Brasília – Em meio à expectativa da reforma da Previdência e às recentes mudanças nas regras da aposentadoria, é normal ficar um pouco perdido. Ao mesmo tempo que se apressam para entender as regras atuais, as pessoas se questionam se já estão ou não na hora de aposentar, quanto tempo ainda falta e quanto dinheiro precisam juntar para complementar a renda, já que não dá para contar com o governo para manter o padrão de vida na velhice. Para tornar esse processo mais simples, o Estado de Minas fez um levantamento de aplicativos que podem facilitar o planejamento da aposentadoria usando apenas um utensílio: o smartphone.
Para quem não se dá bem com a matemática, existem aplicativos que fazem esses cálculos automaticamente. Entre as opções mais básicas, está o Aposentadoria, que funciona de forma tão simples quanto o nome. Gratuito e disponível para aparelhos que rodam no sistema iOS, como iPhones, e sistema Android, como os smartphones da Samsung, o aplicativo exige apenas que o usuário informe três dados básicos: gênero, idade e tempo de contribuição. Em um clique, a pessoa descobre se está ou não em idade de se aposentar.
Um pouco mais elaboradas, as calculadoras de aposentadoria vão além de dizer se os contribuintes já podem parar de trabalhar. A partir das mesmas três informações, esse tipo de aplicativo calcula quando a pessoa vai poder se aposentar, de acordo com a regra atual, a 85/95, em vigor desde o ano passado. Há mais de uma opção de programas com essa funcionalidade nas lojas de aplicativos Google Play, para aparelhos Android, e App Store, que vende para celulares com sistema iOS, da Apple. Há, por exemplo, a Calculadora de Aposentadoria, exclusiva para Android, e o Minha Aposentadoria, que funciona tanto no Android quanto no iPhone. Ambos são grátis.
O segundo foi criado pelo analista de sistemas Giovanny Sete, de 24 anos, que aproveitou a mudança da regra de aposentadoria, divulgada no ano passado, para desenvolvê-lo. “O aplicativo tem um funcionamento muito simples. Fiz para treinar e ajudar quem tem dificuldade”, conta o analista, que não pretende cobrar para auxiliar as pessoas com a aposentadoria. “A ideia é ajudar mesmo. Se fosse para ganhar dinheiro, não seria com esse tipo de aplicativo de utilidade pública, seria com algo mais elaborado”, diz Giovanny. A ferramenta criada por ele já foi baixada por mais de mil pessoas. “Não pensei que ia interessar a tanta gente, porque nem divulguei”, comemora.
Economia mensal
Depois de saber quanto tempo tem disponível para juntar dinheiro, é hora de descobrir quanto vai ser preciso economizar por mês para atingir o montante necessário para manter o padrão de vida depois de deixar a atividade. Com o smartphone em mãos, essa etapa também pode ser feita de maneira simples. A dica da educadora financeira Myrian Lund, da Fundação Getulio Vargas (FGV), é baixar o aplicativo Calculadora do Cidadão, do Banco Central, disponível de graça para todos os sistemas operacionais.
Para saber quanto investir mensalmente, o interessado deve inserir, na aba Aplicações, a quantidade de meses que tem pela frente para economizar, a taxa de juros mensal do investimento escolhido e o valor que deseja obter no final. A primeira informação é fácil de conseguir, explica Myrian: basta multiplicar o número de anos que ainda faltam para se aposentar — informação que dá para obter com qualquer um dos simuladores citados acima — e multiplicar por 12, que é o número de meses em um ano. Foi o que fez a advogada Jordana Ferreira, 26, que pretende parar de trabalhar aos 65, ou seja, daqui a 39 anos. Multiplicando por 12, isso equivale a 468 meses de economia.
No espaço destinado à taxa de juros mensal, a dica da educadora financeira é colocar 0,5%, caso a ideia seja guardar o dinheiro na poupança, ou 0,8%, se preferir investir em algo com mais rentabilidade, como títulos do Tesouro Direto. “A melhor opção deve ser analisada no banco ou com algum especialista. Mas essa é uma taxa bem dentro da média de rendimento para as duas aplicações, boa para simular”, explica Myrian.
