Esqueça a imagem de um açougue com pedaços de carnes dispostos em bacias, cortes dependurados e frangos gordos e brancos exibidos nas prateleiras. A inauguração de um açougue que não vende carnes em Belo Horizonte causou alvoroço na última terça-feira na capital mineira. O Venne Açougue Vegano, no Bairro Floresta, na Região Leste, traz opções que vão de linguiça, mortadela e presunto a hambúrguer, carne e bifes, tudo feito à base de vegetais, cogumelos e grãos. A abertura do primeiro açougue do gênero em Minas Gerais, que já começou com sucesso de público, aponta para o crescimento na capital mineira do mercado voltado para veganos, quem opta por não consumir nenhum produto de origem animal ou que envolva testes em bichos.
Não há números exatos sobre o número de veganos no país. Em 2012, o Ibope revelou que 8% da população de capitais e regiões metropolitanas era vegetariana – que não come carne –, num total de 16 milhões de pessoas. Em BH, esse percentual da população era de 9%. A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) calcula que um terço desse contingente de vegetarianos é vegano, o que representaria pelo menos 5 milhões de pessoas em todo o país.
A instituição também confirma o crescimento desse mercado e calcula 230 restaurantes vegetarianos e veganos, além do aumento de pratos e lanches veganos em restaurantes e lanchonetes convencionais. O programa de certificação vegana da SVB é um termômetro disso. Criado há três anos, o Selo Vegano já atestou mais de 200 produtos de cerca de 25 marcas diferentes.
O açougue Venne chega para aumentar essas estatísticas. Ele funciona dentro da mercearia de mesmo nome, que também conta produtos veganos – desde itens culinários a produtos de limpeza. Vegetariana desde criança e vegana há um ano, a estudante de direito Laura Bonetti, de 22 anos, idealizou o açougue. A família embarcou na ideia e agora filha, mãe e pai trabalham juntos. Já faz algum tempo que Laura se dedica às experiências gastronômicas e foi na cozinha de casa que desenvolveu as receitas do açougue.
A mortadela é feita com feijão carioquinha, o salame leva feijão roxinho e cogumelo, o presunto tem grão-de-bico e champignon. A mistura de temperos e condimentos é o segredo de cada preparação, que conta com acompanhamento de nutricionista. Entre as opções, há também carne vegetal, bifes, linguiça, entre outras iguarias, ao custo de R$ 45/kg. Há também congelados de feijoada, estrogonofe, lasanha. “Queremos tornar o veganismo mais acessível e facilitar o processo de transição de quem ainda sente falta da carne”, reforça Laura, ativista da causa.
A produção, atualmente, gira em torno de 1 tonelada ao mês, mas o pai da garota, o engenheiro Cláudio Bonetti já estuda a implantação de maquinário para expandir a produção para 10 toneladas mensais. “Tem gente vindo de Contagem, Betim. A comunidade vegana é forte”, reforça Laura, que também tem recebido no açougue muitos carnívoros curiosos para experimentar as iguarias que parecem carne mas não são.
Os clientes comemoram o aumento das opções veganas em BH. O estudante de fisioterapia João Leal, de 24 anos, tornou-se vegano há oito meses, depois de quatro anos e meio sem comer nenhum tipo de carne. Desde então, não tem passado aperto. “Independentemente do lugar, me mantenho sem comer produtos de origem animal”, reforça, depois de tomar um milkshake, um hambúrguer, uma coxinha de jaca e finalizar com um cupcake na lanchonete O Vegano. “Estou me sentindo muito melhor assim”, diz.
Em multiplicação
Em BH, já há diversos estabelecimentos veganos. Entre eles estão o açougue Venne, a Veganiza Food, o restaurante Las Chicas Vegan, o Botequim da Liberdade, o Café com Gentileza, a lanchonete O Vegano, a Veganza e o Vegan Express, que oferece delivery.