Depois de 39 anos, a famosa Churrascaria Zé Dias, na BR-040, próximo ao trevo de Congonhas, está encerrando suas atividades. A casa vai servir o último almoço hoje, véspera de Natal. O cardápio oferece mais de 70 pratos, o tradicional churrasco, receitas genuínas da culinária mineira, além de sobremesas como doces de Minas e o pudim de mexerica. Parada certa para muitos que fazem o trajeto BH-Rio de Janeiro, a churrascaria, que tem entre seus clientes políticos e artistas que transitam pela estrada, é mais um negócio tradicional que não resistiu à crise da economia brasileira. A proprietária Rita Leite deixou despedida por escrito em sua página eletrônica numa rede social. “A churrascaria não era só um negócio, era como uma família, por isso fiz questão de comunicar o fim da atividade aos nossos clientes e amigos”, disse Rita, ao Estado de Minas.
O restaurante, que chegou a atender 250 pessoas para almoço durante a semana, além de promover festas, casamentos, batizados e confraternizações de empresas, foi fundado em 1º de maio de 1977. Há mais de uma década o negócio vinha sendo administrado pelos filhos do fundador da casa, José Dias. À frente do negócio com o irmão Fernando, Rita começou a trabalhar com o pai ainda na década de 1990. Ela conta que a crise afetou duramente a churrascaria, derrubando o movimento em 40%, o que adiantou os planos dela de se aposentar. “Com o desemprego, as pessoas passaram a cortar luxos, como comer fora de casa.”
O crescimento do desemprego e a redução no quadro de funcionários das empresas também fizeram minguar a demanda por confraternizações e afetaram o ânimo festivo do brasileiro. “A crise que todo o país enfrenta nos ajudou muito a tomar a decisão de encerrar as atividades”, diz Rita, que agora vai se aposentar. Ela comenta que o futuro do terreno onde por quase quatro décadas funcionou a churrascaria ainda é incerto, mas é possível que o local seja vendido.
A Churrascaria Zé Dias servia diariamente mais de 70 pratos, entre entradas, prato principal e sobremesa, mas o carro-chefe era o churrasco e a comida mineira, como o feijão-tropeiro, linguiça e torresmo. “Recentemente, estiveram aqui no Zé Dias o ator Eduardo Moscovis e o cantor Sérgio Reis”, lembra Rita. Além de ser frequentada pelos moradores de Congonhas, a Churrascaria era ponto de parada também de artistas, principalmente de bandas que, vindo do Rio para Minas e Brasília, escolhiam a churrascaria para o almoço. Políticos como Bonifácio Andrada e Paulo Maluf também programavam sua rota para almoçar na casa.
Copa Há 22 anos que Rita Dias está no comando do negócio, a princípio ao lado dos pais e depois como administradora. Ela conta que o segmento começou a sentir a crise com mais força depois da Copa do Mundo, quando as expectativas de crescimento do movimento na BR não se concretizaram. Ao longo de 2016, o aprofundamento da crise e o crescimento do desemprego reduziram o movimento vindo da estrada e também a frequência dos clientes de Congonhas, assim como nas reservas para festas. Durante o ano, o número de funcionários na empresa já havia sido reduzido de 35 para 20.
Para se ter ideia, segundo dados da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg), o número de empresas que encerraram suas atividades este ano, dentro do modelo jurídico LTDA, cresceu 57% entre janeiro e novembro, frente ao mesmo período do ano passado. Em 2015, 12.396 encerraram suas atividades; em 2016, o número saltou para 19.515.
“Fico emocionada quando leio comentários sobre o fechamento da Zé Dias em minha rede social. Muitos casais se conheceram e se casaram na churrascaria. Muitas empresas, durante muitos anos, fizeram na Zé Dias a confraternização com seus funcionários”, recorda-se Rita.