"Teve crescimento (na produção) até meados de 2016, mas que não era muito consistente. Até esse crescimento na margem da série em setembro é preciso relativizar, porque temos um número maior de atividades com redução na produção. É um avanço calcado em poucos segmentos industriais", lembrou Macedo.
A produção industrial aumentou 0,5% em setembro ante agosto, mas apenas nove entre os 24 segmentos pesquisados registraram elevação. As atividades de alimentos, extrativa e veículos deram as principais contribuições positivas para o total nacional, evitando nova perda na indústria, após o recuo de 3,5% registrado no mês anterior.
A fabricação de produtos alimentícios avançou 6,4%, as indústrias extrativas cresceram 2,6%, e a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias subiu 4,8%. Todos os três vinham de resultados negativos, ressaltou Macedo.
"O crescimento é concentrado em poucas atividades e ocorre sobre uma base de comparação depreciada", completou Macedo.
No setor de alimentos, a maior produção de açúcar teve a principal contribuição para o resultado do setor, impulsionada, sobretudo, pelo setor externo, assim como o de papel e celulose. A fabricação de petróleo e gás impulsionou o resultado das indústrias extrativas.
O bom desempenho de veículos automotores no mês foi devido apenas ao retorno à atividade de unidades industriais produtoras de automóveis que tinham sido totalmente paralisadas em agosto, como as da Volkswagen, devido a uma disputa com fornecedor de peças.
Entre os 14 ramos industriais em queda em setembro, os desempenhos de maior relevância foram de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,1%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,7%), produtos de minerais não-metálicos (-5,0%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,2%).
"A perda é disseminada nesses últimos meses. Tem redução de ritmo. E claro que o principal fundamento para explicar essa redução de ritmo é essa diminuição na demanda doméstica", apontou o gerente da pesquisa.
O pesquisador lembrou que o mercado de trabalho traz mais pessoas desempregadas e redução na renda de quem permanece ocupado. Além disso, o crédito está mais restrito e mais caro.
"Embora a gente observe melhora no ritmo da confiança de empresários e consumidores, isso está muito mais relacionado a expectativas futuras do que ao momento presente da conjuntura econômica. Ou seja, todos os fatores que justificavam a perda de ritmo da indústria permanecem presentes", acrescentou o gerente do IBGE.
Bens de capital
A produção nacional de bens de capital recuou 4,5% no terceiro trimestre de 2016, ante o mesmo período de 2015. O resultado representa o décimo trimestre negativo consecutivo, embora a retração tenha sido a menos acentuada em todo esse período. No segundo trimestre deste ano, a fabricação de bens de capital tinha encolhido 10,0%.
No terceiro trimestre, houve avanços na fabricação de bens de capital voltados para a agricultura (6,9%) e construção (11,0%), ao mesmo tempo em que transportes reduziu o ritmo de perdas (-5,7%).
"Talvez essa melhora recente de bens de capital voltados para o setor agrícola possa ter relação com o setor externo. No caso de transportes, a queda na produção de caminhões já foi muito mais negativa em períodos anteriores", citou André Macedo.
Bens de consumo duráveis
A produção de bens de consumo duráveis diminuiu 11,2% no terceiro trimestre ante o terceiro trimestre de 2015. Embora a queda tenha sido menor do que a retração de 16,8% registrada no segundo trimestre do ano, com a ajuda de um recuo menor nos automóveis, a perda para essa categoria de uso ainda é relevante, ressaltou Macedo.
Segundo ele, o mercado de trabalho em deterioração e o crédito caro e escasso mantêm os bens duráveis com queda de dois dígitos.
"Os bens duráveis têm relação direta com o consumo das famílias, com o crédito. Permanece com queda de dois dígitos por causa da retração da demanda doméstica, com o mercado de trabalho enfraquecido, a renda menor, o crédito mais restrito, caro, escasso. Isso tudo tem consequências importantes sobre o comportamento desse grupamento", justificou Macedo.
A redução no índice de difusão da indústria brasileira, que passou de 48,7% dos produtos investigados com alta na produção em agosto para apenas 41,1% em setembro, é mais um indício de que ainda não há uma retomada clara do setor industrial como um todo, avaliou o gerente do IBGE.
"Claramente você observa um espalhamento de produtos e atividades em queda. Mesmo comparando com 2015, que foi um ano em que a indústria teve comportamento de queda, com recuo de 8,3% na produção (ante 2014)", ressaltou o pesquisador.