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Estado de Minas

Encalhe de produtos do fim de ano atrasa novos investimentos no comércio em BH

Passado um mês e meio do Natal, o peru ainda está nas prateleiras


postado em 13/02/2017 06:00 / atualizado em 13/02/2017 09:03

Estrela do Natal, os perus ainda estão nas prateleiras(foto: Jair Amaral/EM )
Estrela do Natal, os perus ainda estão nas prateleiras (foto: Jair Amaral/EM )

Passado um mês e meio das festas de Natal e ano-novo, a estrela do jantar, o peru que os lojistas encomendaram com esperança de ver logo a recuperação da economia brasileira, ainda pode ser encontrado no comércio de Belo Horizonte, agora aos módicos preços de R$ 3,90 a 7,98 o quilo, dependendo do estabelecimento pesquisado. A oferta surpreendente aos olhos do consumidor nada tem de estratégia localizada para desovar as sobras de dezembro. Os estoques do comércio em geral e os da indústria brasileira estão, de novo, mais altos que o desejado neste começo de ano, com a frustração das metas de vendas no fim de 2016.

Isso significa atrasar a volta dos investimentos na renovação das prateleiras e na produção industrial, adiando o cenário de recuperação dos dois setores e da economia.

Com volumes de produtos finais além do planejado em 29,5% das empresas do comércio no mês passado, a consequência é que caiu 1,7%, na média nacional, a intenção dos comerciantes de investir nas mercadorias nas lojas, de acordo com pesquisa feita em janeiro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O crédito barateou e o governo fala grosso para tentar reduzir os juros nas compras a prazo, mas o cliente não parece ter arredado o pé da cautela na hora das compras.

A proporção de empresas com sobras além do planejado não só superou o percentual de 29,3% em dezembro como provoca preocupação maior tendo em vista o esforço intenso que o setor vem fazendo nos últimos três anos para manter os estoques já ajustados à demanda de um país em crise, reduzindo gastos e evitando prejuízos, observa a economista Izis Ferreira, da CNC. Tanto é assim, que houve queda desse universo de abril de 2016, quando elas representavam 34,4% do comércio, a agosto (30,9%) e de outubro (31,1%) a dezembro (29,3%).

“Ainda que o comércio esteja mais enxuto devido à redução dos volumes das vendas, ainda é alto o percentual de comerciantes que reportaram estar estocados. A gente não enxerga uma recuperação das vendas antes de meados do ano”, afirma Izis Ferreira. A CNC consultou 6 mil empresas no país para avaliar a situação dos indicadores do setor, que compõem também o índice de confiança divulgado pela entidade.

Os negócios do comércio caíram 8,8% de janeiro a novembro de 2016 no país, quando é considerado o conceito ampliado do comércio, que adiciona ao varejo em geral as revendas de veículos e componentes automotivos e as de material de construção civil. Esse é dado mais recente disponível da Pesquisa Mensal do Comércio, feita todo mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

BELEZA SALVA O comércio de cosméticos é o único segmento do setor que não tem perdido vendas em meio à crise econômica, segundo Marco Antônio Gaspar, comerciante do ramo de papelaria e vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). “O consumidor teme comprar e ficar desempregado amanhã”, diz. Os estoques altos explicam, como ele destaca, o grande número de liquidações que o consumidor tem visto neste ano em Belo Horizonte.

A pesquisa da CNC indicou em janeiro que as sobras de produtos finais passaram do nível planejado pelas empresas até mesmo em atividades que trabalham com itens essenciais de consumo, a exemplo dos supermercados. Nesse grupo, dos chamados produtos não duráveis, que inclui farmácias, drogarias, lojas de cosméticos e perfumaria, 27,4% das empresas começaram 2017 com estoques acima da situação considerada adequada. Embora abaixo do que foi verificado em janeiro do ano passado, ainda se trata de um percentual indesejavelmente elevado.

QUEIMÃO O cliente atento percebe as promoções na tentativa de zerar o estoque, como verificou a reportagem do Estado de Minas. Na rede Carrefour, a meta é por fim a todo o estoque de produtos natalinos nos próximos 10 dias, portanto antes do feriado do carnaval, informou o gerente de uma das lojas situadas no Bairro Santo Antônio, Zona Sul de BH, João Nascimento Leite. Nas gôndolas do estabelecimento, o consumidor ainda encontrou na semana passada aves, panetones e chocotones, todos em promoção.

A expectativa é de que os preços cairão ainda mais a partir desta semana. Se às vésperas do Natal, o quilo das aves típicas custava R$ 16, em média, durante a semana passada o peru Perdigão era ofertado a R$ 3,98 o quilo. A ave supreme, da Sadia, era vendida a R$ 5,98 e o panetone Visconti teve o preço reduzido de R$ 29,39 para R$ 9,99. As frutas secas tiveram redução de 30% no preço.

“Estamos nos preparando para um queimão antes do carnaval. Hoje não é mais viável devolver o produto. É melhor baixar os preços”, explica João Nascimento. Ele estima que as vendas de dezembro tenham sido 30% menores em 2016, no comparativo com o mesmo período o ano anterior. Nos supermercados Verdemar, para chamar a atenção do consumidor, os preços eram anunciados, na semana passada, em “oferta superespecial”: o quilo do peru temperado Sadia era oferecido por R$ 3,98 e o peru Sadia Fácil saía a R$ 6,98 também por quilo. Na rede SuperNosso, o quilo da ave fiesta Seara era vendido a R$ 9,90, em “oferta especial”. O quilo do chester Perdigão custava R$ 5,99, e o quilo do peru temperado, R$ 5,98.


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