O crédito consignado deu uma desacelerada em 2016. De acordo com dados divulgados nesta semana pelo Banco Central, esse tipo de empréstimo, conhecido pela possibilidade de desconto direto em folha de pagamento, movimentou cerca de R$ 120,6 bi no ano passado, com queda da ordem de 9% frente aos 132,6 bi registrados em 2015. Mas nem por isso a alternativa deixou de ser atrativa para os brasileiros, tendo em vista que oferece as taxas de juros mais baratas do mercado. O potencial desse tipo de transação é visto como crescente tanto no país quanto no exterior, onde já atrai investimento de empresas mineiras.
De acordo com o diretor-executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, a redução na contratação de empréstimos consignados no último ano foi decorrente da recessão enfrentada pelo país. “O desemprego em alta já reflete neste resultado. E ainda há os estados que, também em crise, deixaram de pagar salários. Esse tipo de conjuntura também deixou os bancos mais criteriosos”, observa. Mas, para ele, basta a economia melhorar que o cenário muda.
Oliveira observa que a taxa média mensal do consignado é seu maior atrativo, mas não significa que não há riscos na contratação desse tipo de crédito. De acordo com ele, os juros desse tipo de empréstimos ficaram em 2,3%, em média, por mês, no ano passado. O do financiamento para pessoa física convencional, apresentou taxas da ordem de 5%¨. O cheque especial atingiu 13% mensais. E os juros do rotativo dos cartões de crédito atingiram 484,6% em 2016 – recorde no país. Isso significa que a taxa mensal deles superou os 15%.
“O ponto favorável está nas taxas baixas.” A afirmação é da especialista em finanças, seguros e previdência Privada Maria Inês Prazeres. Ela orienta seus clientes a fazerem trocas de créditos mais caros pelo consignado. Mas lembra que a busca por esse tipo de financiamento só deve ser feita se realmente “houver necessidade”.
“A burocracia é pequena. Por isso, muitos podem se endividar sem pensar”, observa Maria Inês. O risco existe mesmo com a limitação de 30% no uso do valor previsto na folha de pagamento. Por esse motivo, ela não recomenda o crédito para aposentados, que já têm uma renda pequena e podem comprometer seriamente o orçamento com o empréstimo. Em sua opinião, esta é uma prática que não pode ser convencida. Quem contrata deve ter consciência plena do que está fazendo.
Prático, mas ruim
A pensionista Marli Erlande dos Santos, de 71 anos, é um exemplo de brasileira que optou pelo crédito consignado para ajudar no pagamento da faculdade de uma das filhas. A contratação com a orientação correta foi ótima, segundo ela. O protocolo foi correto e ela assinou um termo solicitando o recurso. Mas depois, ela foi vítima de uma fraude. “Recebi umas ligações, a pessoa falou vários números e afirmei que conversaria com minha filha, antes de resolver qualquer coisa. Mas, do nada, um dinheiro apareceu na minha conta”, afirma.
A pessoa que falou com Marli fez um refinanciamento do seu crédito. O pagamento que seria de 60 vezes passou para 72 parcelas e sua dívida foi aumentada. “Vou entrar em contato com o banco para denunciar o que aconteceu, porque eles têm credenciados bons, mas também têm os que agem com má-fé, que foi o que ocorreu comigo”, afirmou.
Para Maria Inês, a falta de conhecimento é um dos problemas. Mas ela acredita que, com a devida orientação, o consignado tem potencial para crescimento no país. “Tem lados positivos e negativos. Por isso, tem que ter conhecimento”, afirma, lembrando que mesmo pessoas com o nome sujo conseguem contratar esse tipo de crédito, em decorrência da segurança no sistema e A baixa inadimplência em função do desconto direto na folha de pagamento.
Tecnologia
O consignado pegou no Brasil. E a tecnologia que envolve o seu desconto diretamente na folha de pagamento começa a ser exportada. A empresa mineira Zetra, que desenvolveu o eConsig sistema responsável pelo controle operacional de 4,5 milhões de descontos mensais consignados em folhas de pagamentos de mais de 200 clientes, é um exemplo de negócio bem-sucedido relacionado ao consignado.
“A plataforma interliga o fornecedor do crédito com a folha de pagamento do interessado”, explica o fundador da Zetra, Renato Araújo. Ele conta que lançou a primeira versão do programa em 2003. E hoje, a plataforma já movimenta uma carteira da ordem de R$ 60 bilhões no Brasil. O crescimento, no último ano, foi de 15%. E, como evolução, a Zetra dobrou de tamanho e agora também faz parte da SalaryFits, o braço da empresa no exterior.
Trabalho-piloto teve início no México, onde já está prevista a movimentação de US$ 500 mil neste ano. “Lá é um pouco diferente. O foco é em seguro-saúde descontado na folha de pagamento. Vamos trazer este serviço para o Brasil agora”, conta Araújo. Em sua opinião, o desconto do plano de saúde escolhido pelo funcionário público ou privado diretamente na folha de pagamento pode, inclusive, baratear o serviço para os brasileiros.
Paralelamente, a SalaryFits abriu novas frentes de negócios: na Inglaterra, em Portugal e na Índia. Os escritórios são para prospecção, mas há boas perspectivas. “Estamos exportando a tecnologia do consignado”, afirma Araújo. Os investimentos previstos pela empresa neste ano, tanto no Brasil quanto no exterior, devem somar R$ 1 milhão.
Os juros do consignado variam de acordo com a instituição financeiras e o número de parcelas. As parcelas podem variar de três a 96. Já as taxas, vão de 1,72% a 2,53% mensais.