São Paulo, 12 - Produtores do “Matopiba”, fronteira agrícola brasileira nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (daí a sigla), se preparam para acelerar o plantio de soja, em meio à previsão de chuvas mais frequentes a partir deste fim de semana. A expectativa é de recuperar perdas da safra passada. A região foi a mais prejudicada pela seca em 2015/16, com queda de produção de 35,66% ante o ciclo anterior, somados os quatro Estados da região.
Produtores estão otimistas com as perspectivas climáticas para a safra 2016/17, mas se mostram cautelosos com a expansão de áreas, em razão do aumento do endividamento. Na Bahia, maior produtor de soja do Matopiba e Estado que enfrentou cinco anos seguidos de seca, o plantio começou de fato só na semana passada, contou o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato, ao Broadcast Agro - serviço de notícias do agronegócio em tempo real da Agência Estado. “Produtores levaram suas máquinas para o campo agora e estão plantando porque a previsão é favorável.”
A região teve chuvas em setembro e outubro, mas poucos arriscaram semear após a queda de produção de 23,2% no ano passado, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Busato lembrou que a seca provocou prejuízos não só na soja, como também no milho e no algodão. “Temos tecnologia suficiente para produzir em anos com 20 a 25 dias de seca. Agora, quando ultrapassa 30 dias - e, no ano passado, houve 47 dias sem chuva -, não há tecnologia que aguente.”
Desistência. Com as recorrentes adversidades climáticas grandes grupos agrícolas retraem investimentos na região. Esta semana, a SLC Agrícola, uma das empresas de terras e produção agrícola de capital aberto, disse aos acionistas ter alterado seu portfólio de terras ali. “No Nordeste, ao longo do ano, arrendamos para vizinhos 13 mil hectares. Já temos assinado o distrato de um contrato de mais 5 mil hectares para 2017”, apontou o diretor presidente da SLC, Aurélio Pavinato, ressaltando que a companhia deixará de trabalhar, no total, em 18 mil hectares na região. O executivo ressaltou que o último ano foi “fora da curva”, porque provocou a pior redução concomitante de produtividade de soja e de algodão, causando um expressivo déficit de fluxo de caixa na região.
No Piauí, Estado que teve maiores perdas na safra passada, de 64,8%, segundo a Conab, a expectativa para 2016/17 é positiva e vários produtores já recontrataram mão de obra. “A seca teve reflexo negativo sob vários aspectos e provocou um nível de desemprego alto”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado, Altair Fianco. Fianco, que é produtor em Uruçuí, tinha 32 funcionários e terminou a última safra com 9. Hoje já está com 25. “A maioria dos produtores está recontratando”, disse.
Para ele, a saída de alguns agricultores do Piauí está restrita a algumas companhias. “Se tiver uma sequência de duas a três safras ruins, pode ficar complicado. Mas por enquanto produtores estão aguentando bem.” Segundo ele, os ciclos anteriores, de 2013/14 e 2014/15, não foram excepcionais, mas trouxeram rentabilidade, e em anos anteriores o Estado atingiu boa produtividade. “Vejo que há apreensão, mas em agricultores estabelecidos não vejo debandada.”
No Piauí, parte dos produtores teve chuvas em suas áreas entre o fim de setembro e 10 de outubro, o que permitiu o cultivo de soja logo no começo do calendário agrícola. Agricultores piauienses esperam retomar a área que em 2015 não pode ser semeada com soja por causa da seca. “O ano passado eu diria que a gente quase não teve safra. De uma perspectiva de colher 1,8 milhão de toneladas, acabamos tirando 645,8 mil toneladas.”
A analista Daniele Siqueira, da AgRural, assinalou que produtores em todo o Matopiba estão plantando e tiveram um bom avanço ao longo da semana. “Está melhor do que no ano passado”, afirmou a analista, ponderando, contudo, alguns problemas no Tocantins. “Produtores plantaram antes esperando chuva, mas ela não veio e tiveram que replantar. Mas agora a chuva já chegou e há previsão para mais.”
No Maranhão, em torno de 30% a 35% da área prevista para a soja já foi semeada, segundo o presidente da Aprosoja do Estado, Isaías Soldatelli. O plantio começou em 1.º de outubro, mas produtores de poucas áreas conseguiram semear até o dia 20. “O maior volume de plantio ocorreu nos últimos dias”, informou. “A chuva estava irregular e teve até alguma coisa de replantio, mas foi um problema localizado. Produtor entrou plantando com cautela.”
Na maioria das áreas, o aspecto das plantas tem agradado aos produtores, que esperam uma colheita melhor do que a safra passada, quando Maranhão foi o segundo Estado com maior queda de produção do Matopiba, de 39,6%.