A última informação pedida no aplicativo é o valor total que o trabalhador precisará ter juntado ao fim desses meses de economia. A educadora financeira ensina que esse dado é conseguido dividindo o valor mensal que a pessoa pretende obter na inatividade por 0,005, que corresponde à taxa da corretora. O resultado é aproximadamente o montante que será necessário acumular até a data estimada para a aposentadoria.
Na ponta do lápis
No fim das contas, Jordana concluiu que vai precisar ter juntado R$ 2 milhões nos próximos 39 anos para conseguir manter o padrão de vida. “Nunca tinha parado para pensar nisso. Parece difícil”, avalia a advogada. Mas, ao colocar as três informações na Calculadora do Cidadão, ela percebeu que é mais fácil do que parece. Se investir em algum rendimento que dê juros de 0,8%, como sugere Myrian, ela terá que guardar R$ 390,56 por mês. Caso opte pela poupança, vai precisar economizar R$ 1.067,52 mensais. “É uma meta possível, sim. É só ter organização”, concluiu.
“É comum se assustar com o montante final, mas é preciso lembrar que a pessoa terá muitos anos para juntar. Quanto antes começar, menos vai ter que sacrificar por mês”, lembra a educadora financeira. Além disso, segundo ela, é essencial atualizar os valores no aplicativo sempre que possível. “Com o passar do tempo, o padrão de gastos pode mudar bastante”, observa.
Facilidade para fazer as contas
Quem achar complicado fazer os cálculos para inserir no programa do Banco Central pode baixar o aplicativo Target, da Icatu Seguros, no smartphone. Com ele, é possível calcular um valor ideal que cada pessoa precisa economizar para manter o padrão de vida quando parar de trabalhar. Além das informações básicas — gênero, idade e tempo de contribuição — só é preciso colocar os gastos mensais com saúde, alimentação, habitação, lazer e educação. Há um espaço para inserir também as despesas com dependentes, caso existam. Com esses dados, o aplicativo faz uma simulação do montante final necessário e calcula, ainda, quanto será preciso guardar por mês para chegar ao montante desejado.
A praticidade de poder se programar para o futuro levou o corretor de seguros Frederico Santos Monteiro, 31 anos, a baixar o aplicativo. “Ele me ajuda a manter a qualidade de vida e mostra se estou comprometendo minha renda no presente. Além disso, posso levar para qualquer lugar no celular”, conta ele. “No começo, assusta um pouco, mas é bem interessante saber o que preciso economizar agora para ter uma aposentadoria mais confortável”, conta.
“Não tinha nenhuma noção de que teria que aumentar o valor que contribuo por mês para ter uma velhice mais confortável”, conta o coordenador de marketing Bruno Ribeiro, 37, que notou que os impactos das despesas atuais também o afetariam mais para a frente. Sempre em busca de aplicativos úteis para o dia a dia, Bruno usa o Target há um ano. “Queria entender melhor as alternativas de como economizar para o futuro. É muito mais prático acessar pelo meu smartphone ou tablet do que ter ir até uma agência bancária”, considera.
Apesar de ter repensado os hábitos de consumo e ajustado o orçamento, Bruno admite que ainda não consegue poupar o valor necessário indicado pelo aplicativo, mas acredita que chegará ao objetivo até o ano que vem. “Quando comecei a querer não gastar, acabei vendo o reflexo disso no dia a dia, desde a escolha do restaurante até a do destino de uma viagem. Temos aparelhos tão práticos na palma da mão, acho importante usar a tecnologia a nosso favor”, observa.
Tira-dúvidas
Há também aplicativos para sanar as dúvidas mais comuns sobre a Previdência Social. O INSS Fácil, disponível apenas para Android, esclarece questões sobre todas as modalidades de aposentadoria: especial, por idade, por invalidez e por tempo de contribuição. Tem espaço dedicado também a outros benefícios, como auxílio-doença e pensão por morte. As pessoas podem deixar comentários, que são respondidos no próprio aplicativo. Segundo o Google Play, ele já teve mais de 100 mil instalações.
Com conceito parecido, o PrevApp, que também só existe para aparelhos com sistema Android, além de tirar dúvidas, fornece um quiz de perguntas e respostas sobre a Previdência Social, um histórico de pesquisas e um simulador de direitos, segundo a descrição do aplicativo na Google Play. (AA com Marlla Sabino)