Brasília, 14 - O ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central, Tony Volpon, avaliou nesta quarta-feira, 14, que a autoridade monetária deveria ser mais agressiva no corte de juros abandonando o objetivo de colocar a inflação no centro da meta em 2017, uma vez que a política fiscal ainda é expansionista. Segundo ele, como o teto de gastos só terá efeito em 2018 e 2019, a política monetária precisa ser menos apertada.
"Acho que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria cortar até 0,75 pontos da Selic imediatamente", afirmou, durante debate promovido pelo jornal Correio Braziliense. Para o ex-diretor do BC, o governo Michel Temer mantém uma política fiscal "relativamente frouxa", com efeitos apenas em 2018 e 2019, com uma política monetária "apertada" com mira já em 2017.
"Sem espaço fiscal para ajudar empresas e pessoas, a única alternativa é ajudar com a redução bastante agressiva de juros. O mix atual não ajuda a reestruturação patrimonial que o País precisa e, se isso não for revisto, o ritmo de recuperação da economia será bastante lento", alertou. "Isso pode reduzir a popularidade do governo, e um governo mais fraco em função da economia não terá capacidade de aprovar medidas para tornar o teto de gastos factível", completou.
Volpon lembrou que o próprio BC tem dado sinais de que pretende acelerar o corte de juros em janeiro. "Espero que o governo tome um balanço de riscos mais abrangente, não apenas inflacionário. Mas, para não abrir mão do controle inflacionário, seria preciso política fiscal mais apertada agora", repetiu.
Na avaliação do ex-diretor, a recuperação da atual crise será mais lenta porque se trata da primeira recessão brasileira após o crescimento do mercado de crédito no País. "O endividamento das empresas, das pessoas e dos Estados foi muito incentivado pela chamada nova matriz econômica. Então entramos nessa recessão muito endividados, o que torna a recuperação mais lenta", concluiu.