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Estado de Minas

Como o mercado local surfa na expectativa de R$ 330 milhões para o carnaval de BH

Ei, você aí, me dá um dinheiro aí!


postado em 19/02/2017 00:12 / atualizado em 19/02/2017 07:39

A loja de Fabiana Soares oferece produtos de artistas, designers e estilistas da cidade(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
A loja de Fabiana Soares oferece produtos de artistas, designers e estilistas da cidade (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

A despretensiosa marchinha Me dá um dinheiro aí, composta pelos irmãos Ivan, Homero e Glauco Ferreira, acompanha os foliões há quase seis décadas. Em pleno 2017, a música mantém como nunca sua atualidade em Belo Horizonte, onde o carnaval ganha corpo, aquece o comércio e movimenta a economia. A estimativa é de que a festa momesca gere uma bolada à capital superior a R$ 330 milhões, segundo a Prefeitura de BH. Afinal, não é só de folião que vive o carnaval. Em torno da festa mais aguardada do ano estão comerciantes ávidos por oportunidades de faturar, músicos, autônomos, vendedores ambulantes, costureiras e toda uma cadeia produtiva de gente que ganha com a folia.


Para essa turma que transforma a festa num negócio lucrativo, as exigências cresceram neste ano em que o carnaval de BH mostra ter superado a famosa folia de Salvador, só perdendo para o do Rio de Janeiro e o de São Paulo. A novidade é que a criatividade e a irreverência carnavalesca abriram alas para a inovação na cidade. “O carnaval colocou uma galera criativa muito próxima. Foi uma cola importante para movimentar o cenário criativo da cidade”, destaca a diretora-executiva da Mooca, Fabiana Soares. A loja, que reúne produtos de designers, arquitetos, estilistas e mentes criativas em geral, todos produtores de BH, surgiu por causa do carnaval, quando Fabiana e sua sócia, Marina Montenegro, se conheceram.

Às vésperas da festa de Momo, o local está cheio de artigos carnavalescos feitos por gente que curte a folia em BH. De adereços para cabeça a adesivos, maiôs brilhantes e fantasias, os preços variam de R$ 10 a R$ 200. A procura tem sido grande, segundo Fabiana. “Depois que o carnaval de BH voltou, pessoas começaram a fazer fantasias e vender. Antes, o que existia era pontual”, comenta.

Pela primeira vez, as amigas Ana Luiza Gurgel e Marina Ruas, ambas de 20 anos, vão passar o carnaval em BH. Assíduas à folia de Itabirito, na Região Central do estado, elas, agora, se renderam à fama da festa na capital. “Vamos ficar aqui porque está bombando”, diz Marina. Elas vasculham as lojas da Savassi, na Zona Sul da capital, atrás de uma produção impecável para o carnaval. Na sacola, reúnem meias coloridas, suspensórios, brilhos e outros badulaques. “Vamos todas iguais, cada uma de uma cor diferente. Deu R$ 50 por fantasia”, conta Ana Luiza.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG) considera o carnaval de BH uma nova oportunidade de fazer negócios. “Antes, empresários eram acostumados com uma movimentação ínfima. Agora nem se compara. O carnaval está sendo acrescentado ao calendário do comércio como uma data boa, com a perspectiva de crescimento gradativo”, afirma a analista de turismo da Fecomércio MG, Milena Soares.

O crescimento da folia na cidade, que espera cerca de 2,4 milhões de foliões – sendo 500 mil turistas – atraídos pelos 350 blocos que saem pelas ruas e avenidas, tem animado os empresários. O comércio informal também está pulsando com o carnaval. A Belotur cadastrou quase 9 mil ambulantes para vender bebidas e adereços nos ensaios de blocos e nos quatro dias da festa.

A lua cheia que tanto brilha/ Não brilha tanto quanto o teu olhar
Carnaval é época para brilhar. O antropólogo Lucas Bezerra e a namorada dele, a arquiteta Fernanda Chagas, ambos de 26, levaram a canção à risca e tiveram uma ideia, literalmente, brilhante. A empresa prestadora de serviços Tele Glitter, criada neste ano pelos sócios, fornece purpurina, glitter, strass, tinta, cílios postiços e outros acessórios para o folião se produzir. Cada tubete de glitter custa R$ 5 e os pacotinhos de 100 gramas, R$ 10. As encomendas chegam de bicicleta no endereço do cliente.

“Pensamos em ajudar pessoas que não têm tempo de ir ao Centro da cidade para comprar esses produtos. È também uma ação para divulgar a Dizzy Express (cooperativa de entregas por bicicleta)”, conta Bezerra, surpreso com o sucesso do Tele Glitter. Os pedidos já foram encerrados, e em apenas duas semanas somam mais de 100 encomendas, sem contar camisetas e produtos dos blocos que estão sendo vendidos para ajudar os grupos que retomaram a festa momesca na capital mineira. O faturamento vai garantir os dias de folia.

Só não quero que me falte/A danada da cachaça
O ditado popular diz que “amor de carnaval não sobe a serra”, mas Matheus Vespúcio garante que a máxima não se aplica aos negócios de carnaval, que podem ser muito promissores sim, senhor. Na festa de 2015, o biólogo estava desempregado e resolveu preparar chupe-chupe turbinado com bebidas alcoólicas para ele e os amigos levarem durante a apresentação dos blocos. Acabou fazendo um pouco a mais e vendeu tudo. No dia seguinte, repetiu a dose e, em vez de gastar, voltou com R$ 200 no bolso.

Menos de um ano depois, Vespúcio já estava à frente da Tiki Bike. Numa bicicleta estilizada, ele vende sucos naturais, drinques na garrafinha e os famosos chupe-chupes, com ou sem álcool. “Há um ano e três meses vivo disso. É profissional, é minha vida”, ressalta. As expectativas para o carnaval estão altas, com a previsão de faturar pelo menos R$ 8 mil de hoje a 1º de março.

Nesse período, Vespúcio já contratou a prima e ainda conta com a ajuda da noiva e do pai na produção das bebidas, que misturam maracujá e cachaça, catuaba e morango e os tradicionais mojito e sucos com vodca. Ele fechou parceria com o festival Carnavália, que será realizado no Parque das Mangabeiras. O único receio é em relação à venda nas ruas da cidade. Acordo entre a prefeitura e a Ambev, patrocinadora da festa momesca, limitou a comercialização de bebidas apenas às fornecidas pela Ambev. A exceção é a catuaba. “Vou assumir o risco. A prefeitura tinha que dar uma força para o produtor local”, reclama.


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