Às vésperas das festas de fim de ano, responsáveis por período tradicionalmente aquecido das vendas, nada indica que o fundo do poço tenha sido alcançado. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou na quinta-feira percentual ainda mais baixo de utilização da capacidade instalada de produção em outubro, de 76,6%, também na média, desta vez nacional, ante 77,9% em idêntico período do ano passado. Quando a demanda impõe um freio nessa intensidade às máquinas, os trabalhadores sofrem duramente. O setor cortou 1,157 milhão de empregos no período de um ano até setembro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
O ano não deve terminar, como se esperava, com boas notícias nos departamentos de RH das empresas. No acumulado do ano até outubro, segundo a CNI, o nível dos postos de trabalho mantidos pela indústria brasileira teve baixa de 8%, em meio à retração de 2,9% da economia entre julho e setembro, frente ao terceiro trimestre de 2015, avaliada do ponto de vista do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país).
O cenário em que a indústria atua não é diferente em Minas, como observa a economista Annelise Rodrigues Fonseca, da Fiemg. o emprego nas fábricas mineiras recuou 8,3% de janeiro a setembro, frente aos nove meses acumulados do ano passado. “As projeções (de fechamento de 2016), que têm caído com mais intensidade a cada revisão feita pela entidade, são as mais baixas desde que começou a série de indicadores industriais”, afirma Annelise.
As mais recentes projeções de encerramento do ano do Departamento de Economia da Fiemg indicam quedas de 6,95% da produção e de 11,48% do faturamento da indústria mineira. As estimativas ainda serão revistas e apresentadas no dia14, durante o lançamento do balanço anual feito pela instituição junto às perspectivas para 2017. A recuperação esperada pelos industriais será lenta e gradual, de acordo com Annelise Fonseca. “Existem duas razões para que isso ocorra, a primeira é que o próximo ano deve começar com a renda das famílias em queda, o desemprego e a inadimplência como fatores de preocupação, e os juros ainda serão elevados, mesmo com os cortes esperados na taxa Selic (aquela que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio, hoje de 13,75% ao ano). Em segundo lugar, o cenário econômico e político para 2017 ainda está rodeado de incertezas”.
Com nível de ociosidade que alcança 50% em algumas empresas, a indústria de máquinas e equipamentos não tem motivos para imaginar reação rápida e consistente. O setor deve encolher 30% em 2016, retração superior à média nacional, projetada em 25% pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
O vice-presidente da Abimaq, Marcelo Veneroso, diz que, para o ano que vem, o setor aguarda por medidas macroeconômicas, como a queda da taxa de juros e valorização do câmbio – o ideal seria que a moeda norte-americana fique próxima de R$ 3,75 – para melhorar o ambiente de exportações, e expansão das linhas de crédito. “É o que pode ajudar a fomentar a volta do investimento”, destaca.
PASSO A PASSO A ociosidade na indústria de Minas começou a crescer, depois do pico provocado pela crise financeira mundial em 2009, no fim de 2014 sob o impacto da redução dos investimentos no país, que posteriormente abalaram o emprego e a demanda do mercado consumidor. Aqueles segmentos de bens de maior valor foram os primeiros a absorver os efeitos negativos do cenário adverso da economia brasileira.
Em Minas, as indústrias de veículos, máquinas e equipamentos, materiais elétricos e produção de minerais não metálicos (insumos para a construção civil) foram os que apresentaram as maiores quedas no uso da capacidade produtiva entre janeiro e setembro último, na comparação com idêntico período de 2015. Outro segmento de peso para o PIB estadual, a metalurgia enfrenta alta ociosidade, de quase 28% em média na análise do acumulado de 2016 até setembro. De acordo com balanço divulgado na semana passada pelo Instituto Aço Brasil, a produção brasileira de aço bruto deve fechar o ano 7,6% abaixo do registrado em 2015, em 30,7 milhões de toneladas. Trata-se do menor volume desde 2009. As vendas internas, estimadas em 16,3 milhões de toneladas, apontam redução de 10,1%, retornando ao nível de oito anos atrás.