Os gastos com serviços continuam a ser os vilões da inflação, pesando no custo de vida das famílias. Embora estejam em desaceleração, assim como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), esse grupo de despesas — que inclui itens tão distintos como cabeleireiros, restaurantes e pedreiros — é o que mais mostra resistência no processo de acomodação da carestia. Entre maio de 2015 e novembro de 2016, a inflação de serviços acumulada em 12 meses permaneceu abaixo da média geral. Em dezembro, no entanto, o crescimento foi de 6,5% na mesma base de comparação. O resultado recolocou o grupo à frente do IPCA, que fechou o ano passado em 6,3%.
No ano passado, refeição fora do domicílio foi um dos gastos que mais tiveram impacto na inflação. Somente esse item foi responsável por 0,29 ponto percentual (p.p.) de todo o IPCA. O sentimento para quem precisa se alimentar fora de casa todos os dias, por motivo de estudo ou trabalho, é de que não há para onde correr. “Está tudo muito caro. Só vejo aumentos de preço. Não tem redução alguma. Tento diversificar o cardápio, comendo em restaurantes mais baratos, pratos feitos, mas não tem jeito. É um gasto que pressiona muito o meu orçamento. O problema é que não posso simplesmente deixar de me alimentar”, diz o assistente administrativo George Júnior da Silva Cardozo, de 24 anos.
Dos 6,3% da inflação geral no ano passado, 1,33p.p. decorreram de preços administrados — aqueles que são controlados pelo governo, como tarifas de ônibus, energia elétrica e gasolina. Já os preços livres, sensíveis às condições de oferta e demanda na economia, tiveram impacto de 4,96p.p. no índice. Desse item, 2,2p.p. vieram dos serviços e 2.3p.p. tiveram origem em bens não duráveis, essencialmente alimentos e bebidas.
Portanto, diferentemente da carestia de 2015, marcada pela forte evolução dos preços administrados, a inflação de 2016 teve os bens não duráveis e os serviços como principais vilões. Embora os gastos com alimentação tenham impacto maior na composição dos preços livres, e, consequentemente, no IPCA médio do país, o peso desse grupo caiu mais do que o dos serviços de um ano para o outro.
Em 2015, a contribuição dos bens não duráveis foi de 2,9p.p. na composição dos preços livres. No ano passado, teve um corte de 0,6p.p. Já o impacto dos serviços caiu de 2,75p.p. para 2,22p.p. no mesmo período, mostrando um recuo equivalente, de 0,57p.p. Para o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fábio Bentes, a causa desse movimento de resiliência é a rigidez da legislação trabalhista.
“A demanda por serviços é lastreada na renda do trabalho. Por isso, o segmento responde muito mais lentamente à desaceleração inflacionária”, destaca. “O mercado é rígido porque desestimula ajustes abruptos no quadro de funcionários das empresas e adequações na renda a curto prazo, conforme as oscilações da economia. Se houvesse maior flexibilidade, a desaceleração dos gastos com serviços e de toda a inflação poderia ser mais rápida”, acrescenta. Com o prolongamento do desemprego em nível recorde, porém, a tendência é de que até mesmo a inflação de serviços recue nos próximos meses.