São Paulo, 02 - A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) deve fechar janeiro com uma taxa maior que a registrada em dezembro. Isso não significa, contudo, que o processo desinflacionário no acumulado de 12 meses vai desaparecer ao longo do ano. A avaliação foi feita nesta segunda-feira, 2, pelo coordenador do IPC-S, Paulo Picchetti, da Fundação Getulio Vargas (FGV). De acordo com ele, o índice deve encerrar este mês com uma variação de 0,70%, após 0,33% em dezembro. Já para o ano, a projeção para o IPC-S é de 4,6%, ante 6,18% em 2016 e 10,53% em 2015. "Se o IPC-S ficar em 0,70%, o acumulado de 12 meses vai de 6,18% para 5,06%. Já é um tombo enorme e confirma que a trajetória do acumulado em 12 continuará, mas pode ser mais suave", estimou.
Para que a estimativa de 0,70% se materialize, Picchetti calcula que a taxa média mensal dos próximos meses, com exceção de janeiro, precisa ficar na faixa de 0,35%. "Parece ser bem factível. No ano passado, a média foi de 0,39% (também excluindo o dado de janeiro)", explicou.
Apesar de ainda não ter calculado o impacto do reajuste de 14,8% da tarifa integrada de ônibus com metrô ou trem na cidade de São Paulo, e que entra em vigor no dia 8, Picchetti, acredita que a maior influência no IPC-S deste ano será do encarecimento com Educação. Ele estima que o reajuste em cursos regulares este ano ficará na faixa de 10%, sendo semelhante ao de 2016. Com isso, espera que o impacto no IPC-S de janeiro seja da ordem de 0,30 ponto porcentual, ou seja, quase a metade da previsão de 0,70% para o IPC-S de janeiro. "Em janeiro, a inflação é mais elevada. Tem a ver com a sazonalidade. Tem pagamento de IPVA, reajuste do salário mínimo, e principalmente tem impacto por causa de gastos escolares", disse.
A despeito da aceleração do IPC-S mensal, de 0,17% para 0,33% em dezembro, no geral, a trajetória de desaceleração é evidente. Além de alguns preços estarem devolvendo as altas apuradas em 2016, Picchetti ressaltou que o alívio inflacionário foi praticamente disseminado entre os grupos do IPC-S no ano passado, já que a "a recessão está fazendo o papel benéfico sobre os preços."
Porém, o economista destacou o arrefecimento dos preços administrados, de 32,02% em 2015 para 10,72% em 2016. "Em 2015, teve a correção desses preços, e agora (2016) foram os que mais contribuíram", reforçou.
Já o grupo Alimentação encerrou o ano passado em 7,43%, na comparação com 11,62% em 2015; o segmento de industrializados atingiu 3,72% (ante 4,23%); e o grupo serviços alcançou 11,88% (ante 14,12%). Já a categoria de comercializáveis intensificou o ritmo de alta de um ano para outro, ao passar de 3,20% para 3,41%. Segundo Picchetti, o motivo desse avanço foi a alta do dólar no início de 2016, em reação às incertezas políticas no Brasil naquela ocasião.
"O maior risco individual para o IPC-S é combustível, já que a nova política da Petrobras é reajustar os preços conforme o mercado externo. Além disso, o câmbio traz incerteza e pode ter efeitos sobre os preços", afirmou.