uma média 5% para até 16% este ano no estado, a crescente demanda das famílias por novos profissionais nas escolas e até a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha estão na lista do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) para justificar o reajuste médio das mensalidades escolares, entre 11% e 14%, apresentado para 2017. O percentual é quase três vezes a inflação prevista pelo relatório de mercado do Banco Central, o Boletim Focus, que estima uma alta de 5% no custo de vida no ano que vem.
O preço mais alto da escola vai pegar os pais no momento em que as negociações para reajuste dos salários no país não têm ultrapassado a inflação. O custo de vida calculado pelo IBGE está previsto para fechar 2016 em 6,89%, segundo as últimas estimativas divulgadas pelo BC. O percentual está acima do teto da meta estipulado pelo governo para a inflação oficial do país, de 6,5%, mas, ainda assim, é menos da metade do teto médio de reajuste estimado pelas escolas para 2017.
Entidades de defesa do consumidor afirmam que os pais têm direito de verificar de perto a planilha de custos das instituições de ensino, avaliar ponto por ponto, caso considerem os reajustes muito pesados. “Depois de verificar o que está pressionando os gastos das escolas, os pais terão informações para analisar se o reajuste é abusivo e questioná-lo. Um reajuste que é o dobro da inflação deve ser explicado às famílias”, alerta Lillian Salgado, advogada especializada em defesa do consumidor e presidente do Instituto Nacional de Defesa Coletiva.
Renata Senra, mãe de três crianças em escola particular, fecha os olhos devagar ao ouvir a previsão do Sindicato das Escolas Particulares para o ano que vem. Ela acha a média de reajustes, entre 11% e 14%, muito pesada e considera que as mensalidades das escolas deveriam estar alinhadas com o custo de vida. Suas crianças têm entre 6 e 9 anos e Renata planeja mantê-las na rede privada, mas aponta que já andou pensando na possibilidade de experimentar a escola pública. A comerciante autônoma diz que os custos da escola pesam no orçamento e para fazer frente às despesas tem cortado gastos em outras áreas, principalmente com lazer. “Acho muito alto um reajuste de até 14%. Além da mensalidade, existem outros gastos. Os uniformes e livros também são muito caros”, observa.
O filho de 10 anos do administrador Daniel Bonis sempre estudou na rede privada. Bonis diz que a educação de qualidade é uma prioridade, mas considera um reajuste de até 14% “alto e pesado”, especialmente porque a renda das famílias não cresce na mesma proporção. “As escolas têm um peso considerável no orçamento doméstico e com esse reajuste, que imagino, deve estar sendo motivado também pelo crescimento da inadimplência, elas geram mais inflação.” Ele conta que alguns amigos estão optando pela rede pública no próximo ano, justamente para conter os gastos.
Emiro Barbini, presidente do Sinep-MG, avalia que as escolas enfrentam a pior crise dos últimos 30 anos. “Nos últimos 12 meses, 50 escolas fecharam no estado.” Ele explica que uma longa reunião entre as mantenedoras da rede privada, avaliou as projeções econômicas para 2017, de entidades nacionais e internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), levou em conta o crescimento dos gastos, da inadimplência, evasão de alunos, e colocou na balança até mesmo a recente prisão de Eduardo Cunha. “A prisão do deputado pode causar turbulências políticas que vão interferir na economia. A escola tem que pesar muito bem, já que o reajuste é feito uma vez ao ano.”
Do outro lado, o sindicato admite que a crise econômica tem desequilibrado o orçemanto das famílias e pressionado a inadimplência, motivando a troca de escolas dentro da rede e também para a rede pública. No ano que vem, o próprio sindicato prevê que 4,5% dos alunos devem mudar para escolas com mensalidades mais baixas e outros 6% devem migrar para a rede pública. “É um momento muito difícil. Se a escola faz um reajuste alto, mas necessário, corre o risco de perder alunos, se não reajusta as mensalidades devidamente, corre o risco de fechar, como vem acontecendo com muitas instituições”, diz Barbini.
Tércio Bomfim é economista e tem uma filha na educação infantil da rede privada. Ele diz que em um momento de recessão a alta prevista pela rede particular vai chegar em um momento ruim, já que a mensalidade tem um peso relevante no orçamento. “Os salários não terão o mesmo reajuste, a carga tributária do país já é muito alta, tudo isso pesa”, comenta. Tércio diz que sua decisão é pela qualidade e por isso vai enfrentar os novos preços, embora fique curioso para saber quais são os custos que mais estão pressionando as escolas.