A despeito da crise da economia brasileira, os supermercados de Minas Gerais pretendem investir cerca de R$ 400 milhões em 2017, segundo levantamento feito pela Associação Mineira de Supermercados (Amis) e divulgado ontem. A intenção das redes é pavimentar o caminho que poderá permitir taxa de crescimento superior àquela que elas apuraram em 2016, de 1,26%. Elas trabalham com um desempenho, neste ano, próximo de 2% superior ao do ano passado. Ainda de acordo com a Amis, o aporte financeiro previsto pelas empresas deve levar à abertura de 56 lojas no estado e viabilizar reforma e ampliação de outras 70 unidades.
As previsões de recuperação da economia deixam o setor bastante otimista. As estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) entre 0,5% e 1%, melhoria no nível de emprego e queda da inflação e da taxa Selic tem deixado os empresários esperançosos. A taxa Selic, juro básico da economia, remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio.
Os investimentos anunciados superam os R$ 372 milhões aplicados em 2016, quando 62 lojas foram abertas e 55 passaram por reforma. O número de empregos, contudo, foi maior, de 6,2 mil oportunidades, frente a projeção para 2017. Claret Nametala afirma que os empresários esperam contar com esses indicadores melhores, mas também não têm tido medo de investir. “O setor tem demostrado segurança muito grande.
As redes mineiras estão apostando no crescimento, não só na capital, mas no interior. O que mostra a confiança dos empresários”, afirma. Atualmente, Minas Gerais é o segundo maior mercado supermercadista do país, atrás apenas de São Paulo. A participação mineira no setor nacional foi de 10,5%. Em 2016, o crescimento de vendas de 1,26% rendeu faturamento de R$ 33,9 bilhões ao setor.
De acordo com Claret, o desempenho reflete a capacidade que o setor tem mostrado de superar os desafios impostos pela recessão que o país enfrentou nos dois últimos anos. Nesse período, o PIB brasileiro encolheu 3,8%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e 3,3% com base na projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI). O último ano em que os supermercados apresentaram índices negativos foi em 2011. Na época, o setor encolheu 0,20%. Desde então, mesmo com o crescimento mais tímido, não foi registrado encolhimento.
Estratégias
Para driblar os efeitos da recessão, como observado em outros setores da economia – em 2016 a produção industrial em Minas Gerais recuou 6,2%, de acordo com dados do IBGE -, os empresários do setor supermercadista apostam em algumas estratégias. Entre elas, está a aproximação do cliente. “As redes têm procurado estar cada vez mais com as lojas próximas do consumidor. Estudos mostram que os clientes têm optado por dar preferência para quem está mais perto dele”, conta o superintendente da Amis.
Essa nova postura do consumidor tem feito com que as redes de supermercado deixem de investir naquelas lojas maiores e mais centrais e avancem, inclusive, para locais mais distantes, no entanto, dentro dos bairros, diferentemente da política adotada em anos anteriores. Outra observação feita por Claret Nametala está relacionada à expertise dos supermercadistas de estarem sempre atentos ao que os clientes estão buscando. “Não adianta eu ter o mix de produtos e marcas que eu acho ser melhor. É o consumidor que tem que encontrar ali o que ele quer”, alerta.
Além disso, as redes, principalmente as da capital, têm investido na expansão nas cidades do interior do estado. “Cada vez mais tem se encontrado boas lojas, inclusive nas cidades menores. Isso ajuda o empresário a ter bons rendimentos”, destaca Claret.
Como desafios do setor, o superintendente da Amis acredita ser necessário que o empresário fique atento aos custos e tenha sempre alternativa de marcas. Cada vez mais, o consumidor tem buscado marcas alternativas, até para tentar equilibrar orçamento doméstico, e o empresário deve ficar atento a isso também, além de entender bem o local onde ele está inserido. “Têm que ficar com os dois olhos no consumidor”, disse. As regiões do Triângulo e Centro-Oeste foram as que apresentaram maior crescimento de vendas em 2016, com base no levantamento da Amis. Já o desempenho mais baixo foi observado na Zona da Mata.
De portas fechadas
Rio de Janeiro – Com o agravamento da crise no ano passado, o varejo brasileiro amargou fechamento de 108,7 mil lojas a mais que aquelas abertas, com vínculo empregatício em todo o país. Foi o pior resultado da série histórica desde 2005, quando o comércio varejista encerrou saldo líquido positivo de mais de 45 mil lojas abertas. Os dados foram divulgados ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A entidade explica que, apesar de ter fechado 2016 com o mau resultado, a queda do número de lojas foi menos acentuada no segundo semestre do ano passado, o que pode ser um indício de que a economia está começando a dar sinais de recuperação.
No setor varejista, porém, essa recuperação é frágil, segundo o economista da CNC Fabio Bentes, que classificou 2016 como um ano para o setor varejista esquecer. “Foi mais um ano ruim para o setor. Foi ainda pior do que 2015 quando o número líquido de pontos de vendas fechados atingiu 101,9 mil, até então o pior resultado do setor. E o varejo é um setor intensivo de mão de obra”.
Pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, em 2015, o setor registrou o fechamento de 175 mil postos de trabalho, o pior resultado da série iniciada em 2004. Em 2016 o saldo negativo se agravou: foram fechados 282 mil postos de trabalho no varejo” acrescentou. Bentes afirmou que foi um ano em que o bolso do consumidor andou bastante surrado pela inflação alta, pela restrição ao crédito e pelo medo do desemprego, que acaba afetando as compras a prazo.
O estudo da CNC mostrou que todos os estados apresentaram queda no número de lojas, fato inédito em 12 anos de pesquisa. São Paulo foi o estado mais afetado, com o fechamento de 30,7 mil lojas, seguido do Rio de Janeiro, com 11,1 mil unidades fechadas e Minas Gerais, com o fechamento de 10,3 mil unidades.
Por categoria de empreendimento, as micro (-32,7 mil) e pequenas empresas (-39,6 mil) – que empregam até 9 pessoas e de 10 a 49 funcionários, respectivamente – foram as mais afetadas pela crise. Lideraram o fechamento de lojas os ramos de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-34,8 mil lojas), lojas de vestuário, calçados e acessórios (-20,6 mil) e lojas de materiais de construção (-11,5 mil).
“A falta de dinamismo no mercado de trabalho e o crédito mais caro e restrito explicam parte significativa das perdas de vendas nos últimos anos. E o termômetro mais dramático da crise que ainda assola o setor é o número recorde de lojas que fecharam as portas ano passado”, diz o economista da CNC. Na avaliação da entidade, depois de dois anos de fechamento líquido de pontos de venda em 2017, o número de lojas deverá apresentar estabilidade.