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Estado de Minas

Comerciantes promovem Natal barato para salvar as vendas do encalhe

Artesãos que expõem mercadorias na feira da Avenida Pena reduzem preços e ajustam estoque de produtos feitos a custo menor de fabricação. Cliente procura itens avaliados de R$ 30 a R$ 109


postado em 05/12/2016 06:00 / atualizado em 05/12/2016 08:03

Carlos Lopes se viu obrigado a reduzir em 50% os preços das bijuterias em couro que produz para estimular o consumidor arredio(foto: Marinella Castro/EM/D.A Press)
Carlos Lopes se viu obrigado a reduzir em 50% os preços das bijuterias em couro que produz para estimular o consumidor arredio (foto: Marinella Castro/EM/D.A Press)

Uma infinidade de bijuterias feitas em couro são encontradas na banca do artesão Carlos Lopes a partir de R$ 5. Para enfrentar a crise e o desemprego de seus clientes, Carlos, que está há 40 anos no ramo, decidiu reduzir os preços pela metade. Sem acreditar que as vendas deste dezembro vão recuperar as perdas acumuladas durante o ano, os artesãos que expõem suas mercadorias na tradicional feira da Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte, decidiram investir no Natal barato. Não faltam opções que ficam dentro do gasto médio estimado dos brasileiros para este ano com os presentes, de R$ 109,81, segundo cálculos da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).

No orçamento, cabem pelo menos dois sacos de presentes para o Natal que o Estado de Minas apreçou: um chinelo com tiras bordadas, uma sandália rasteirinha, um sapato feminino em couro e uma bijuteria por R$ 100 ao todo; e outra opção por R$ 103, incluindo uma toalha infantil bordada, duas camisetas, uma capa infantil, uma árvore de Natal e um Menino Jesus.

"Estipulei valor de até R$ 50 para os presentes de sobrinhos e parentes" - Luciana Couri, assistente social (foto: Marinella Castro/EM/D.A Press)

Nos corredores da feira, onde dividem espaço mais de 2 mil expositores de produtos destinados a todas as faixas etárias, há itens com preços que dificilmente se acreditaria serem suficientes para cobrir os custos de produção, como cintos vendidos a R$ 5, sandálias por R$ 10 e R$ 18, camisas com estampas de personagens da Liga da Justiça a R$ 15. Na etiqueta, lê-se 100% algodão. Toalhinhas bordadas são vendidas a R$ 10, brincos e pulseiras podem ser encontrados a partir de R$ 10, namoradeiras de janelas com olhar lânguido e roupas coloridas são ofereciadas a R$ 110. Há camisas com estampas bem desenhadas de astros do rock vendidas por R$ 35 e sapatos em couro com design da moda por exatos R$ 109. O Menino Jesus em bercinho de madeira e capim começa a ser vendido a R$ 15.


Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da CNDL revela que, neste ano, se confirmado, o valor médio de presentes de R$ 109,81 no comércio brasileiro deverá representar queda de 5,3% frente ao ano passado, o que justifica a apreensão dos vendedores. Na feira da Avenida Afonso Pena, os artesãos apostam num tíquete médio de compras que não deve ultrapassar R$ 100. “A crise foi tão forte que para vender alguma coisa reduzi os preços dos meus produtos em 50% e, no mais, estou meditando bastante para não tomar decisões erradas, o que é fácil de acontecer em um país como o nosso”, desabafa o artesão Carlos Lopes, de 51 anos.


Hoje as vendas acontecem no varejo, ninguém mais compra quantidades como antes
Hoje as vendas acontecem no varejo, ninguém mais compra quantidades como antes" - Geraldo de Oliveira, artesão de peças em cerâmica (foto: Marinella Castro/EM/D.A Press)

Comparando demais os preços, cortando na quantidade de presentes e reduzindo sem folga o custo da lista, aos poucos os consumidores a chegar para fazer suas compras de Natal. Há muitas queixas dos artesãos, mas para os clientes existem oportunidades. A assistente social Luciana Couri conta que ela e a filha Maria Clara, 6 anos, são frequentadoras assíduas da feira e já compraram metade dos presentes para a festa católica.

ANTECEDÊNCIA
Observadora, Luciana afirma que não reparou alta de preços nas bancas da feira de artesanato como em outros pontos do comércio. “Acho que aqui os preços estão justos, bem honestos”, defendeu. Ela explica que neste ano, para ajustar seu orçamento aos gastos de fim de ano, está focando suas compras apenas na família. Neste ano não vai presentear, por exemplo, amigos e nem colegas de trabalho. Fazendo assim, garante investimento para o período das férias.

Passeando pela feira de artesanato, com roupas e acessórios bem escolhidos no local, Luciana vai terminar suas compras de Natal com antecedência, provavelmente no próximo domingo. “Estipulei valor até R$ 50 para os presentes de sobrinhos e parentes.” Já para os pais, a assistente social pretende gastar até R$ 200. “Aqui na feira é bem variado, dá para comprar um presente por R$ 35, como uma roupa, ou um quadro de R$ 300, dividido em parcelas”, observa.

Consumidor reduz lista de presentes


Geraldo Carlos de Oliveira vende peças de cerâmica, presépios e esculturas. Ele aposta na recuperação do comércio em 2017, já que, para ele, a economia bateu no fundo do poço. Neste ano, Geraldo calcula queda de 30% das vendas do Natal em relação a 2015. Com base no que já observou até agora, os consumidores estão procurando presentes de Natal a preços variando entre R$ 30 e R$ 50, em média. O principal impacto da crise em seu negócio foi o sumiço do atacado. “Hoje as vendas acontecem no varejo, ninguém mais compra quantidades como antes.”


Com o filho Rafael, o mecânico industrial Sérgio Gomes foi à feira comprar parte do enxoval de seu novo bebê, que nasce em 2017. Ele pagou R$ 150 pelo conjunto de peças que acompanham o berço. Sérgio diz que vai começar suas compras de Natal mais próximo da data e que neste ano, vai reduzir o número de presentes e privilegiar as crianças. Ele deverá gastar, em média, R$ 80 por presente. “No ano passado, a gente tinha mais confiança no emprego,” observou.


Marília Silva, 30 anos, é fabricante de sapatos da marca Lila Shoes. Ela trabalha junto com Neuza Andrade, que está na feira há 40 anos, com seus tradicionais calçados femininos em couro. Marília explica que o ano de 2016 foi de expectativas de vendas que não se concretizaram, data após data. Para o Natal, os sapatos mais procurados pelo consumidor são aqueles oferecidos a preços que vão de R$ 69 a R$ 109, exatamente dentro do preço médio previsto pela pesquisa da CNDL.

 

 

 


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