No tradicional dia D do Natal, 23 de dezembro, consumidores foram às compras ontem com uma missão quase impossível: não gastar. Mesmo com movimento intenso no comércio e corredores de shoppings cheios, presentes foram reduzidos a lembrancinhas, até para as crianças. Na data mais importante para o varejo, o desafio dos clientes tem sido encontrar itens que impressionem e se enquadrem num valor próximo aos R$ 50.
Na casa da cerimonialista Roberta Costa, de 33, o jeito vai ser valorizar a intenção de agradar, já que os presentes se converteram em lembranças. “Estou gastando no máximo R$ 50 por presente. Está difícil este ano. Estou comprando creme, bijuteria, calcinha e sutiã. Antes, eu comprava blusa, calça, bolsa, sapato. Também estou fugindo de amigo oculto, para não ter que gastar mais”, conta.
Roberta atribui a mudança à crise econômica atravessada pelo país. “Trabalhamos muito e não ganhamos dinheiro. Este ano não teve presente para a titia nem para o titio”, afirma. Pesquisa de intenção de compras da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) divulgada no início do mês já apontava esse movimento. A maioria dos participantes da pesquisa (76,8%) respondeu que o presente deste ano teria um valor menor em relação a 2015 e atribuiu o motivo à inflação alta, falta de dinheiro, endividamento, desemprego e redução de custos. Um total de 59,5% de pessoas informou que pretende desembolsar até R$ 100 com o presente.
Segundo o gerente da Rafa's, loja de sapato na Savassi, César de Almeida, consumidores estão procurando presentes na metade desse valor. “Antes, eles buscavam presentes de R$ 100, R$ 150, agora estão preferindo os de R$ 50. Colocamos uma sapatilha de R$ 59,90 para dar opção”, diz. Por causa das turbulências políticas que continuam a estremecer o país, a CDL/BH ainda espera um Natal magro este ano, com variação que pode ir de queda nas vendas de 1,10% a aumento de 1,24%, com faturamento próximo de R$ 3 bilhões.
Para César de Almeida, o termômetro dos últimos dias indica um Natal mais frio em relação ao ano passado. “Nos últimos três dias, quando as vendas bombam, não 'bombou'. Estamos vendendo 10% menos e a mercadoria não para de chegar, porque preparamos um bom estoque”, reforça o gerente, já prevendo que terá que fazer promoções em janeiro. A comerciante Gabrielle Salomão sentiu na pele os efeitos da crise e, por isso, diminuiu o valor dos presentes. “Este ano é mais uma lembrancinha”, comenta a jovem, enquanto escolhia uma sapatilha para a avó.
O militar Antônio Rodrigues, de 42 anos, fugiu à regra e não economizou nas compras de Natal. Os filhos vão ganhar smartphones e a família inteira está com o presente garantido. “Senti a crise, mas eles merecem”, afirma. Cheio de sacolas nas mãos no Boulevard Shopping, Rodrigues explicou que, para agradar a todos, teve que optar por parcelado. “Recebi só a metade do 13º salário, tive que comprar tudo parcelado”, conta. Este ano, o governo de Minas pagou metade do 13º salário dos servidores em dezembro e o restante em três vezes até março repercutiu negativamente nas expectativas do comércio para o Natal.